
As contrações pós-parto são um tema sensível. Como muitas pessoas não passaram por isso, não têm bem a ideia do quão desconfortável pode ser. A dor de sentir o útero a tentar voltar ao seu tamanho normal depois de ter estado nove meses em constante crescimento é algo que atormenta muitas mulheres, que podem inclusive sentir que não têm ninguém com quem falar sobre o assunto. No entanto, estas contrações são muito mais comuns do que o que parece.
"Em termos obstétricos, é um evento fisiológico. É um processo normal da natureza, não é nada de anormal e, portanto, é o próprio organismo a defender-se”, começou por explicar Alexia Toller, ginecologista e obstetra, à MAGG. “O útero é um órgão espetacular que tem um músculo muito particular chamado miométrio, que é a camada mais grossa, e este miométrio tem particularidades que mais nenhum músculo do nosso corpo tem. Este músculo abre muito ao longo da gravidez, e é uma distensão progressiva, ao longo das 40 semanas”, acrescentou.
Desta maneira, quando o bebé e a placenta saem do corpo da mulher, é quase como quando enchemos e esvaziamos um balão: ao soprar, ele incha, mas, ao esvaziá-lo, ele acaba por ter de voltar ao seu formato normal. “E a tentativa de chegar ao tamanho inicial do útero é assim também, é exatamente através destas contrações uterinas. Portanto, as contrações uterinas do pós-parto são nada mais do que um processo natural de involução uterina. Ou seja, em vez de ele contrair e relaxar, contrair e relaxar, ele contrai, contrai, contrai, contrai”, explicou a ginecologista.
E isto é algo que acontece com mais frequência em mulheres que já tiveram mais do que um filho. “Uma das particularidades é que a dor é mais intensa conforme o número de gravidezes. No primeiro filho a mulher tem um bocadinho de dor, no segundo filho vai ter mais dor do que no primeiro, no terceiro filho vai ter mais dor do que no segundo”, confessou Alexia Toller. No entanto, ao contrário do que se possa pensar, algo que não altera muito o nível de dor é o tipo de parto feito.
“A contração após a cesariana e após o parto vaginal tem de acontecer sempre, mesmo que não doa demasiado. Agora, a dor na cesariana pode aumentar um bocadinho, porque, além de ter contraído o útero, nós temos a dor da incisão na pele. Portanto, o pós-parto em si já é um bocadinho mais doloroso, mas não há aqui tanta diferença”, explicou. Ainda assim, para ajudar nestas dores, a equipa médica dá sempre uma medicação à mulher depois do parto, chamada oxitocina sintética, que faz com que o útero se contraia.
Mas o que Alexia Toller explicou é que esta oxitocina também existe de forma natural, e é algo que também causa dor às mulheres: esta vem através da amamentação. “Nós sabemos que a amamentação liberta uma oxitocina natural que vai fazer com que, cada vez que o bebé esteja na maminha, haja um reflexo, e a sucção faz com que haja a libertação desta oxitocina no corpo da mulher”, descreveu. “Portanto, as senhoras muitas vezes descrevem que, ao dar de mamar, têm mais dores e, consequentemente, perdem mais sangue. Porquê? Porque o útero contrai e o sangue sai”, acrescentou a obstetra.
No entanto, há que deixar a ressalva de que estas dores não vão ser contínuas, não acontecendo a todo o momento. “É uma dor intermitente, que é mais intensa nas primeiras 48 horas. Normalmente, a maioria dos casos dissipa-se ao fim de uma semana, e a partir daí já não se queixam tanto”. Isto faz com que não existam grandes sinais de alarme, até porque “isto é um processo normal, constatado, expectável e desejável”, disse Alexia Toller. “Infelizmente, é em forma de uma dor, mas o que está na origem dessa dor é um processo que deve acontecer”.