Quando chega a uma livraria ou à secção de livros numa loja é habitual encontrar pelo menos uma prateleira dedicada à exposição dos livros que estão no top de vendas. E, automaticamente, tomamos como garantido que se houve muita gente a comprar aqueles livros é porque são realmente bons.
Pode até ser assim, mas há quem encontre defeitos mesmo nos livros que são considerados fenómenos mundiais — sim, falamos de livros como os das sagas "As Cinquenta Sombras de Grey" ou "Harry Potter". O Business Insider fez uma lista com os livros mais vendidos e as respetivas criticas publicadas em jornais internacionais, como o "The Guardian" ou o "The New York Times".
Provavelmente nunca pensou nestes livros numa perspetiva negativa, mas pode descobrir que afinal as histórias mais conhecidas até têm alguns defeitos.
Saga "Crepúsculo" de Stephenie Meyer
Isabella Swan (conhecida como Bela) mudou-se de Phoenix para Forks, em Washington, e foi nessa cidade fria e sombria que se apaixonou por Edward Cullen, um vampiro. É este o mote que deu origem a quatro livros de fantasia e romance que foram mais tarde levados para o cinema.
Agora a parte dura: as criticas. No "The Guardian", Imogen Russell-Williams leu todos os livros da saga "Crepúsculo" e a conclusão final foi que "as coisas miseráveis geram um vício aborrecido e de baixo nível, como uma dor de dentes." Já no "The Washington Post" o critico refere que foi como "ler o diário de uma jovem adolescente impulsionado com suficiente conhecimento vampírico de Meyer para dar uma leve tensão narrativa e sexual." Uma terceira critica, no "The New York Times", indica que a história é superestimada e tem uma escrita amadora.
Saga "As Cinquenta Sombras de Grey" de E L James
A trilogia é conhecida pela história de um romance com uma forte componente erótica. Conta a história de Anastasia Steele, uma virgem de 21 anos que depois de ter entrevistada Christian Grey para o jornal da faculdade, acaba por se envolver com o empresário. A partir daqui os capítulos estão recheados de cenas de sadomasoquismo.
Muitas vezes lidos quase às escondidas, a verdade é que muitas mulheres não pararam até terem devorado os três livros da saga.
Mas os livros, que se tornaram um fenómeno, foram criticados de uma forma irónica no "The Telegraph", onde o critico refere que o título poderia ser: "Como cuidar de uma rapariga do caminho cinzento". Acrescenta ainda uma critica à história dizendo que o adjetivo assustador "nem chega para a cobrir."
"Harry Potter e a Pedra Filosofal" de J.K. Rowling
Agora o assunto ficou sério. Quando se fala de Harry Potter, o entusiasmo revela-se nos fãs de várias gerações. Uns devoraram os livros, outros apenas viram os filmes, mas a verdade é que já passaram 22 anos desde o lançamento do primeiro livro — "Harry Potter e a Pedra Filosofal" — e continuam a surgir novidades do mundo da feitiçaria. Ora surgem T-shirts estampadas com Edwiges (a coruja do Harry Potter), ora festas decoradas a rigor e com tudo aquilo que havia em Hogwarts.
Mas num universo mágico, que criticas é que podem existir? A primeira é de um critico do "The Guardian" que se refere à estrutura do primeiro livro: "Vulgar, um estilo de prosa sem gramática, que me deixou com uma dor de cabeça e uma sensação de oportunidade desperdiçada".
O critico não fica por aqui: "São livros para crianças unidimensionais, cartoons da Disney escritos em palavras, nada mais".
"O pintassilgo" de Donna Tartt
O romance da norte-americana Donna Tartt conta a história de um adolescente que sobreviveu a um acidente de carro, no qual estava também a mãe, que morreu e com quem tinha uma relação muito próxima. Theo, a personagem principal não se adapta bem à nova vida em casa da família de um amigo rico. Uma pintura misteriosa que a mãe lhe deixou no dia em que morreu levou-o a uma grande obsessão e entra no submundo do crime.
Mas que criticas teve este bestseller? A começar pela escrita do livro, o critico James Wood, refere no "The New Yorker" que "o tom, a linguagem e a história pertencem à literatura infantil". James continua as críticas na "Vanity Fair": "é mais uma prova da infantilização da nossa cultura literária: um mundo em que os adultos leem Harry Potter". Esta critica fere não só quem gostou do livro "O pintassilgo", mas também os fãs de Hogwarts.
"À Espera no Centeio" de JD Salinger
O romance de JD Salinger é conhecido entre os adolescentes, em parte por perceber os problemas desta fase da vida. A história do livro aborda questões relacionadas com inocência, identidade e perda — pelas quais muitos jovens passam. Holden Caufield, de 17 anos, é a personagem principal que, depois de ter recebido más notas a quase todas as disciplinas e de ter sido expulso da escola, reflete sobre a sua vida a caminho de casa. Os pensamentos e as pessoas com quem vai falar fazem o enredo da história que fez sucesso em 1951.
Não só a história, mas também a linguagem remetiam para uma adolescência rebelde. Chegou a ser por isso proibido em algumas escolas, por ter palavrões e exemplos de vida considerados negativos.
Na altura em que foi lançado, Hillary Kelly escreveu uma critica no "The New Republic", onde descreveu o livro como dececionante e adianta que: "O leitor sofreu pelo menos uma sensação de irritação por Holden não ser tão sensível e perspicaz como ele e o seu criador [JD Salinger] pensavam que ele era".
"O grande Gatsby" de F. Scott Fitzgerald
A primeira publicação foi em 1925. Passaram-se 94 anos, inúmeras adaptações e o romance que relata o caos da Primeira Guerra Mundial e critica o "Sonho Americano" é amplamente conhecido. O livro conta a história de um homem que faz de tudo para ganhar a atenção de uma ex-amante.
Mas o livro não foi um sucesso desde o inicio: o "Chicago Tribune" referiu-se à publicação como sendo um livro "sem importância" e que não devia pertencer ao cânone de Fitzgerald. Já o "Evening World" caracteriza o livro como "um valente esforço para ser irónico".
"Pela Estrada Fora" de Jack Kerouac
O livro popularizou-se nos anos 60 entre os americanos, mas os críticos não tinham uma opinião muito positiva sobre o livro "Na estrada", um dos clássicos da literatura.
Exemplo disso é a critica publicada no "The New York Times" ,na altura em que o livro foi publicado (1957), e que dizia: "Um exemplo do estado em que alguns dos trabalhos mais originais estão a ser feitos neste país passaram a depender do bizarro e do inusitado para o seu estímulo criativo".
"Rapariga exemplar" de Gillian Flynn
O livro de Gillian Flynn conta a história de Amy Dunne, assassinada perto junto à casa onde vivia com o marido Nick. Este torna-se o principal suspeito e sobre a pressão da polícia acaba por contar uma série de mentiras e meias verdades. Ao longo do livro percebe-se também que o casal tinha um casamento atribulado e esse fator faz levantar ainda mais as suspeitas sobre Nick.
Apesar de ter sido dos livros mais vendidos do mundo, os críticos não se deixaram ficar. No "Book Forum", Mary Gaitskill demonstrou o desagrado quanto ao livro: "Eu achei tão irritante quanto imaginava, cheio de vozes sarcásticas, fofas e da cultura pop vindas de personagens que parecem construídas totalmente de 'referentes' e 'significados'".
"O Código Da Vinci" de Dan Brown
O romance policial surgiu em 2003 e depressa se tornou alvo de críticas por parte da Igreja Católica. Isto porque retrata questões como a lenda do Santo Graal e o papel de Maria Madalena na história do cristianismo. Apesar da polémica, tornou-se um bestseller e vendeu mais de 45 milhões de exemplares em todo o mundo.
Também na imprensa as criticas não foram a favor do livro. O "The Independent" revela várias criticas, como é o caso do que disse John Humphrys da BBC: "O equivalente literário a uma pintura por números, por um artista que não consegue sequer ficar dentro das linhas."
Menos abstrata e mais dura é a critica de Salman Rushdie, também no jornal inglês, que diz: "Um romance tão mau que dá aos maus romances um mau nome."
"Uma vida pequena" de Hanya Yanagihara
Quatro amigos falidos e sem rumo mudaram-se para Nova York à procura de uma vida melhor. Willem queria ser ator, JB era pintor, Malcolm um arquiteto frustrado e Jude era o equilíbrio do grupo. O maior desafio do quarteto era manter a amizade no meio do vício, do sucesso e do orgulho de cada um.
Esta é uma história intensa, mas à qual não foram poupadas críticas. No "New York Review of Books" um crítico referiu que "o abuso que Yanagihara colocou no protagonista não é necessário do ponto de vista humano, nem artístico" e acrescenta que "o romance de Yanagihara tem levado muitos a confundir angústia e êxtase com prazer e dor."
"Liberdade" de Jonathan Franzen
São 576 páginas de um romance que fala, como é de prever, de liberdade — quer de uma forma cómica, quer trágica, mas retratando as tentações e os fardos da liberdade. O livro foi publicado há menos de 10 anos, falando por isso em temas que se mantêm atuais.
Apesar de Jonathan Franzen ter sido considerado pela "Time" como o próximo grande romancista americano, os críticos não gostaram do seu trabalho no livro "Liberdade". No "The Atlantic" os críticos classificam a escrita como juvenil e sem direção, chegando a dizer com ironia: "Um monumento de 576 páginas à insignificância".
"O Conto da Aia" de Margaret Atwood
Não, a história que explora a independência das mulheres não começou com uma série televisiva. Antes disso ganhou o Prémio do Governador Geral de 1985 e primeiro Prémio Arthur C. Clarke em 1987. O livro foi também transformado em filme em 1990, numa ópera em 2000, e a adaptação mais recente foi a série de televisão lançada em 2017.
Apesar do sucesso, o livro foi alvo de várias criticas. O "The New York Times" escreveu que o livro "é impotente para assustar" e vai ainda mais longe atribuindo palavras menos agradáveis como: "ordinário" e "imperdoável".
Na revista "Time" também se pode ler a critica de Paul Gray: "O romance de Atwood não tem a plausibilidade direta e arrepiante de 'Mil novencentos e oitenta e quatro' e 'Admirável Mundo Novo'".
"Matadouro 5" de Kurt Vonnegut
O livro escrito por Kurt Vonnegut tem já 50 anos e conta a história de Billy Pilgrim, um americano que viajou no tempo e visitou diversos momentos da sua própria vida. A escrita de Kurt é repleta de ironia e sarcasmo.
"Matadouro 5" é considerado pelo público um dos melhores livros do autor, mas os críticos não concordam. O "The New Yorker" refere que "a simplicidade deliberada é tão perigosa quanto o estilo grandioso".
Já no "The New Republic" a critica é carregada de ironia: "Vonnegut é muito fofo, Vonnegut é precioso, Vonnegut é idiota".
"Os Jogos da Fome" de Suzanne Collins
O livro foi um autêntico jogo de fome para aqueles que devoraram o livro com vontade de mais. Depois do primeiro livro lançado em 2008, seguiram-se outros volumes e mais tarde os filmes, que alimentaram o olhar daqueles que queriam ver a história no grande ecrã e daqueles que não leram as obras de Suzanne, mas queriam perceber o fenómeno.
Mas entre os críticos o entusiasmo não foi o mesmo. "Achei previsível, monótono, sem originalidade e repleto de erros. Infelizmente, não consigo pensar num único motivo o recomendar", disse um critico no "The Guardian".
"Os Homens que odeiam as mulheres" de Stieg Larsson
O livro foi um sucesso, bem como o filme lançado em 2012 em forma de trilogia com o nome "Millennium". Já se sabe que há sempre críticas a apontar e o livro escrito por Stieg Larsson não é exceção.
O "The New York Times" classificou o livro como "improvável". Também a crítica de Susan Cohen não favoreceu o trabalho de Stieg: "Este é facilmente um dos piores livros que já li".