Álvaro, um menino de seis anos e meio, natural de Alicante, Espanha, teve, desde os 23 meses, duas recaídas de leucemia linfoblástica aguda. Não respondeu às terapias convencionais, incluindo ao transplante do progenitor hematopoiético (transplante de medula óssea).
Mas a sua sorte parece ter mudado, avança o jornal espanhol "El Mundo": esta quinta-feira, 20 de fevereiro, o hospital Sant Joan de Déu, em Barcelona, anunciou que uma terapêutica pioneira — que há pouco mais de quatro meses começou a ser financiada pelo Serviço Nacional de Saúde deste país — foi capaz de curar este paciente pediátrico, com seis anos.
De acordo com as fontes hospitalares, após ter recebido o tratamento — que por esta altura ainda estava fase de ensaios clínicos —, nenhuma evidência da doença foi detetada no menino, que pode "voltar à cidade e retomar as suas atividades habituais", revelaram fontes do hospital.
"Álvaro ficou ótimo depois deste tratamento. Está saudável, bem por enquanto. Eles [médicos] já nos deram permissão para retomar uma vida normal", confirmou, em conferência de imprensa, Marina, a mãe do menino de Álvaro.
A fórmula inovadora consiste num tratamento de células CAR-T, que trabalha no potencial do sistema imunitário, fazendo com que o próprio corpo do doente seja capaz de combater a doença. Porém, ao contrário de outras terapêuticas de imunoterapia, esta abordagem não estimula apenas as defesas do corpo para lutar contra o tumor: também integra manipulação genética, fornecendo assim ajuda externa, aumentando a potencia do corpo na batalha contra a doença.
No fundo, são removidas células do sistema imunitário de modo a torná-las mais potente e, depois, reintroduzi-las novamente no organismo.
"As células, os linfóticos T, são removidas do sistema imunitário do paciente, são modificados para serem mais potentes e dirigidos para o tecido do cancro — isto é, atacam o tumor, sem danificar os tecidos saudáveis", explica ao mesmo jornal espanhol Álvaro Urbano, coordenador do Grupo CAR, da Sociedade Espanhola de Hematologia e Hemoterapia (SEHH).
Depois, essas células reforçadas são cultivadas em laboratório e re-introduzidas no paciente, de modo a que localizem e destruam as células malignas na origem da doença.
Desde 2017, mais de 80 pacientes beneficiaram deste e de outros dois tratamentos semelhantes, através de ensaios clínicos. Os resultados foram positivos, com taxas de remissão entre os 80 e os 90%.
Apesar de tudo, diz o "El Mundo", o tratamento CAR-T só pode ser aplicado em duas doença sanguíneas: leucemia linfoblástica aguda de células B e linfoma B difuso de células grandes. E apenas devem ser utilizados em pacientes que não responderam aos tratamentos convencionais, a quem já não sobram outras opções.
É que, diz a chefe de Hematologia Clínica do Instituto Catalão de Oncologia, "pelo menos dos 85% afetados pela leucemia superam a doença com os tratamentos já estabelecidos."