VIH é o nome do vírus cuja transmissão continua a suscitar muitas dúvidas na população e também aquele que afeta 59.913 indivíduos infetados com VIH entre 1983 e 2018, de acordo com o último relatório publicado em novembro e realizado pela Direção Geral de Saúde (DGS) e o Departamento de Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
O Dia Mundial de Luta Contra a Sida é assinalado a 1 de dezembro e a luta continua ano após ano, não só no que diz respeito à prevenção, como também ao alerta para a realização de um diagnóstico precoce e no esforço por fornecer informação acessível sobre esta infeção à sociedade.
Muitas vezes confunde-se VIH com SIDA, ou até se considera que são a mesma coisa. Mas não são: "A SIDA é o síndrome da imunodeficiência adquirida, um estádio clínico mais avançado, mas reversível provocado pela infeção pelo VIH", explica à MAGG o presidente da associação Abraço, Gonçalo Lobo, que atua no sentido de prevenir a redução do número de novos casos de infeção pelo VIH.
Já este último é designado de vírus da imunodeficiência humana e, de acordo com o SNS, "as pessoas que estão infetadas com VIH são seropositivas, e podem ou não desenvolver SIDA".
Em Portugal, Lisboa (25.327), Porto (11.517) e Setúbal (6.681) estão entre os seis distritos com mais casos de diagnóstico de VIH acumulados ao longo dos anos, de acordo com o relatório. Segue-se Faro (2.981), Aveiro (1.881) e Braga (1.713). Com o número mais baixo de todos os distritos está a Guarda, com um total de 207 casos registados até 2018, ano em que foram diagnosticados apenas dois novos casos.
Os dados adiantam ainda que em 2018 foram diagnosticados três novos casos em crianças e 970 em adultos com mais de 15 anos. Entre os adultos, o relatório revela que a maioria ocorreu em homens (691) e nas mulheres foram registados 279 casos, o que corresponde a uma percentagem de 28,8%.
A idade dos novos casos também foi um dos fatores analisados no estudo, que mostra que tanto nos homens como nas mulheres os novos casos de infeção por VIH em 2018 aconteceram entre os 30 e os 39 anos. Sabe-se ainda que no caso das mulheres aconteceu maioritariamente por transmissão em relações heterossexuais e nos homens foi por relações homossexuais.
Até ao ano passado, o estudo contabilizou um total de 59.913 novos casos de infeção por VIH.
Braga é o último distrito entre os seis com mais casos (1.713 casos) até à data, mas mesmo no último lugar, os números são elevados, razão pela qual a cidade vai abrir uma unidade de rastreio de VIH/SIDA. "As pessoas de Braga e dos arredores vão ter a possibilidade de fazer o rastreio quanto à prevenção do VIH, como à transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis e às hepatites virais", explica Gonçalo Lobo.
Esta unidade não surge apenas como uma medida preventiva, mas também tem como objetivo consciencializar de forma a quebrar a cadeia de transmissão. Isto porque, apesar de existir uma maior literacia da população quando às doenças sexualmente transmissíveis, há ainda muita desinformação que faz com que persistam mitos como: o VIH transmite-se por saliva, por sangue, através da utilização da mesma casa de banho, dos talheres, etc..
"Isso é atualmente ridículo e não faz sentido nenhum", refere o presidente da instituição Abraço. O mesmo acrescenta que a transmissão por fluídos corporais tem maior probabilidade de acontecer com os consumidores de drogas injetáveis, mas ainda assim há poucos casos registados — apenas 21 homens e mulheres foram identificados em 2018 —, o que prova que a transmissão sanguínea por drogas injetáveis já não é expressiva.
"O que é muito expressivo é efetivamente a transmissão sexual. É a via principal de transmissão", refere Gonçalo Lobo.
A própria pessoa infetada descrimina-se
"Acontece até pela própria pessoa que fica infetada. Cria um pensamento em torno da infeção em que ela própria se estigmatiza e contribui para um certo fechamento", diz o presidente da Abraço.
Muitas pessoas ainda têm receio de serem infetadas por indivíduos com VIH, mas noutros casos a discriminação surge porque consideram que ser portador de VHI significa que essa pessoa não vai ao encontro dos valores que pode considerar mais adequados.
E é precisamente estes pensamentos que influenciam a forma como um individuo com VIH encara a infeção. "A própria pessoa que tem a infeção também faz essa discriminação porque acha que os outros o vão ver dessa forma", conclui Gonçalo Lobo.
Como prevenir?
O preservativo é o mais conhecido e aquele que tanto previne o VIH como as outras doenças sexualmente transmissíveis — como a gonorreia e sífilis —, mas há ainda a profilaxia pré-exposição (PrEP), um medicamento que funciona apenas na prevenção do VIH.
Contudo, conforme alertou à Lusa esta quinta-feira, 28 de novembro, a diretora do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida e Hepatites Virais, Isabel Aldir, "a pessoa por estar a fazer o PrEP não pode descurar as outras medidas de prevenção".
No que diz respeito ao diagnóstico, fazê-lo de forma precoce não é uma forma de prevenir, mas de tratar. De acordo com os dados do relatório, em 2017 quase 40 mil indivíduos viviam com infeção por VIH e 7,8% dessas não estavam diagnosticadas. Esta percentagem é preocupante no sentido em que este processo é fundamental.
"Permite que a pessoa seja colocada diretamente em tratamento e do ponto de vista da saúde pública não consegue transmitir a outra pessoa e isso por um lado quebra a cadeia de transmissão de VIH. Mesmo que tenha sexo desprotegido, não vai conseguir passar o vírus a outra pessoa", explica o presidente da associação Abraço.
As vantagens de um diagnóstico precoce relacionam-se também com a saúde da pessoa. Isto porque evita pneumonias ou outras complicações que possam levar ao internamento ou até mesmo à morte — que de acordo com o relatório, aconteceu em 261 dos casos em 2018.