Outro dia estava a falar com uma seguidora no Instagram, a propósito de toda a polémica em torno do filme "Barbie", e ela dizia-me algo do género: "quando eu era miúda, o Ken ficava de parte nas brincadeiras. As minhas Barbies tinham grandes sessões de marmelanço umas com as outras, com o Action Man, com o que houvesse. E não foi por causa dessas brincadeiras que fiquei traumatizada". E aquilo fez-me não só relembrar brincadeiras de criança, mas também refletir sobre o assunto.

"Barbenheimer". 2 jornalistas da MAGG foram ver os filmes do momento. Saiba quem ganhou o duelo
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Eu adoro Barbies. Sempre adorei e ainda tenho algumas, bem estimadas, bem como o Ken noivo, uma aquisição caríssima para a altura, comprada numa loja algures em Tui, cidadezinha espanhola perto da fronteira com Portugal onde, antes do advento das grandes superfícies comerciais, se ia para comprar tabletes XXL de chocolate Nestlé, doçaria diversa, perfumes e, claro bonecada. Barbies era, claro, o Santo Graal.

As minhas Barbies também tinham sessões escaldantes de sexo umas com as outras. Ou aquilo que a mente inocente de uma criança acha que é sexo. Beijavam-se ardentemente, despiam-se, roçavam-se na piscina-jacuzzi (que na altura era o último grito e há-de ter custado uma pipa de massa aos meus pais), tinham grandes romances tórridos. O Ken estava ali, pronto, para fazer aquelas brincadeiras giras de subir ao altar, do casamento, e ficar com cara de parvo, de fora, a ver a Barbie, a Cindy e a Skipper em grandes bacanais de plástico. As ménage a trois, conceito falocêntrico, só surgem mais para a frente, imposição de uma indústria pornográfica centrada apenas no prazer masculino. A cumplicidade feminina, que infelizmente vai desaparecendo à medida que vamos crescendo, é-nos inata. Somos mais físicas, tocamo-nos mais e deixam-nos ser. E, embora queira acreditar que hoje em dia os meninos já são educados de forma diferente, creio que ainda existe um incómodo, uma resistência em aceitar a sensibilidade, a fragilidade, a emoção de uma pessoa quando ela é do sexo masculino. Mesmo que seja pequenina.

A Barbie não me traumatizou. Todas as dietas que fiz, todas as tentativas de ser magra, todos os complexos que tive por não caber numas calças 38 da Zara não foram culpa da Barbie. A minha relação nem sempre saudável com o sexo masculino não é culpa do Ken. As minhas Barbies comiam-se, mas eu não quero comer Barbies reais, apesar de achar muitas mulheres muitíssimo atraentes. Numa altura em que o filme "Barbie" continua a bater recordes em todo o mundo, era fixe que nos deixássemos quer de wokismos extremistas quer de conservadorismos antifeministas e apreciássemos a Barbie por aquilo que ela é (e sempre será): uma boneca.

Em agosto, Raquel Costa, diretora-executiva da MAGG, escreve 4 parágrafos sobre os temas do dia (e os intemporais)