Na próxima edição dos Globos de Ouro, marcada para 28 de fevereiro, Tina Fey e Amy Poehler vão assumir a condução do evento pela quarta vez, desta vez sem público devida ao impacto da COVID-19 no país. Conhecidas pela postura carismática que mantêm em frente às câmaras, é a amizade de mais de 28 anos que as une profissional e pessoalmente.
O primeiro contacto entre ambas terá acontecido em meados de 1993, durante uma aula de representação de improviso no teatro ImprovOlympic, em Chicago, nos EUA. Foi, aliás, Charna Halpern, a responsável pelo teatro, que proporcionou o encontro. "Lembro-me de ela [referindo-se a Charna] me dizer que havia outra artista do improviso numa outra aula que lecionava e de quem eu provavelmente iria gostar muito. Chamava-se Tina e disse-me que era exatamente igual a mim, só que de cabelo castanho", recorda Amy Poehler que, na altura, tinha apenas 23 anos.
Foi nessa altura que, continua, Poehler terá recebido a primeira "lição de beleza" de Tina Fey. "Tinha cerca de 22 ou 23 anos e, na altura, só recentemente tinha aprendido que em vez de arrancar as sobrancelhas, podia pedir a alguém que usasse cera quente para remover o excesso e moldá-las", explica Poehler na sua autobiografia "Yes, Please", lançada em 2014.
A ligação a Fey, conta, foi instantânea. "Ela era incisiva, tímida e hilariante. Tínhamos aulas juntas e ficávamos sempre nos lugares mais atrás. Quando contracenávamos juntas, as cenas não eram particularmente engraçadas ou interessantes. Não havia absolutamente nada naquilo que fazíamos que pudesse indicar a alguém que alguma vez seríamos bem sucedidas numa carreira que envolvesse a comédia", escreve no seu livro.
Cerca de 28 anos depois, sabemos o quão essa ideia estava errada.
Do teatro para o "Saturday Night Live"
Em 1996, Amy Poehler muda-se de Chicago para Nova Iorque e cria o Upright Citizens Brigade East, um teatro especializado na comédia de improviso. Um ano depois, Tina Fey é contratada para escrever para o programa "Saturday Night Live", em emissão desde 1975, mas colaborando, esporadicamente, com a recém-formada companhia de teatro da amiga.
Agora a escrever para a televisão, Fey surpreende a equipa do programa e a administração do canal que rapidamente a promove a uma das argumentistas principais do formato.
E ainda que ambas colaborassem de forma mais ou menos regular nos projetos uma da outra, o grande objetivo de Tina Fey era convencer Amy Poehler a aceitar uma posição no "Saturday Night Live". Na sua autobiografia, "Bossypants", lançada em 2011, a humorista recorda que foram precisas inúmeras tentativas para convencer Poehler, que só se deixou persuadir em 2001.
"Quando consegui convencê-la, fiquei muito feliz. Lembro-me de pensar: 'A minha amiga está aqui, finalmente.' É que embora a minha presença no programa estivesse a correr bem, ter a Amy ao meu lado fazia-me sentir menos sozinha." A partir daquele momento, Tina Fey passaria a escrever para Amy Poehler, que estaria encarregue de protagonizar alguns do sketches mais hilariantes do formato.
Ao longo da participação no "Saturday Night Live", a carreira de ambas foi-se cruzando noutros projetos: em 2002, no primeiro filme, "Martin & Orloff", em que ambas representaram embora com participações relativamente pequenas; em 2004, no filme "Giras e Terríveis", escrito por Tina Fey e com presença de Amy Poehler no elenco; e em 2008, no filme "Vai Chamar Mãe a Outra", em que ambas partilharam o mesmo grau de protagonismo.
Mas nesta altura já ambas as atrizes e humoristas partilhavam o segmento "Weekend Update", do "Saturday Night Live", que desde 2004 que era apresentado, pela primeira vez, por duas mulheres. Seria quatro anos depois que ambas beneficiariam do mediatismo que as envolvia para interpretaram uma versão caricaturada da republicana Sarah Palin e de Hillary Clinton.
Os elogios públicos e ternurentos que ambas trocam em público
"O entusiasmo que havia pelo facto de ser a Tina a interpretar a Palin foi muito divertido de testemunhar. Ela pegou em tudo aquilo que esperavam dela e surpreendeu. Foi incrível de ver e, mais ainda, estar ao pé dela quando o fez", escreveu Amy Poehler na sua autobiografia, recordando o momento.
A troca de elogios entre ambas em público é uma das características que fazem da dupla uma das mais acarinhadas da indústria do entretenimento. Em 2015, por exemplo, Tina Fey teceu elogios sinceros à colega e amiga de vários anos.
"Diria que uma das tuas maiores conquistas, Amy Poehler, é o facto de teres usado a tua arte com tanto sucesso para criar comédia como uma fonte de positivismo no mundo. Quer através das Smart Girls [uma comunidade feminina online que reforça mensagens de amor-próprio e de aceitação], quer através da personagem Leslie [de "Park and Recreation"], com as quais sempre transmitiste boas visões do mundo."
Em resposta, Poehler também elogiou o percurso da colega, enaltecendo a capacidade de adaptação que Fey demonstrou ao passar do "Saturday Night Live" para outro projeto que escreveu e protagonizou.
"Uma das tuas maiores conquistas foi a forma como saíste do "Saturday Night Live", onde lideravas, para criar a série "30 Rock". É absolutamente difícil sair-se de um lugar onde eras tão bem sucedida e te sentias tão confortável para ires para outro projeto e fazer tudo com o mesmo grau de qualidade."
A presença assídua nas cerimónias de entrega de prémios
Foi em 2011, durante a gala dos Emmys, que Tina Fey e Amy Poehler garantiram que, a partir daquele momento, passariam a ser indissociáveis de cerimónias semelhantes. Aconteceu assim: Fey, Poehler, Melissa McCarthy, Marta Plimpton, Edie Falco e Laura Linney subiram ao palco à medida que os seus nomes eram anunciados como nomeadas ao Emmy na categoria de Melhor Atriz em Série de Comédia.
As atrizes deram as mãos, satirizando os habituais concursos americanos, e aguardaram o anúncio do prémio que, sabe-se agora, foi atribuído a Melissa McCarthy. Além do Emmy, McCarthy recebeu uma tiara, palmas, abraços e muito choro das atrizes em palco, considerado por muitos como um dos momentos mais icónicos da gala até agora.
Desde então, a dupla composta por Amy Poehler e Tina Fey, que orquestrou o momento, passou a marcar presença assídua em cerimónias do género. As duas apresentaram os Globos de Ouro entre 2013 e 2015, apresentaram um segmento nos SAG, em 2016, e outro nos Óscares, em 2019. Este ano terão, novamente, um evento inteiro só para elas.
Mas se as colaborações têm sido relativamente escassas, há uma explicação para isso, como revelou Tina Fey em entrevista à revista "Advocate". "Eu e ela [Amy Poehler] nunca falámos sobre isto, mas, e sobre a possibilidade de ainda não termos feito uma série juntas, a verdade é que ambas somos muito dominantes e gostamos de fazer as nossas próprias coisas e depois disso encontrarmo-nos ocasionalmente", explica.
E continua: "Aquilo que faz com que esta relação funcione é que desde o momento em que nos conhecemos, em Chicago, tivemos sempre um enorme respeito uma pela outra. Começámos na mesma companhia de teatro e fomos evoluindo como dois pequenos leões bebés que, de alguma forma, não tinham o impulso de atacar o outro mesmo que estivessem dentro da mesma jaula."
"Aquilo que torna tudo isto tão fantástico [referindo-se à amizade que a une a Poehler] é o facto de só nos vermos quando, efetivamente, estamos a trabalhar juntas, quer seja a fazer filmes como "Sisters" ou a apresentar os Globos de Ouro. Estamos sempre muito entusiasmadas em participar em qualquer que seja o projeto e espero que isso seja facilmente percetível nos trabalhos que fazemos juntas."
Mas ainda que não colaborem mais vezes juntas, ambas garantem que estão constantemente em contacto num grupo de chat do qual também fazem parte outras figuras importantes da vida das comediantes como Rachel Dratch, Ana Gasteyer, Paula Pell, Emily Spivey e Mya Rudolph.