A 78.ª gala dos Globos de Ouro decorreu com os constrangimentos habituais e, talvez, expectáveis que uma pandemia impõe. Na madrugada desta segunda-feira, 1 de março, a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA, na sigla original) premiou aquilo que considerou terem sido os melhores filmes e séries de 2020, num evento marcado por alguns problemas técnicos e pelo fantasma da reportagem assinada pelo "Los Angeles Times" e publicada uma semana antes do evento.
Na peça, o jornal cita várias fontes ligadas à indústria do entretenimento que acusam a associação de perpetuar uma "cultura de corrupção" ao permitir que vários membros receberam quantias avultadas de dinheiro sem que a sua origem seja conhecida. Mais: num quadro composto por 87 membros, não há registos de que haja uma única pessoa negra a fazer parte da HFPA, numa altura em que se pede mais representatividade.
As acusações obrigaram a associação a reagir durante o evento. "Ainda que, durante esta noite, estejamos a celebrar o trabalho de vários artistas espalhados pelo mundo, reconhecemos que nós próprios temos algum trabalho para fazer. Tal como no cinema e na televisão, a inclusão de pessoas negras é vital e, por isso, temos de ter jornalistas negros na nossa organização. Temos de ser capazes de garantir que todos aqueles que vêm de comunidades subrepresentadas também têm um lugar à mesa", ouviu-se num discurso partilhado entre Helen Hoehne, Meher Tatna e Ali Star, o topo da hierarquia que sustém a HFPA.
Mas antes disso, já Tina Fey e Amy Poehler, que voltaram a assumir a condução do evento, ainda que à distância, tinham abordado a polémica no monólogo inicial. "Todos sabemos que os programas de entrega de prémios são estúpidos. A questão é que, mesmo com coisas estúpidas, o tema da representação e da inclusão são importantes. Percebo que a HFPA talvez não tenha recebido o memorando, mas têm de mudar", referiu Tina Fey. Ali Sar, o presidente da associação, concordou.
Abordado o elefante na sala, a gala arrancou com o início das premiações. Com nomeados e vencedores espalhados um pouco por todo o mundo, problemas técnicos foram a palavra-chave. Daniel Kaluuya foi o primeiro vencedor da noite na categoria de Melhor Ator Secundário pela sua prestação em "Judas and the Black Messiah" como Fred Hampton, líder dos Black Panthers.
A ligação instável e a falta de som nos discursos
Ainda que no seu discurso de vitória se visse os lábios de Kaluuya a mexer, quem acompanhou a gala em direto não ouviu som. O ator tinha o microfone silenciado, desconhece-se se por erro próprio ou da produção, e só depois de alguns minutos é que a sua voz seria ouvida.
Nos restantes discursos, era habitual ouvir-se atores e atrizes a perguntar se já podiam falar; se a ligação estava estável; e se o som estava percetível. Apesar disso, os incómodos técnicos não foram trágicos e rapidamente foram sendo ultrapassados à medida que surgiam numa noite de poucas surpresas ou polémicas.
Num evento marcado pelas habituais piadas de Tina Fey e Amy Poehler aos nomeados (a certa altura, a dupla disse que "The Undoing" era um mistério sexy e dramático em que o casaco de Nicole Kidman era suspeito de assassinar a sua peruca), o momento mais emocionante da noite terá sido quando a HFPA homenageou Chadwick Boseman, o ator de filmes como "Black Panther" e "Da 5 Bloods - Irmãos de Armas", com o Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator no filme "Ma Rainey: A Mãe do Blues".
O ator morreu em agosto de 2020, vítima de cancro do cólon. O prémio foi aceite pela mulher, Taylor Simone. "[Neste discurso de vitória] ele teria dito alguma coisa bonita e inspiradora. Alguma coisa que serviria para amplificar aquela pequenina voz que existe dentro de cada um de nós e que nos diz que conseguimos, que temos de seguir em frente. Não tenho as suas palavras, mas sei que temos de aproveitar todos os momentos para celebrar aqueles que amamos. Por isso, o meu obrigado à HFPA pela oportunidade de poder fazer isso mesmo", disse.
No resto do evento, Ben Stiller mostrou um bolo com a forma de um Globo de Ouro, que fez durante o confinamento; Jodie Foster agradeceu ao seu cão o prémio de Melhor Atriz Secundária pelo filme "The Mauritanian"; e Catherine O'Hara, vencedora na categoria de Melhor Atriz em Série de Comédia por "Schitt's Creek", teve de ser alertada pelo marido, através de sons estridentes no telemóvel, de que o seu discurso de vitória já ia longo.
Quanto aos prémios principais, "Nomadland" destacou-se no cinema. Na televisão, "The Crown" dominou nas categorias em que estava nomeada — arrecadando um total de quatro prémios.
Mostramos-lhe a lista completa dos vencedores da 78.ª edição dos Globos de Ouro.
Cinema
Melhor Realizador
- Chloé Zao ("Nomadland")
Melhor Filme de Drama
- “Nomadland”
Melhor Ator Principal em Filme Dramático
- Chadwick Boseman ("Ma Rainey’s Black Bottom”)
Melhor Atriz Principal em Filme Dramático
- Andra Day (“The United States vs Billy Holiday”
Melhor Filme de Comédia ou Musical
- “Borat Subsequent Moviefilm”
Melhor Ator em Filme de Comédia ou Musical
- Sacha Baron Cohen (“Borat Subsequent Moviefilm”)
Melhor Atriz Principal em Filme de Comédia ou Musical
- Rosamund Pike (“I Care a Lot”)
Melhor Ator Secundário (Qualquer Categoria)
- Daniel Kaluuya (“Judas and the Black Messiah”)
Melhor Atriz Secundária (Qualquer Categoria)
- Jodie Foster (“The Mauritanian”)
Melhor Argumento
- “Os 7 de Chicago”
Melhor Filme de Animação
- “Soul”
Melhor Filme Estrangeiro
- “Minari”
Melhor Banda Sonora
- “Soul”
Televisão
Melhor Série Dramática
- “The Crown”
Melhor Ator Principal em Série Dramática
- Josh O’Connor (“The Crown”)
Melhor Atriz Principal em Série Dramática
- Emma Corrin (“The Crown”)
Melhor Minissérie
- “Gambito de Dama”
Melhor Atriz Principal em Minissérie
- Anya Taylor-Joy (“Gambito de Dama”)
Melhor Ator Principal em Minissérie
- Mark Ruffalo "I Know This Much Is True”)
Melhor Série de Comédia ou Musical
- “Schitt’s Creek”
Melhor Atriz Principal em Série de Comédia ou Musical
- Catherine O’Hara (“Schitt’s Creek”)
Melhor Ator Principal em Série de Comédia ou Musical
- Jason Sudeikis (“Ted Lasso”)
Melhor Ator Secundário
- John Boyega, “Small Axe”
Melhor Atriz Secundária
- Gillian Anderson, “The Crown”