É possível que lhe tenha lido esta mensagem num dos seus grupos de WhatsApp: "Para todos os que tiverem de sair de casa pelas mais variadas razões: usem sempre sempre sempre a mão não dominante para tocar no botão do elevador, na maçaneta da porta, na porta do carro, para pegar os bens no supermercado, etc. A probabilidade de levar inconscientemente a mão não dominante ao rosto é muito muito menor do que a mão dominante. Esta prática foi muito difundida na Coreia do Sul, um dos países com melhores resultados neste combate."

Numa interpretação rápida, a teoria faz sentido. Mas nos tempos em que mensagens com informações falsas circulam massivamente pelos chats e redes sociais, tentámos ir à procura de certezas. Será que a regra é mesmo eficaz no combate à contaminação do COVID-19?

O especialista de Medicina Interna José Carlos Almeida Nunes reconhece a lógica da recomendação. "Esta questão de usarmos a mão não dominante faz todo o sentido. É óbvio. Mas extraímos grandes dividendos? Isso já não sabemos."

COVID-19. Este é o grupo de Facebook criado por médicos portugueses para tirar dúvidas sobre o coronavírus
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A razão é simples e aquela que está incluída na mensagem que anda a circular. "A minha mão não dominante vai muito menos vezes à cara, logo, logicamente, se usar a mão não dominante em contacto com superfícies potencialmente contaminadas, tenho menos probabilidade de que esta chegue às zonas de entrada [do vírus], que são a cavidade oral, mas também provavelmente o nariz e os olhos."

Almeida Nunes conta-nos, inclusivamente, que esta recomendação chegou ao fórum médico que criou, a que pertencem vários profissionais de diferentes especialidades, "pessoas notáveis": "Esta mensagem foi veiculada e ninguém veio ridicularizá-la. Mesmo dentro da comunidade médica, esta notícia foi aceite."

Pela altura em que falávamos, Almeida Nunes tinha acabado de chegar das compras e preparava-se para desinfectar aquilo que tinha trazido consigo. Esta é uma das rotinas que considera importantes de serem executadas para que se evite o contágio por superfícies ou embalagens contaminadas pelo COVID-19 — e que podem ser aplicadas em mais superfícies, como maçanetas ou botões de elevador, por exemplo.

"O álcool não abunda e o álcool gel não abundam, a lixívia tem pouca validade, mas podemos passar com detergente." Todas as embalagens que sejam descartáveis no imediato, devem ir para o lixo.

Este processo deverá ser executado com luvas nas mãos, assim como idealmente deverá ser a ida ao supermercado. É que mesmo que a utilização da mão não dominante possa ser vantajosa, continua a acarretar perigos. Há determinadas superfícies a que se deve ter especial atenção, como as do "carrinho, que são aquelas em que todos nós mexemos."

Em casa, além da limpeza das compras, deixar os sapatos fora da porta, lavar muito bem as mãos, tomar um duche e, se possível, deixar alguns sacos a arejar numa varanda ou num terraço também são alguns passos sugeridos pelo médico.