"Rabo de Peixe" foi uma das maiores febres de 2023. Não dizemos isto em vão: só no primeiro semestre de 2023, a série portuguesa da Netflix, criada por Augusto Fraga, somou globalmente 31,5 milhões de horas de visualização na plataforma de streaming e foi uma das 500 séries mais vistas nesse mesmo período de tempo. E parece continuar a dar frutos, já que foi renovada não para uma, mas duas novas temporadas.

Primeiro, em julho, a informação começou a circular graças à página de IMDb do projeto, mas só em outubro é que a Netflix o confirmou – continuando ainda, no entanto, sem data de estreia à vista. Embora sem poder revelar muito do que aí vem, tivemos oportunidade de falar com José Condessa, à margem de um evento d'O Boticário, em Lisboa, que deu à MAGG um vislumbre de como correram as gravações, entretanto finalizadas.

O ator, que interpreta Eduardo, p protagonista do enredo, revelou que regressar à personagem (algo que nunca tinha feito) foi um processo emocional e intenso. Depois de já se ter despedido do papel, o artista enfrentou o desafio de ressuscitá-lo, uma experiência gratificante e exigente – e para a qual a imersão nas paisagens e na cultura açoriana, onde a série se passa, o ajudou a elevar a narrativa a um novo patamar.

Afinal, José Condessa admite que despedir-se de uma personagem nunca é fácil, especialmente quando diz respeito a papéis tão intensos e emocionalmente marcantes, como é o caso deste jovem pescador da ilha de Rabo de Peixe. Essa ligação emocional acaba por influenciar o seu trabalho, tornando o processo de libertar a personagem um exercício de desapego e de preparação para novas histórias.

Como se isso não bastasse, o ator admite que o sucesso da primeira temporada adensou o sentimento de responsabilidade todos, fazendo com que se esforçassem a criar uma narrativa ainda mais sólida e envolvente. Tanto assim é que, para o artista, a segunda temporada está ainda melhor do que a primeira. Mas este não é o único projeto entusiasmante que tem em mãos.

O ator garantiu que está a escrever uma série com Augusto Fraga, com quem estabeleceu uma amizade muito grande no decorrer das gravações de "Rabo de Peixe". Contudo, é um projeto que, por enquanto, está na gaveta, visto que as segunda e terceira temporadas da série da Netflix assim o obrigaram.

A par disto, esta quinta-feira, 14 de novembro, foi tornado público que o ator vai protagonizar "Honeyjoon", a comédia dramática independente que venceu o prémio "Untold Stories" do Tribeca Festival 2024, em Nova Iorque. Escrita e realizada por Lilian T. Mehrel, o filme será rodado ainda este outono em São Miguel, nos Açores, e vai contar também com nomes como Ayden Mayeri e Amira Casar.

Trata-se de uma coprodução entre os Estados Unidos e Portugal e será produzida pela Wonder Maria Filmes, vai estrear na edição de 2025 do Tribeca Film Festival. Embora José Condessa não tenha falso sobre esta tema aquando da entrevista, realizada a 30 de outubro, no âmbito do evento d'O Boticário, eis o que o ator tem a dizer sobre os outros temas.

Leia a entrevista

Como correram as gravações das novas temporadas?
Correram muito bem. A expectativa era muito alta para nós e para a equipa toda. Depois do sucesso da primeira temporada, não é fácil ter esse peso às costas, mas é uma coisa que nos desafiou muito. E acho que, desde o início da escrita da segunda temporada à execução, ficámos todos muito satisfeitos porque nos fomos surpreendendo.

E acha que a segunda temporada vai ser igualmente impactante?
Acho que temos uma segunda temporada mais forte até que a primeira – acredito eu. Está mais bem construída, na minha opinião. Por isso, acredito que o sucesso vai ser igualmente bom.

E quais foram os maiores desafios que teve ao reencontrar o Eduardo? 
Não foi nada fácil, porque foi a primeira vez na minha vida que eu tive de voltar a uma personagem que já tinha interpretado, voltar a uma vida da qual já me tinha despedido – até porque nós não sabíamos se ia haver uma segunda temporada. Então, o luto que tu, como ator, tens de fazer é sempre exigente, porque dás muito de ti durante tantos meses. Por isso, voltar a ressuscitá-lo foi muito gratificante.

O que é que fez para voltar a pôr-se nos pés da personagem?
Tive de voltar a ver o trabalho que foi feito e voltar à ilha [de Rabo de Peixe]. Assim que volto à ilha, àquelas pessoas, àquela história, as coisas começam a voltar devagarinho. Por isso, foi difícil, mas foi muito bom.

Falou de luto. Tem muita dificuldade em conseguir despedir-se das personagens que interpreta?
Sim, um bocadinho... (risos)

Mas é assim com todas as personagens?
Acho que depende da personagem em si, da história, da importância que teve para mim e da vivência que a personagem tem ou não na história. Quanto mais são emocionais ou sofridas são, para mim, como ator, é muito mais difícil dizer-lhe adeus. Não é por pena, como é óbvio, mas é por sentir que há ali um colo que a personagem também precisava. Mas pronto, é um processo que precisamos de fazer e ter uma personagem nova ajuda-nos a focar numa coisa nova, mas, sim, desde sempre que tenho essa dificuldade em desprender-me.

Há pouco, falava também sobre o regresso da série ser imprevisível, tratando-se de uma produção da Netflix. De repente, é renovada não para uma, mas duas temporadas. Como é que se gere isso?
É maravilhoso. É prova de que, realmente, a série foi muito bem sucedida – ou seja, uma série ser renovada para duas novas temporadas como foi, na altura, quando ainda tínhamos poucas semanas da estreia e já se estava a exercer o direito à segunda temporada, prova que estamos a fazer alguma coisa certa.

Sente-o como uma vitória?
Acima de tudo, como português e como ator, deixa-me muito contente, porque acaba por ser a primeira grande série portuguesa mundial –  acho que não é desprimor para nenhuma outra série dizer isto. E deixa-me orgulhoso, porque não sinto que seja uma vitória apenas pessoal, nem só do grupo que fez "Rabo de Peixe". Sinto que é uma vitória da ficção nacional também, que cada vez mais vai conseguir trazer mais público internacional de modo a que se queira fazer.

Esperava que "Rabo de Peixe" fosse o sucesso indiscutível que é? Ou foi difícil de prever?
Sabíamos que, de certa forma, ia ser uma coisa que ia agradar ao público. O sucesso tu nunca medes, porque não sabes como é que vai correr. Pode correr muito bem, como pode correr menos bem em termos de números, mas ser igualmente uma grande série. O sucesso não é palpável ao início, é imprevisível, porque está sempre dependente de as pessoas irem partilhando, irem falando. Principalmente uma série portuguesa no meio de outros tubarões, que é a Netflix mundial, com séries espanholas, francesas e da América Latina. Quando estreámos, a avalanche de mensagens fazia notar que ia ser um grande sucesso.

Sei que é quase como obrigar um pai a escolher um filho, mas tenho de perguntar. Agora que tem teatro, novelas, como a "Cacau", que está a chegar ao fim, séries da Netflix no seu currículo, o que mais gosta de fazer?
É difícil, é muito difícil (risos). Eu sinto que, como ator, preparo-me de forma diferente para cada um deles. Teatro é uma coisa que me diz muito, porque acaba por ser a minha formação e a minha base – e eu não consigo deixar de fazer teatro –, mas tenho-me fascinado cada vez mais com séries e com cinema, porque acho que consigo explorar um lado de mim, como ator, de ir ao pormenor, à base do olhar, que em teatro não conseguimos explorar, temos de falar com o corpo todo. A mim desafiam-me essas pequenas dificuldades, que são boas.

E projetos futuros? O que é que pode revelar?
Então, o que posso dizer (risos)... Há um projeto sobre o qual acho que já falei e que tenho guardado há algum tempo, mas estou a trabalhar para vir cá para fora, que é uma série que estou a escrever com o Augusto Fraga. Por causa das gravações das novas temporadas de "Rabo de Peixe" tivemos de parar, mas continuamos muito entusiasmados.