Está constantemente a correr para a casa de banho com uma vontade incrível de urinar e chega a levantar-se mais do que uma vez por noite pela mesma razão? Se sim, a verdade é que pode fazer parte dos 30 por cento da população portuguesa que se queixa de sintomas indicativos de bexiga hiperativa, uma doença desconhecida mas que se estima que possa vir a afetar 25,5 milhões de pessoas em 2050 apenas na Europa. A bexiga hiperativa afeta homens e mulheres de todas as idades e, só em Portugal, é estimado que cerca de 1.700 pessoas com mais de 40 anos sejam vítimas desta patologia.
A bexiga hiperativa é muitas vezes desvalorizada pelos próprios doentes, apesar do seu grande impacto na qualidade de vida e de condicionar muitos aspetos do quotidiano, como a vida social, sexual ou familiar.
Quem sofre desta doença chega a urinar na cama
A bexiga hiperativa caracteriza-se por uma alteração funcional da bexiga que “origina contrações inapropriadas do músculo da bexiga durante o armazenamento de urina (mesmo quando esta contém um volume reduzido de urina), face a estímulos que seriam tolerados facilmente por uma pessoa normal”, afirma Alexandre Lourenço, médico ginecologista, à MAGG.
Essas mesmas contrações dão origem a uma micção frequente e anormal, ou uma grande vontade de urinar, sendo que, de acordo com o especialista, “quem sofre de bexiga hiperativa não consegue mesmo aguentar as contrações e sente uma vontade imperativa de ir à casa de banho rapidamente. Quando não a consegue alcançar a tempo, é normal acontecerem perdas de urina espontâneas”.
Nas pessoas com bexiga hiperativa, o músculo da bexiga parece transmitir mensagens erradas ao cérebro, dando a sensação de que a bexiga está mais cheia do que realmente está — e a noite é um dos problemas.
“É muito frequente que pessoas que sofram desta patologia se levantem cerca de cinco ou seis vezes por noite com uma vontade urgente de urinar”, explica Alexandre Lourenço, que salienta que, num estado de sono profundo, é bastante possível que as vítimas desta doença cheguem a urinar na cama, sem se aperceberem do sucedido.
Se costuma aguentar horas sem ir à casa de banho, deve parar de o fazer imediatamente
Existem várias causas para o surgimento desta doença. Patologias associadas como a diabetes ou a Doença de Parkinson (doenças que interferem com os nervos) são uma delas, mas a mais flagrante (e evitável) são as alterações da bexiga ao longo dos anos.
“A bexiga é um saco elástico. Assim sendo, quanto mais urina armazenamos na bexiga, mais este saco vai aumentado e mais este tecido é esticado”, salienta o médico ginecologista, que reforça que os hábitos mictórios de um indivíduo ao longo dos anos têm muito a ver com o surgimento desta doença.
Se a bexiga já estiver muito sensível, ou já tiver ganho músculo ao fim de alguns anos, “é esperado que comece a reagir mal aos estímulos. São anos e anos a ser esticada até ao limite, armazenado urina até não ser possível aguentar mais”, afirma Alexandre Lourenço, que recomenda que devemos esvaziar a bexiga seis a sete vezes por dia, para que esta nunca fique completamente cheia.
Há cura para esta doença — e começa por alterar os seus hábitos
São três os sintomas-chave da bexiga hiperativa: o aumento da frequência miccional (para cerca de 12 a 20 idas à casa de banho por dia), uma sensação de vontade forte e imperativa de urinar, que pode chegar a ser dolorosa e muitas micções durante o período de sono.
No entanto, Alexandre Lourenço garante que esta é uma doença com tratamento, sendo a mudança de hábitos o primeiro passo para a cura.
“Em primeiro lugar, é necessário melhorar os hábitos de miccção e fortalecer os músculos do pavimento pélvico. De seguida, caso sofra desta doença, é recomendado que urine com mais frequência, mesmo antes de ter vontade, que beba menos líquidos após o jantar e esvazie a bexiga antes de dormir”, explica o especialista.
Após a alteração das rotinas, e combinando com os novos hábitos, o tratamento farmacológico é também uma opção. “Existem dois grupos de tratamentos, um que interfere com a parte nervosa da bexiga e diminui as contrações, e outro que relaxa a parede dos músculos”, afirma Alexandre Lourenço, que salienta que o último recurso são as terapêuticas em ambiente hospitalar, mais invasivas, “embora a combinação da mudança de hábitos com os tratamentos farmacológicos seja eficaz em 60 a 70 por cento dos doentes”.
*texto originalmente publicado em 2018 e entretanto atualizado.