O OnlyFans foi lançado em 2016 como um serviço de conteúdo por subscrição. Como o nome indica, este conteúdo é só para os fãs, no caso os que estão dispostos a pagar para ver mais. Hoje em dia, predominam na plataforma fotografias e vídeos de cariz sexual.

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Falámos com um especialista em redes sociais na tentativa de entender o crescimento de utilizadores desta aplicação (521% entre 2019 e 2021, de acordo com o site Statista), bem como com uma produtora de conteúdos, para percebermos como funciona a plataforma. De acordo com Paulo Rossas, o OnlyFans tornou-se uma plataforma de visualização de conteúdos ligados ao sexo também por estes serem produzidos por pessoas aleatórias e amadoras.

E como "amigo chama amigo", a adesão foi crescendo, tanto por parte dos fãs como pelos vendedores, bem como o profissionalismo. Em 2019 existiam apenas 100.000 criadores. De momento, são mais de dois milhões registados e quase 200 milhões de fãs.

Em 2021, estes fãs gastaram quase cinco mil milhões de euros na plataforma, que é já uma das mais bem sucedidas a nível financeiro dos últimos anos, como divulga o "The Guardian". "O OnlyFans funciona porque podes falar com a pessoa diretamente. Podes fazer videochamadas, pedir para tirarem certas fotografias", explica o especialista em redes sociais.

"Nenhuma plataforma é segura. Nós não controlamos nada nas redes sociais"

O primeiro contacto de Paulo Rossas com esta plataforma aconteceu no Twitter, quando se apercebeu de que alguns internautas escreviam coisas como "vê o meu OnlyFans". Curioso, foi pesquisar, e apercebeu-se de que "que era uma plataforma onde as pessoas pagavam para ter mais conteúdo, muito parecida com o Patreon".

Só que esta plataforma "tornou-se um problema" quando menores começaram a utilizá-la "para ganhar muito dinheiro sem os pais saberem". Na tentativa de o resolver, começaram, há cerca de dois anos, a controlar as idades dos utilizadores, pedindo uma fotografia em modo selfie e o cartão de cidadão. "Antes não era assim. Valia tudo", relembra o especialista.

Para levantarem o dinheiro feito através da aplicação, o perfil tem de ser verdadeiro e possuir uma conta num banco. Se a identificação for falsa, não conseguem usufruir da remuneração. Ainda assim, Paulo Rossas acredita que "nenhuma plataforma é segura" e que "nós não controlamos nada nas redes sociais". "É preciso ter muito cuidado", alerta.

Paulo Rossas
Paulo Rossas é especialista em redes sociais. créditos: Facebook

A pandemia da Covid-19 representou uma explosão no OnlyFans. "Os trabalhadores do sexo começaram a apostar mais no OnlyFans, pensaram 'vou ganhar aqui um extra', o que causou uma mini revolução, já que concedeu autonomia a quem se dedica a esta atividade, porque há mais controlo, não há proxenetas e até pode dar mais dinheiro", referiu o especialista de 40 anos.

"A remuneração depende do esforço. Se fizeres uma fotografia por dia ganhas 10, 15 mil euros por mês"

Quem não pertencia a esta indústria ficou aliciado. "Estou em casa, não tenho nada para fazer. Não trabalho, não tenho formação. Como posso ganhar dinheiro? A resposta é OnlyFans", deduz Paulo Rossas, explicado que a plataforma concede 80% do que as pessoas pagam ao criador de conteúdos. "É demasiado tentador", considera, comparando com os salários em Portugal.

"A remuneração depende do esforço. Se fizeres uma fotografia por dia ganhas 10, 15 mil euros por mês", garante o especialista, que conta que, desde a pandemia, esta plataforma "cresce 200 mil utilizadores por dia". "Dá uma estrutura de rede social, mesmo não sendo. Eu entro, inscrevo-me, pago e vejo", adianta o Chief Innovation Officer da Lisbon Digital School.

Aos 43 anos, Patrícia Kiss recebe "bom dinheiro" graças ao OnlyFans. "Daria para viver só disso", garantiu-nos, sem entrar em pormenores quanto aos valores. A subscrição ao perfil privado da influencer brasileira tem o custo de 30€ por mês e inclui fotografias e vídeos, mas não é a sua única ocupação profissional.

Além de vender conteúdo na Internet, dedica-se ao ramo imobiliário, mais concretamente a projetos de reabilitação de prédios, e escreve livros, sendo que está a preparar-se para lançar o quinto, "Super Millionaire", sobre como é possível ter dinheiro e amor em simultâneo. "O OnlyFans foi uma coisa onde eu entrei como brincadeira, mas é uma brincadeira que dá dinheiro", nota.

A brasileira era bastante incentivada pelos seguidores a juntar-se ao "OnlyFans", mas só o fez depois de vencer uma "certa resistência" e de ser convidada pela plataforma. "Algumas pessoas diziam que era de pornografia, mas, aos poucos, comecei a analisar e a perceber que não era bem assim", avisa.

"Estabeleçam limites e tentem pensar mais além. Não o façam só por dinheiro"

"É para os teus fãs e tu és o teu próprio chefe. Se queres fazer topless ou pornografia, isso é uma opção pessoal. Eu só faço nus artísticos, não completos. É muito light, tal como no Algarve se vê gente em topless. Cada criador tem o seu limite", explica à MAGG a brasileira de 43 anos, que agora mora em Lisboa.

Patrícia Kiss, nome artístico, entrou no OnlyFans há mais de um ano e já tem quase mil seguidores. Quando começou, "era um mundo desconhecido, uma novidade". Descobriu que modelos, cantores, artistas, atletas e personalidades do entretenimento também tinham perfis. "Há gente de todas as idades. A maior parte são jovens adultos, mas também há pessoas mais velhas", afirma.

Patrícia Kiss
Patrícia Kiss utiliza o OnlyFans para vender fotografias e vídeos em nus artísticos. créditos: Instagram

"Não se sabe quem está atrás do visor. Podem ter nomes fictícios", recorda a empresária, que nunca se encontrou pessoalmente com nenhum dos fãs e que recebe "todo o tipo de pedidos que se consiga imaginar", desde sexo à realização de fetiches. "Há pessoas que encaram isto como profissão única. Eu não. Faço agendamento dos conteúdos. Não sai todos os dias, mas tento estar ativa e responder às mensagens", elucida.

Com estes fãs, consegue manter "um contacto mais íntimo". "Quando és assinante, consegues falar, trocar ideias e formar uma amizade", disse à MAGG. Ainda assim, tal como assegurou o especialista em redes sociais, "não tem segurança". "Apesar de eles ajudarem e de terem um suporte técnico, infelizmente não existe uma forma de impedir o vazamento", acredita Patrícia.

A brasileira queixa-se que, de forma "constante", o conteúdo é retirado do OnlyFans e exposto, de forma gratuita, noutras redes sociais, como que republicado. "O meu conselho é: nunca publiquem nada de que um dia se vão arrepender. Estabeleçam limites e tentem pensar mais além. Não o façam só por dinheiro", avisa.

Limites esses que Patrícia Kiss impôs desde cedo, e por isso é que não chega a captar imagens totalmente nua. "Não me agradaria fazer isso. Não me sentiria bem comigo, com a minha família, com o meu companheiro. Não quero fazer nada que, mais adiante, me venha a pesar", esclareceu.

A utilizadora do OnlyFans explicou à MAGG que, para fazer dinheiro com a plataforma, é preciso efetivamente ter fãs. "Ter pessoas que te seguem e que querem ver mais de ti. Não basta ter um bom conteúdo. Se não tens fãs, não vais vender nada. Primeiro deves crescer nas redes sociais", aconselha.

"Não podemos fechar o OnlyFans só a sexo"

"Ao ver filmes pornográficos não é possível falar com aquela pessoa. No OnlyFans, se pagar, consigo falar. Esta oportunidade gera muito dinheiro", frisa Paulo Rossas. "Aqui, tenho um próximo passo. Posso apaixonar-me por esta pessoa. Ela não é inalcançável", reforça, adiantando que "não podemos fechar o OnlyFans só a sexo" e lembrando a existência de áreas como beleza e fitness na plataforma.

A subscrição mensal varia entre os 5 e os 50€. Com esse dinheiro, o utilizador decide o que quer comprar e a quem. "Pagas 5€ para ver todas as imagens que alguém publica. Com 50€ podes ver os vídeos", por exemplo, sendo que "quem paga é que decide se o conteúdo é bom ou mau".

80% dos utilizadores do OnlyFans são homens. Há 200 mil pessoas a registar-se por dia nesta plataforma que tem tido milhões de visitas todos os meses (em janeiro foram quase 40 milhões, como mostram as estatísticas). Em média, cada um passa lá cinco minutos, o que "para um site é incrível". A maior faixa etária é a que se situa entre os 25 e os 34 anos, "a geração mais apetitosa para as marcas", crê este formador e consultor.

Portugal não está no top 5 de países com mais visitas dos últimos meses. O primeiro são os Estados Unidos da América, com 43% de todo o tráfego e uma larga vantagem sobre o segundo classificado, o Reino Unido, com 6%. Depois, surge o Canadá com 5%, a Austrália com 3% e a Alemanha com 2%.

Para Paulo Rossas, o OnlyFans veio abrir uma porta. "Durante muitos anos, as marcas tornavam pessoas famosas. Hoje, funciona ao contrário: as pessoas tornam as marcas famosas", reflete. "Porque vou estar a criar o meu conteúdo em redes em que me dão uma percentagem dos lucros se posso pegar no que faço, meter no OnlyFans e receber mais?", questiona o especialista, que acha que "quem ganha este jogo são os criadores".

Qual será o futuro desta plataforma? "Isto é de ciclos. O Facebook era incrível e deixou de ser. Passou a ser o Instagram, mas depois veio o TikTok. Enquanto for moda toda a gente ganhar lá dinheiro e enquanto as pessoas estiverem dispostas a pagar, vai continuar a existir. Depois, há-de haver outra", acha Paulo Rossas.