Seja por que razão for — para prevenir a gravidez, regular os ciclos menstruais, diminuir as cólicas e o fluxo menstrual ou ainda para controlar a acne — a pílula é um dos métodos mais populares e usado por 38% das mulheres entre os 15 e 29 anos, de acordo com o "Jornal Médico".
Mas um novo estudo publicado na quarta-feira, 2 de outubro, pela revista académica "JAMA Network Home", veio mostrar que a pílula pode trazer algumas consequências: raparigas com 16 anos que tomam a pílula relataram uma maior ocorrência de sintomas depressivos, tais como choro, problemas alimentares e insónias, comparando com aquelas que não recorrem a este contracetivo oral.
Um total de 1.010 adolescentes e jovens adolescentes (entre os 16 e os 25 anos) participaram no estudo, sendo acompanhadas durante nove anos, até chegar aos resultados.
Para perceber melhor a questão colocada no estudo — "qual é a associação entre o uso do método contracetivo oral e a ocorrência de sintomas depressivos em adolescentes e jovens mulheres?" — a MAGG falou com a ginecologista Fernanda Águas, médica no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
Fernanda Águas começa por explicar que são conhecidos alguns efeitos dos componentes da pílula, como a influência dos estrogénios (hormonas sexuais femininas) nos neuro mediadores cerebrais, que afetam a quantidade de serotonina e neuroadrenalina, duas hormonas que estão relacionadas com o humor, a ansiedade, o sono e a alimentação
"A depressão está associada a níveis mais baixos destes neuromediadores e este será um dos possíveis efeitos dos estroprogestativos [produto ou medicamento que contém um elemento de estrogénio e um progestativo, usado como contraceptivo] a nível do cérebro", explica a ginecologista, que acrescenta que pode haver ainda uma diminuição do ácido fólico e da vitamina B12, associadas a sintomas depressivos.
Percebemos, por isso, que pode haver uma ligação entre a toma deste medicamento e a ocorrência de sintomas depressivos. Mas pela experiência de Fernanda Águas, que acompanha várias adolescentes nas consultas de ginecologia da infância e da adolescência no Hospital Pediátrico, em Coimbra, esta situação não é comum em mulheres saudáveis.
"Contudo, em adolescentes com comportamentos depressivos, algumas das quais já medicadas com antidepressivos e com acompanhamento psiquiátrico, a prescrição da pílula contraceptiva deverá ser monitorizada no sentido de detetar agravamento da sintomatologia ou então optar por outros métodos preferencialmente não hormonais", explica.
O contexto social deve ser tido em conta
Não são apenas os efeitos secundários que contam, é preciso ter em conta outros fatores quando falamos de sintomas depressivos. "Independentemente do género, tem vindo a aumentar e não se pode de modo algum desligar do ambiente social que rodeia os jovens de hoje", refere a ginecologista.
E será que os sintomas depressivos têm algo que ver com a toma precoce da pílula? A ginecologista explica que não: "Não há um limiar de idade para a utilização da pílula".
Os efeitos depressivos suscitados, de acordo com o estudo, ou evidenciados pela pílula, como refere Fernanda Águas, podem não ocorrer apenas nas adolescentes. Isto porque também nas mulheres mais velhas "a pílula poderá agravar sintomas depressivos pré-existentes, porém não há evidência que por si só cause depressão numa mulher saudável". A médica reforça ainda que o facto de ser ou não saudável é importante para analisar os efeitos secundários do método contracetivo.
O que fazer caso sejam identificados sintomas depressivos?
Primeiramente, é importante relatar a situação a um médico de clínica geral ou a um ginecologista, de forma a perceber qual a causa desses sintomas.
Caso se confirme que a pílula está a contribuir para o agravamento da situação, o mais indicado é que seja substituída por um método não hormonal. É o caso do preservativo, que, no fundo, não é um substituto, já que deve ser usado a par da toma regular da pílula, de forma a prevenir infeções sexualmente transmissíveis.
Mas há ainda uma outra opção: os métodos contraceptivos de longa duração, como os dispositivos intra-uterinos, sendo que destes apenas o cobre é um método não hormonal.
"Para o controlo da acne não há outra alternativa a não ser tratamentos dermatológicos", conclui a ginecologista.