O fim de uma relação séria gera quase sempre nos dois membros do antigo casal sensações de tristeza profunda, insegurança e instabilidade emocional, que levam a que muitas vezes se adotem comportamentos anormais. Estas situações afetam mais frequentemente a pessoa que é deixada, mas muitas vezes, ao fim de algum tempo, estendem-se a quem toma a iniciativa de colocar um fim na relação. São comuns situações de perseguições físicas, mas, nos dias de hoje, o mais normal é que isso aconteça via redes sociais.
Nem toda a gente consegue resistir à tentação de procurar pela outra pessoa, saber o que anda a fazer, ler os comentários dos amigos, muitas vezes à procura de um sinal de que o outro possa já ter encontrado outra pessoa, ou de que possa não ter revelado tudo sobre a razão que o levou a terminar a relação. Estas situações podem levar, em casos extremos, a doenças mais sérias. Mas qual deverá ser o comportamento a adotar nas redes sociais em caso de separação?
A psicóloga Sofia Taveira não tem dúvidas — o melhor é bloquear tudo, desligar, desamigar, desaparecer. “Não se justifica adiar essa decisão e prolongar o sofrimento”, explica à MAGG. “É quase como se estivéssemos a dar duas ordens diferentes ao nosso cérebro: ora é para esquecer, ora é para continuar a ver coisas dessa pessoa.”
Às vezes isso acontece naturalmente. Num momento de raiva, tomamos a decisão de arrancar essa pessoa à força de todas as redes sociais, desde o Facebook até ao LinkedIn. Só que na maioria dos casos não é assim. “De um modo geral não aguentam a curiosidade — continuam a seguir, às vezes até com relações.”
Um dos maiores receios associados ao ato de bloquear prende-se com o que o outro vai pensar. Ninguém quer parecer demasiado ressentido ou magoado.
“Se estamos a tomar uma decisão de acordo com o que ‘parece bem’, então não estamos a tomar a decisão que é melhor para nós. Há alturas em que temos de ser egoístas. ‘Ele vai pensar que estou chateada’. Qual é o problema? Ele não pensou nisso no momento em que terminou a relação.”
"Há alturas em que temos de ser egoístas. ‘Ele vai pensar que estou chateada’. Qual é o problema? Ele não pensou nisso no momento em que terminou a relação.”
Para a psicóloga Sofia Taveira, é preciso acabar com o sofrimento. Porque é exatamente disso que se trata: de cada vez que o vê nas redes sociais, seja porque foi à procura ou porque apareceu de repente uma publicação, está a prolongar a dor.
“Satisfazer essa curiosidade de ir ver, alimentar perguntas como ‘será que está com alguém’… tudo isto só vai dar mais força aos ‘e se’. Não deve haver indecisões num momento em que houve alguém que marcou uma decisão na nossa vida.” Por outras palavras, o pensamento deve ser este: já que eu queria que o caminho fosse por ali e não foi, agora eu tenho de decidir qual é o meu caminho.
Mas bloquear o outro não nos vai deixar mais ansiosos? “No início sim, é o mais provável. Mas depois acaba por haver uma desabituação.”
Não querendo estragar a magia do amor, esse mesmo amor também pode evoluir para um hábito. E o tempo aqui é, de facto, o nosso melhor amigo. Quando deixamos de ver o outro, tanto presencialmente como nas redes sociais, fica mais fácil esquecê-lo.
O bloqueio nas redes sociais tem de ser para sempre?
Não há uma resposta certa para esta questão — tudo depende do que aconteceu, dos sentimentos envolvidos e, claro, da forma como cada um lida com a situação. A psicóloga Sofia Taveira recorda o caso de uma paciente que terminou uma relação mas continuou a seguir o ex-namorado.
“Houve sempre aquele prolongar de contacto, de querer ver. Até que ela decidiu que não queria mais aquilo.”
Com a morte do pai, porém, sentiu necessidade de voltar a falar com o ex-namorado, uma vez que tinham tido uma relação tão próxima. Aquele retomar de contacto mexeu com ela. De repente, questões como “será que era ele o amor da minha vida?” voltaram a surgir.
“Ficou na dúvida. Disse-lhe que o melhor seria separar as coisas, e foi o que fez. Não falou mais com ele. Passado dois ou três meses, entregou-se a um amigo de dez anos, esqueceu por completo o caso do passado e agora sim está plenamente feliz. Às vezes as pessoas bloqueiam-se a si próprias: bloqueiam o caminho com convicções que alimentam emoções.”
O que fazer quando a curiosidade se torna em stalking
A decisão mais acertada é bloquear. Mas às vezes não é assim tão simples — por mais que as pessoas queiram fazê-lo, simplesmente não conseguem. Pior: transformam a procura do outro nas redes sociais num verdadeiro comportamento obsessivo.
“Estar o dia inteiro a fazer refresh na página de alguém para ver se ele pôs alguma coisa nova é uma obsessão. E é um problema muito real: eles não conseguem mesmo deixar de seguir. Por muito que tentem, aquele impulso é mais forte.”
Quando a situação chega a este ponto, a psicóloga Sofia Taveira não tem dúvidas: é preciso procurar ajuda.
“Vamos comparar isto a um problema com o jogo. Um viciado não consegue deixar de jogar. Ele diz: ‘Eu prometo que este é o último’, ou ‘vou só jogar 100€ por semana’. E depois não consegue. Por muito que as pessoas achem que têm essa força interior, não têm.”
Nas suas consultas, Sofia Taveira costuma utilizar uma constipação como metáfora. As pessoas só veem os sintomas — o espirro, os olhos vermelhos, o nariz inchado. Mas antes disso existe uma doença. E antes disso existe um vírus.
“Nos casos em que vira uma obsessão, temos de descobrir qual é o vírus. O que é que está a falhar na personalidade daquela pessoa que não consegue deixar de estar obcecada.”