A Inteligência Artificial é o mais recente pesadelo coletivo da sociedade, sobretudo porque a maioria ainda não a entende. Muitos discursos de medo se constroem à volta da velocidade alucinante a que as tecnologias estão a conquistar vários setores e do facto de estas poderem vir, eventualmente, a substituir os humanos. Na moda, pelo menos, Matilde Mariano não pensa assim.

Segunda classificada na primeira edição da AI Fashion Week, e fundadora da marca MOLNM, a criadora foi convidada pela Decenio para a criação de uma coleção cápsula, a Club 14, uma vez que a etiqueta se apercebeu de que esta, apesar de ser arquiteta, "já começava a trabalhar com ferramentas de Inteligência Artificial em produção de moda", diz Júlio Torcato, diretor criativo da Decenio, à MAGG.

"Eu acho que [o uso da Inteligência Artificial] é um tema que tem despertado muitas questões, mas, acima de tudo, e posso falar pela experiência que tive até agora, é uma ferramenta. É uma ferramenta como todas as outras", explica-nos Matilde Mariano, acrescentando que esta viabiliza a conceptualização das "ideias muito mais rápido e evita uma enorme componente, que é o desperdício, porque é tudo virtual".

Mas em que é que consiste a coleção, afinal? Então, é inspirada no golfe e está em linha com a ligação que a Decenio tem vindo a fomentar com esta modalidade, depois de, em 2023, realizar o primeiro torneio em nome próprio e lançar uma coleção para esse mesmo universo. Esta sexta-feira, 8 de março, foi apresentada na ModaLisboa e, a partir de segunda-feira, 11, estará à venda em lojas selecionadas e no site oficial da marca.

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Matilde Mariano, fundadora da MOLNM. créditos: Instagram

Do primeiro editorial virtual a algumas imagens usadas na comunicação da linha, passando por "inputs, trocas de ideias, testes de tecidos e cortes", foram estes passos em que a Inteligência Artificial foi útil, diz-nos Matilde Mariano. "A nossa equipa interna de design e de produto materializou, posteriormente, a coleção", acrescenta Júlio Torcato.

E por isso é que, na opinião da criadora, o uso destas ferramentas não é problemático, já que o processo seguinte é humanizado, como sempre, marcando um simbiose entre as tecnologias e a mão humana. "Nada é feito só com Inteligência Artificial. É um trabalho de mãos dadas", frisa, dizendo ainda que o importante é "saber os nossos limites e os da máquina" – mas que é "uma ferramenta que veio para ficar", disso não há dúvidas.

Voltando à Club 14. Se acha que a linha está cheia de peças conservadoras, saiba que ela é tudo menos isso. Pela passerelle desfilaram as 14 peças que a compõem, que, além de serem unissexo, apresentam silhuetas e cortes contemporâneos, muito adaptados à vida urbana – um contraste entre a tradição e a modernidade, diga-se, que evidencia o desejo da Decenio de querer estar cada vez mais perto das camadas mais jovens.

Produzida em Portugal, a coleção é fabricada com materiais de qualidade e fibras sustentáveis, dizem-nos. Das saias microscópicas aos tops igualmente curtos, passando pelas sobreposições de calções e calças ou pelos vestidos estilo polo que vão até aos pés, veja o que passou pela passerelle.

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