O desfile de Nuno Baltazar, que se realizou este domingo, 12 de março, começou na escuridão, com barulhos de fundo, interrompidos por uma voz – deu logo para perceber que se tratava de uma mensagem de voz de uma avó, dirigida ao respetivo neto. De seguida, as modelos saíram com velas na mão, em procissão, enquanto a oração de "Ave Maria" ecoava pelo pavilhão.

Nos minutos que se seguiram, as luzes voltaram a acender-se e as manequins, como em qualquer outra apresentação, desfilaram individualmente. Sim, ainda ao som de "Ave Maria", mas num remix provocador e subversivo. E, entre animal print, silhuetas exageradas, peças viradas do avesso e escapulários, a nova coleção de Nuno Baltazar tinha um objetivo: ser uma homenagem e uma provocação. A quem? Nós explicamos.

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"A avó [da mensagem de voz] é uma pessoa profundamente religiosa, o neto é um rapaz queer, dos dias de hoje, jovem. E estes dois universos abraçam-se. Não há aqui um afastamento da avó", adianta o designer. "Quis que isto fosse um abraço e um exemplo, porque eu até acho que há muitas avós que abraçam os seus netos queer com muito mais naturalidade do que outras pessoas", continua.

Mas se esta figura maternal é elogiada, já a provocação é dirigida a outra entidade: "a toda a comunidade católica, que efetivamente tem muito a sua forma de estar", explica Nuno Baltazar, acrescentando que deseja que esta "reaja a estes últimos acontecimentos que têm vindo a público" – os crimes de abuso sexual dos últimos tempos.

"É uma tomada de posição e responsabilidade minha, enquanto autor, de ter representando no meu trabalho mulheres transgénero, rapazes queer, porque só assim é que faz sentido", frisa. É aqui que o nome da coleção, Transverse, começa a fazer sentido.

"São dois universos que povoavam o meu imaginário, mas que, de alguma maneira estavam paralelos, e não dialogavam", revela Nuno Baltazar. Por isso, as peças são como "uma linha transversal que cruza esses dois universos e que cria uma nova narrativa", conclui.

Espreite a coleção.