"Uma vez, alguém disse 'o que vai restar depois de um holocausto nuclear será a Cher e as baratas'. E eu acho isso engraçado porque sou uma sobrevivente. Se sou alguma coisa, é isso". Em 2006, em entrevista à revista "Parade", Cher afirmava-se como alguém capaz de resistir a tendências, modas e também ao infortúnio.
Nascida na Califórnia a 20 de maio de 1946, Cheryl Sarkisian tem renascido, uma e outra vez, ao longo de mais de seis décadas. Os boomers conhecem-na do duetos com o então marido, Sonny. A geração X pelo êxito do final da década de 80 "If I Could Turn Back Yime", os millennials pelo hino dance pop "Believe", lançado no final da década de 90 e que, quase 20 anos depois, continua a ser um essencial das playlists.
E a prova de que Cher desafia a lógica da passagem do tempo chegou com o concerto de 50º aniversário do programa de humor "Saturday Night Live", emitido na sexta-feira, 14 de fevereiro, pela Peacock, plataforma de streaming da NBC. A atriz e cantora subiu a palco com uma indumentária muito semelhante à usada no videoclipe de "If I Could Turn Back Yime", há precisamente 36 anos. Bodysuit semitransparente, casaco de cabedal e a mesma energia que tinha aos 42 anos.
Veja o vídeo da atuação no concerto dos 50 anos do "SNL"
E o original de 1989
Ao longo da sua vida, Cher desafiou os cânones estabelecidos pela indústria do entretenimento. Em 1989, quando lançou "If I Could Turn Back Time", tinha 42 anos. Uma idade que, no final da década de 80, significava que a mulher já tinha passado o prazo de validade para "ser sexy". Há quase 40 anos, surgia num bodysuit transparente, nádegas à mostra, a cantar para as tropas a bordo do navio de guerra USS Missouri. O videoclipe gerou um escândalo à época e a MTV viu-se obrigada a emitir o teledisco depois das nove da noite, uma vez que o conteúdo era considerado inapropriado.
Se entrarmos na máquina do tempo e viajarmos até 1998, Cher tem 52 anos quando lança "Believe". Num ano dominado por artistas muito mais jovens, como Britney Spears, Christina Aguilera, Ricky Martin e Jennifer Lopez, Cher alcançou o nº1 dos singles mais ouvidos (e vendidos) de 1999. No Reino Unido, "Believe" continua a ser o single interpretado por uma artista feminina mais vendido de sempre. A canção foi percursora de um estilo de pop electrónico devido ao uso de tecnologia de distorção de voz, algo que seria, posteriormente, usado por outros artistas. E foi o tema que, ao fim de três décadas de carreira, deu finalmente a Cher um Grammy.
Com um Óscar no currículo por "O Feitiço da Lua", de 1987, o cinema também faz parte da multifacetada carreira da artista norte-americana. Participou em êxitos como "As Bruxas de Eastwick", "A Minha Mãe é Uma Sereia" ou "Reação em Cadeia". "Burlesque" e "Mamma Mia! Here We Go Again" são as mais recentes incursões de Cher na representação, a última das quais deu origem a um álbum de versões de êxitos dos ABBA e também uma digressão.
Sonny Bono, com quem casou em 1969, foi o seu primeiro marido e pai do seu primeiro filho. Com 11 anos de diferença, conheceram-se em 1962. Ela tinha 16 anos e ele 27, e estava a divorciar-se. O par aliou o amor ao trabalho e formaram o dueto "Sonny & Cher", um êxito na década de 60 que deu origem a um programa de televisão. Divorciaram-se em 1975 mas mantiveram uma relação amigável, que até deu origem a mais um programa de televisão, "The Sonny & Cher Show", em 1976. Chaz Bono (nascido Chastity), de 55 anos, ator e músico, além de ativista pelos direitos LGBTQ+, iniciou a transição de género no final da década de 2000.
Quatro dias depois de se ter divorciado de Sonny Bono, em 1975, Cher casou-se com o músico Gregg Allman e pediu o divórcio nove dias depois, devido aos problemas de consumo de álcool e drogas. O par reconciliou-se um mês depois e teve um filho, Elijah Blue, de 48 anos. No início de 2024, Cher deu entrada com um pedido de tutela de Elijah, devido aos problemas deste com álcool e drogas mas, em setembro, acabaria por desistir do processo.
O casamento com Allman foi o segundo e último de Cher. Em 2022, a cantora iniciou um relacionamento com o modelo e executivo musical Alexander “AE” Edwards, 40 anos mais novo. Depois de um hiato, em 2023, o par voltou a relacionar-se e, desde então, são inseparáveis.
Na emissão do 50º aniversário do "Saturday Night Live", as anfitriãs Tina Fey e Amy Poehler receberam questões de algumas das centenas de estrelas que encheram por completo o auditório do 30 Rockefeller Plaza em Nova Iorque. Quando questionaram Cher se tinha alguma pergunta, a artista responde: "não, mas tenho muitas respostas". Para que não restem dúvidas sobre quem é Cher.
