Os irmãos santomenses Calema apresentaram-se pela terceira vez n'O Sol da Caparica. Na primeira noite do festival, 15 de agosto, trouxeram a cantora cabo-verdiana Soraia Ramos, que também já atuou a solo em 2022 e com quem acumulam colaborações em músicas como “Kua Buaru” e “O Nosso Amor”.

Fradique Mendes Ferreira (FMF), de 37 anos, e António Mendes Ferreira (AMF), de 32 anos, começaram a dar nas vistas em 2017, com o êxito “A Nossa Vez”, e desde então nunca mais pararam. Antes de subirem ao palco do Parque Urbano da Costa da Caparica, a MAGG conversou com a dupla.

Leia a entrevista

Lançaram uma nova música recentemente, “A Nossa História”, e estão num festival com artistas da lusofonia. Que história é que sentem que estão a escrever na música deste universo musical?
AMF -
O nosso papel, como grupo Calema, é levar algo que foi começado já há muito tempo, nos anos 70, 80, 90, e que depois parou. Nós, hoje, estamos a carregar um bocado isso. Vemos que a música cantada em português, a música lusófona, os crioulos, isso tudo, tem uma grande chance de ir para o mundo. O nosso papel é levar, é criar histórias, melodias, músicas que possam ir além-fronteiras e levar essa cultura lusófona ainda mais longe.

FMF – E, de certa forma, nós estamos a escrever uma história inédita, na qual também somos protagonistas. Eu acho que isso vai inspirar muita gente. É necessário conhecermo-nos mais ainda. Temos uma comunidade enorme, todos os países que falam português, mas em que, ao mesmo tempo, desconhecemos muita coisa dos nossos irmãos. Através da música, conseguimos decifrar um pouco e estamos a contar isso pouco a pouco. Por exemplo, já estivemos em Timor, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Só ainda não fomos para o Brasil. Mas todos esses sítios têm uma história linda a contar. E nós, através da música, vamos fazer o nosso papel e contar um pouco dessa mistura magnífica que é a lusofonia hoje.

Têm uma música que foi um grande sucesso, A Nossa Vez”, em 2017, com mais de 114 milhões de visualizações no Youtube. Sentem que o público quer que seja sempre a vossa vez, independentemente do lugar onde estão?
AMF -
Acho que é isso. Nós, desde o início, fizemos sempre música com o pouco que tínhamos, os meios e isso tudo. Eu acho que as pessoas, hoje, nos seguem não só pela história, mas também pelo trabalho que elas viram que fizemos até hoje, o percurso todo. O lugar onde chegámos hoje exigiu muito trabalho e sacrifício. Isso foi uma das coisas que, no início, sempre nos disseram. Se vocês querem realmente fazer isto, têm de trabalhar, pesquisar, lutar. E as pessoas também começaram a identificar-se com essas mesmas músicas, com a história.

FMF - E depois todo o conjunto fez toda a diferença. Tanto é que nós consideramos que cada palco que nós pisamos é uma oportunidade, é a nossa vez de mostrar um pouco mais. E vamos encontrar sempre pessoas diferentes,  de todos os lugares, vai haver sempre alguma pessoa que não nos conhece. Então, vai ser sempre a nossa vez, enquanto tiver música e tiver um público novo. Sentimo-nos honrados por fazer parte da banda sonora de vida de muita gente.

Pensaram sempre numa carreira em dupla e nunca a solo? Sentem que têm mais força desta maneira?
FMF -
Fazemos pela conexão que nós temos. Além de irmãos, há uma história que nós começámos a contar desde São Tomé e Príncipe. Temos um propósito. Se um dia existir uma carreira solo, não será o projeto que nós já pensámos juntos. Será uma outra coisa, que não tem nada a ver com o projeto que nós temos agora. Acreditamos que a nossa união reflete muita coisa que o mundo não tem hoje em dia. Parceria. Poder no equilíbrio e no propósito que nós temos de mostrar que é possível, juntos, focarmos num objetivo e trabalharmos.

AMF - Principalmente, numa altura em que a união é algo que está a distanciar-se na sociedade. E nós vemos isso. Para nós, seres humanos, é importante a união. Nós temos que nos unir. A sociedade só avança se as pessoas estiverem unidas, se as pessoas conversarem unidas. Se as pessoas conversarem e forem mais solidárias umas com as outras. A nossa dupla, podemos dizer, é um exemplo disso, mostra um bocado que, quando nos unimos, a gente consegue mais.

Falando em parcerias, recentemente apresentaram "Distinu", em colaboração com Dino D’Santiago. Do cartaz do festival O Sol da Caparica, há algum artista com o qual já tenham pensado em trabalhar?
FMF -
Sim, já tivemos em mente alguns. Já estivemos em estúdio com artistas que estão a tocar. Já estivemos com a Bárbara [Bandeira] e com o T-Rex fizemos uma parceria, uma música juntos. Ou seja, nós, desde que a gente esteja no estúdio e sintamos o flow, o momento, fazemos a música. Nós trabalhamos muito nesse sentido, mais na conexão que nós temos. A partir do momento em que temos conexão, a música é boa para nós.

Foi um concerto em que procuraram surpreender, trazendo artistas como a Soraia Ramos. Que outras novidades traz a vossa onda no futuro?
AMF -
Muita coisa, mas os fãs têm de estar atentos às redes sociais. Nós iremos, nos próximos meses, lançar coisas exclusivas, músicas novas.

Veja aqui as fotos da passagem dos Calema pelo festival

Em São João dos Angolares, São Tomé e Príncipe, fizeram parte do grupo coral da Igreja de Santa Cruz dos Angolares. Em 2009, em consenso mútuo, decidiram chamar-se Calema. Em 2013, participaram no programa televisivo “The Voice”, em França, mas sem passar da primeira fase, as “Provas Cegas”. Um ano depois, em 2014, lançaram o álbum de estreia “Bomu Kêlê”. Atualmente, contam com êxitos como os singles “Vai” e “Te Amo”.