Com apenas 8 anos, Sofia Sacoor viu a sua vida a ficar de pernas para o ar. O diagnóstico de diabetes tipo 1 veio trocar-lhe as voltas e dar-lhe uma infância repleta de picadas diárias, restrições alimentares e uma vigilância constante sobre os níveis de glicemia. Isto pode ser desafiante para qualquer pessoa, mas a jovem transformou esta batalha numa autêntica missão de vida.
Atualmente com 17 anos, Sofia Sacoor – sim, da família da conhecida etiqueta Sacoor Brothers – é a mente brilhante por trás da SU1. Esta é uma marca de roupa que, além de dar resposta às necessidades dos adolescentes modernos, com peças que piscam o olho à athleisure, também procura ajudar quem enfrenta a mesma condição, mas não tem os meios para conseguir fazer-lhe frente.
"Foi muito difícil. Isto afeta a minha vida no dia a dia", conta a fundadora da SU1 à MAGG, que aproveitou para relembrar o impacto inicial do diagnóstico. "Havia muita dor, muitas picadas, muitas coisas diferentes que eu tive de usar. Tinha de ter cuidado com a minha alimentação, tinha de pesar os meus hidratos. A minha vida mudou completamente", frisa – e a pandemia, que começou quando ela tinha 13 anos, foi um autêntico ponto de viragem.
Ao explicar que ficou "isolada durante três anos", o que fez com que não visse os amigos ou a família, que vive no Dubai, por não poder arriscar ficar doente, iniciou um processo de introspeção. "Estava numa área em que podia refletir sobre a minha vida e pensar sobre quem é que eu sou", explica Sofia Sacoor – e foi então que percebeu o quão privilegiada era por ter acesso aos cuidados necessários para gerir a sua condição, algo que não se aplica a todas as crianças.
"Eu tive muita sorte. Venho de uma família que consegue pagar insulina, os meus equipamentos, mas se a minha vida fosse um bocadinho diferente, talvez estivesse na mesma posição [daqueles que não têm meios]", relata a jovem. Foi precisamente por ter essa noção que decidiu criar a SU1, assente no princípio da retribuição e, claro, inspirada pelo empreendedorismo pelo qual a família já era conhecida.
O nome SU1 tem um significado especial: Su é a sua alcunha e 1 refere-se à condição de que sofre. Entretanto, também há um slogan, que pode ser visto estampado em quase todas as peças – "a ripple of smiles" (algo como uma onda de sorrisos, em português). "É a nossa missão, porque o que nós queremos fazer é as pessoas sorrir e terem opções na vida para depois também ajudarem as outras pessoas", afiança a adolescente.
Em termos práticos, é assim que a jovem empreendedora ajuda aqueles que mais precisam. "Decidimos que 20 dirhams, que são mais ou menos 5 euros por peça, são doados a instituições, para isso ser um valor constante", diz, acrescentando que essa quantia é utilizada para o fornecimento de equipamentos e insulina, mas não só. Também já financiaram um campo de férias em que o objetivo era educar "miúdos sobre a diabetes e saberem o que é que é conviver com outros miúdos com diabetes".
Em relação à oferta da marca, aquilo que pesa nos designs é, além do conforto, a simplicidade e a eficácia da transmissão da mensagem. "Decidi fazer gráficos mais simples, mas todos eles têm esta mensagem ["a ripple of smiles"] e têm outra mais pequena, nas camisolas, que fala sobre porque é que a empresa existe", diz à MAGG Sofia Sacoor, que aproveita para deixar uma certeza: "É importante as pessoas perceberem que isto não é para mim. Eu estou a fazer isto para ajudar os outros".
Se contribuir para a causa da diabetes já é um princípio nobre e que a move, há outro que também não é de descurar: a preocupação com o ambiente. "Todas as nossas roupas são 100% recicláveis. As nossas etiquetas, o nosso packaging, tudo o que nós usamos é feito de materiais reciclados", adianta Sofia Sacoor. Os preços das peças, que vão de sweatshirts a calças, passando por T-shirts, estão compreendidos entre os 31,46€ e os 74,24€.
E se, pelo mundo, Sofia Sacoor já se envolveu em várias ações, como a abertura de lojas pop-up, por exemplo, o mesmo se vai aplicar a Portugal, no futuro. "Somos uma marca de e-commerce, mas estamos a tentar expandir esta operação [de lojas pop-up e ações, visto que as peças podem ser encomendadas pelo site] até Portugal. Esperamos que, daqui a alguns meses, a SU1 esteja à venda [fisicamente] em Portugal, que tenhamos eventos mais impactantes, e perceber em que mais eu possa ajudar" no País, adianta, reiterando o seu propósito: "A minha missão é ajudar o maior número de crianças no mundo".