Sente que o seu parceiro está mais desligado e menos empenhado na vossa relação? A MAGG falou com duas especialistas para perceber o que é o "quiet quitting" e porque é que acontece – e, atenção, não significa que é o fim da relação. 

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“Este conceito vem de uma origem, em primeira instância, de um ambiente de trabalho. Onde este vem de uma abordagem mais organizacional e depois é aplicado aqui nas relações. No fundo, tem como base as pessoas que começam a fazer o mínimo necessário nas suas responsabilidades, estando relacionada aqui com a questão laboral. Quando é aplicado aos relacionamentos, descreve uma situação de uma pessoa que, sem terminar qualquer tipo de relacionamento, começa a afastar-se emocional e mentalmente da relação. Deixa de se esforçar para manter a conexão, a comunicação, o compromisso. Mas, no entanto, não encerra de todo a relação de uma forma explícita”, explica a psicóloga clínica e terapeuta de casal e familiar no Coletivo Transformar, Joana Rogeiro Nina, à MAGG. 

psicóloga clínica e terapeuta de casal e familiar no Coletivo Transformar, Joana Rogeiro Nina
psicóloga clínica e terapeuta de casal e familiar no Coletivo Transformar, Joana Rogeiro Nina Joana Rogeiro Nina, psicóloga clínica e terapeuta de casal e familiar no Coletivo Transformar

De acordo com a especialista, este fenómeno está, geralmente, relacionado com “uma sensação de desgaste ou de frustração”, onde muitas vezes uma das partes do casal “já não sente que as suas necessidades estão a ser atendidas ou valorizadas pela outra pessoa”.  

“O que eu tenho me apercebido é que estas pessoas precisam muito de um apoio. Não estão investidas a nível de manter um futuro, mas, naquele momento, como também têm algum receio de ficar solteiras, como já vão ter algumas mudanças de vida drásticas, preferem manter uma parte da sua vida, neste caso a parte relacional, estável. Mesmo que a nível emocional não esteja tão estável, porque as pessoas já não estão conectadas”, refere a consultora de dating, Tânia Libano, à MAGG. 

consultora de primeiros encontros, Tânia Libano
consultora de primeiros encontros, Tânia Libano Tânia Libano, consultora de primeiros encontros

A especialista acrescenta ainda que, tendo em conta os casos de alunos que acompanhou, “o desconforto de ficarem sozinhos” também é um dos fatores que faz com que as pessoas se mantenham numa relação que já não as preenche, não a terminando. 

Como identificar o quiet quitting? 

“É como se estivéssemos num barco e só um é que está a remar”, explica Tânia Libano.  “O tal desinteresse crescente, a falta de comunicação, a ausência de comprometimento e até mesmo a diminuição de esforço. Isto podem ser sinais de que se devem sentar, falar e perceber o que é que está a acontecer”, refere Joana Rogeiro Nina. Se a comunicação não for suficiente, é importante que o casal procure a ajuda de um especialista. 

Mas nem tudo está perdido. A comunicação é a chave das relações e é extremamente importante para reajustar expectativas. “É verdade que as relações trabalham-se. O carinho, o amor, a comunicação, isso trabalha-se. E se não for feito continuamente, é um hábito que se perde facilmente numa relação Tem de haver uma comunicação de ambas as partes”, explica Tânia Libano à MAGG. 

“Acho que é importante também ressalvar que este conceito nas relações não significa necessariamente o fim, mas sim um sinal que há algo que precisa de ser abordado e trabalhado nas relações. Resolver isto requer algum esforço sempre de ambas as partes. Portanto, isto não significa que a relação chegou ao fim”, refere Joana Rogeiro Nina. 

“É natural que num casal e num ciclo de vida natural das relações, as expectativas e as necessidades e aquilo que nós tínhamos perspectivado para a relação no início de seja muito diferente ao final de três, quatro, cinco anos, 10 anos, 20 anos. E então este reavaliar das expectativas no relacionamento é importante que exista, porque estamos também a redefinir e a aprender a lidar com as diferentes formas de demonstrar o carinho, mas também aquilo que o outro espera que nós possamos corresponder e entregar à relação”, acrescenta. 

“Reservar tempo para atividades juntos, como fazer algo novo, uma novidade que queriam muito fazer há muito tempo e que ainda não tiveram oportunidade. Sair para fazer uma viagem que têm desejo de fazer há muito tempo, mas que adiam por vários outros fatores externos, ou simplesmente um momento de lazer simples pode ajudar a fortalecer a intimidade e as relações emocionais. Encontrar este tempo é importante, mesmo nas pequenas coisas do dia a dia”, aconselha a psicóloga clínica. 

Os casais que têm filhos acabam por ser mais propícios a que exista algum tipo de desligamento ou afastamento na relação, por fatores como a mudança da rotina e o cansaço, por isso, “continuar a namorar” é crucial. 

“O casal deve continuar a namorar mesmo depois de casar e ter filhos, tem que haver sempre um momento para os dois, ou em família ou um espaço para os dois. Porque senão a relação também se vai deteriorando naturalmente, quando não há investimento de tempo, de comunicação e de intimidade”, explica Tânia Libano.