Em meados de 2001, faltavam 16 anos para a origem do movimento #MeToo e, com ele, a exposição e queda dos primeiros culpados por assédio e abuso sexual. Seria no ano seguinte, em 2002, que Nevenka Fernández, na altura com 26 anos, ficaria conhecida por se tornar na primeira mulher a denunciar um político espanhol e a vê-lo condenado em tribunal por conduta sexual imprópria. A sua história é recuperada agora no novo documentário da Netflix de apenas três episódios.
"Nevenka: Assédio Sexual em Espanha", assim se chama a nova produção, recupera o caso que envolveu o então presidente da Câmara Municipal de Ponferrada, em Espanha, apoiado pelo Partido Popular, Ismael Álvarez, e da primeira mulher que teve a coragem de dizer "basta". O preço, porém, foi alto demais.
É em 2001 que, depois de eleita para assumir funções no município, Fernández começa a contactar de perto com o governante até assumirem um relação de curta duração.
Foi quando Nevenka decidiu terminar o caso que, sabe-se agora, Álvarez, descontente com a decisão, perseguiu-a e fez da sua vida "um inferno", tal como esta revelou à imprensa a 26 de março de 2001, altura em que tornou pública a sua denúncia. Nesse anúncio, decidiu afastar-se da Câmara Municipal de Ponferrada, explicando os motivos, e indicando a intenção de denunciar o atual presidente por assédio.
Sera a primeira vez que, em Espanha, um político era acusado de conduta sexual imprópria e levado a tribunal por isso. Ainda que tenha sido condenado a uma pena mínima (o pagamento de uma multa de 6.500 ao Estado mais 12 mil euros por danos morais), Álvarez negou sempre as acusações e nunca perdeu a sua base de apoio.
Já Nevenka Fernández, por sua vez, foi ostracizada: perdeu o apoio do partido e amigos, a sociedade espanhola da altura nunca acreditou na sua versão dos eventos e a pressão mediática fê-la mudar-se para Madrid. Em Espanha, no entanto, nunca conseguiu encontrar trabalho por estar associada ao caso e foi obrigada a mudar-se novamente — desta vez para Londres.
Em apenas três episódios "Nevenka: Assédio Sexual em Espanha" recorda o caso e as consequências para esta mulher, agora com 46 anos, pondo em evidência a descrença social que se atribuiu ao testemunho de uma mulher que se diz vítima de assédio ou abuso sexual.