Então, babygrows da Primark a 15 paus? Está bem, abelha. Como assim da Primark? Bom, à partida quando a etiqueta diz “Primark” uma pessoa pensa que a roupa é da Primark, certo? Certo. Já lá vamos a esta história.
Ante disso. Eu achava que a ModaLisboa era uma cena para:
. Tirar fotos para o Instagram e mostrar ao mundo que se arranjou um convite, logo, que se é uma pessoa bué cool e bué exclusiva e bué importante e que tem bué connections;
. Exibir looks que nunca usam, para mostrar às outras gajas que andam por lá que se vestem melhor do que elas, que percebem muito de tendências de moda, que estão mais magras do que elas, que arranjam melhor o cabelo do que elas;
. Comer cenas à pala e beber aquelas coisas que os patrocinadores andam lá a oferecer;
. Encher uns sacos com edições da “Vogue” Portugal de março de 2017 que sobraram da gráfica e que são oferecidas lá nas Modas;
. Sonhar com a hipótese de virem a ser fotografadas para uma revista, um site, um jornal, ou até filmadas por uma televisão, nem que seja naqueles artigos a ridicularizar a malta que faz tudo para aparecer, até usar um pneu de bicicleta ao pescoço como se fosse um colar trendy;
. Ambicionar estar a 6 centímetros de uma Catarina Furtado, Bárbara Guimarães ou Cláudia Vieira;
. Ver um desfile de um designer de que já ouviram falar, mas sobre o qual não sabem rigorosamente nada, mas que irão aplaudir como se fossem altas entendidas em todas as fases da extensa carreira do senhor;
. Trabalhar como hospedeira, depois de se ter passado ao lado de uma grande carreira de manequim.
Ainda não se esqueceram daquela cena da Primark, não é? Parece que ando aqui a saltar de assunto, e que nada tem a ver com nada, mas calma, que isto está tudo ligado.
Portanto, eu achava que a ModaLisboa era para isto tudo que está aqui acima, mas quando cheguei ao Pavilhão Carlos Lopes percebi que não, que também é um sítio onde se vendem coisas, roupas e tralhinhas e aquelas cenas totalmente inúteis mas que achamos mesmo giras só naqueles segundos em que estamos ali.
Curioso em saber o que é que se estava ali a passar nas banquinhas, fui espreitar. Como bom português, primeiro agarrei-me à estrutura que segurava as tendas e pensei “deixa cá ver se isto se aguenta quando chegar o furacão”. Pareceu-me sólido. Então, primeira banca que espreito vejo logo um babygrow super fofinho, muito cutxi cutxi, que dizia “Coisa Fofa”. “Olha aqui está um presente giro para a filhota da minha contabilista que acabou de nascer”, pensei eu. Mas se aquilo estava ali na ModaLisboa devia ser coisa de autor, material do bom, e o material do bom paga-se bem. Vi o preço acima, e toma lá disto, 15 paus. Pois, é normal, ModaLisboa. Mas de que marca é que é mesmo o babygrow? Espreitei. Primark Baby (Made in India). Cá está. Não sou cliente habitual da Primark, mas ia jurar que já vi para lá embalagens de cinco unidades de babygrows iguais a este (todos brancos, atenção), à venda por 5 euros, ou seja, 1 euro cada um. Os outros 14 devem ser pela estampagem, que está ali uma coisa com letras que, ui, upa, upa.
Outras coisas verdadeiramente importantes que andei a espiar neste dia: a casa de banho dos homens. E sabem uma coisa? Não há casa de banho como aquela em mais semanas da moda desse mundo. Fica numa espécie de andar -1, ao fundo de umas escadas. Desci a ouvir a batida (pum, pum, pum), muito techno que o DJ ia passando. Entrei na casa de banho e pum, pum, pum, sem parar. Cheguei à zona dos urinóis e o que é que aconteceu? A lâmpada do teto estava concertada com a batida do DJ, e piscava como se estivéssemos numa discoteca. Senhoras da organização das semanas de moda de Nova Iorque, Paris ou Milão: ponham os olhos nisto. Quero ver-vos a fazer melhor.
Ah, também tenho de falar de moda, não é? Então cá vai: adorei a homenagem que a Raquel Strada fez ao vencedor do prémio da montanha da Volta a França, com aquele look todo às bolinhas encarnadas. Muito bem, Raquel, não te sabia fã de ciclismo. E é isto. Amanhã vou espiar mais e depois conto-vos.