Uma plataforma de bem-estar emocional digital, criada no Brasil por dois portugueses, e que está disponível, em Portugal, desde o fim de 2017: chama-se Zenklub e permite o contacto entre psicólogos, coachs e pessoas que procuram acompanhamento. A depressão e a ansiedade são consideradas, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o maior contribuinte para a incapacidade produtiva: dados de 2017 apontam para que Portugal seja o terceiro país, em 34, com a taxa mais elevada de prevalência anual destas doenças. Estes dados trazem ao de cima a necessidade de apoio que Portugal precisa nesta área, no entanto, José Miguel Simões, um dos sócios criadores da plataforma, explica à MAGG que “a maioria das pessoas nem sabe que tem essa necessidade ou que pode ter uma mais valia” com o tratamento.
O estigma de que apenas as pessoas doentes é que precisam de um psicólogo ainda se mantém em Portugal. De acordo com os dados de José Miguel, mais de 60% das pessoas que utilizam o Zenklub nunca tinha experimentado qualquer tipo de terapia: “Eu vejo o Zenklub como o ginásio era há 20 anos: para pessoas que se preocupavam com o corpo e que queriam ganhar músculo. Hoje em dia, quem vai ao ginásio, pode fazer dança, ballet ou qualquer tipo de atividade física. A ideia do Zenklub é precisamente essa: que as pessoas tenham um espaço onde elas possam explorar questões emocionais e questões mentais”.
O ínicio do Zenklub em Portugal
Trazer o negócio para Portugal foi uma decisão fácil, mesmo sabendo que ele não atingiria as proporções já alcançadas no Brasil (uma dimensão 10 vezes maior do que a nacional): “Primeiro porque somos os dois portugueses e, apesar de morarmos no Brasil e de nos termos conhecido lá, acreditamos que o mercado português precisa deste tipo de soluções”. E, em segundo lugar, principalmente por questões pessoais: “Eu senti que, aqui em Portugal, talvez para o negócio não fosse uma decisão muito importante, mas, a nível pessoal, fazia sentido para nós e para as pessoas que estão à nossa volta. A importância do bem-estar emocional mudou tanta coisa na minha vida, e teve um impacto tão grande, que eu gostava de fazer o mesmo pelas pessoas mais próximas de mim”.
Para além de ser uma dimensão menor para o negócio, José Miguel acredita “que o mercado também é diferente”: “As pessoas no Brasil são mais abertas. Lá qualquer pessoa olha isto como uma coisa normal. Aqui ainda existe a questão do estigma”. A mesma opinião tem Carolina Birr: é psicóloga há 15 anos e está no Zenklub desde o seu início, em 2017. Apareceu na sua vida exatamente quando começou a perceber “que existia uma necessidade a nível da psicologia: ela tinha de chegar a mais pessoas e não podia ficar fechada no âmbito do consultório”.
Um psicólogo não ajuda só pessoas doentes
Acredita que “há muita gente que nunca consultou um psicólogo no consultório” e parece que, com esta nova plataforma, as pessoas têm “mais coragem para dar o primeiro passo e experimentar” porque “as barreiras do medo, da insegurança e do estigma são, assim, mais fáceis de ultrapassar”. Nessa perspetiva pensou em lançar a psicologia online, e começou a dar consultas pela internet: “Foi nesse momento que uma colega minha, que também é da área da psicologia, me contou que estava envolvida no Zenklub. E eu achei fantástico, fiquei contentíssima porque, realmente, Portugal tem uma taxa de depressão e de ansiedade brutal e os hospitais, ou mesmo as consultas privadas, não colmatam esta necessidade, elas não são suficientes. Para mim, o Zenklub veio trazer imenso valor a Portugal e à psicologia em geral”.
Carolina Birr explica ainda que um psicólogo não ajuda apenas as pessoas doentes, "ele vai dar as ferramentas para ativar o potencial e os valores únicos dessa pessoa: as virtudes e as forças pessoais. Não só no âmbito do coaching mas também da psicologia da performance que também aprofunda outras questões".
José Miguel vai mais longe ao dizer que a psicologia ensina muitas coisas que ninguém nos ensina ao longo da vida: "Seja a nível de trabalho, de relacionamentos, de relações familiares e pessoais, eu acho que há muita coisa que hoje não se ensina e não se aprende ao longo da nossa evolução. Na escola não se aprende a lidar com pessoas nem se aprende a lidar com emoções, então, estes profissionais e este tipo de plataforma facilita e democratiza o acesso [a esta forma de ajuda]".
Combater o estigma com o online
José Miguel afirma que a aplicação ajuda a combater um dos maiores problemas quando se fala em consultar um psicólogo: "O online ajuda a combater o estigma porque qualquer pessoa curiosa não precisa de falar com ninguém para experimentar". A questão do acesso acaba por fazer com que seja mais barato e fica mais acessível. "Acima de tudo, acho que é o conforto e a facilidade: hoje em dia já toda a gente usa telemóveis, e não tem de se deslocar meia hora ou uma hora, na cidade, para conseguir fazer uma consulta, ainda por cima, quase toda a gente prefere a mesma hora, depois ou antes do trabalho".
A plataforma acaba por facilitar o acesso e, "acima de tudo, ajuda na escolha". Isto porque um dos principais motivos pelo qual as pessoas não começam "é porque não sabem por onde é que hão de começar". "Podem até falar com um amigo que lhes diz ‘ah eu conheço este psicólogo’, mas se calhar ele é bom para um tipo de problema ou para um tipo de situação que não a minha", explica José Miguel. "A ideia do Zenklub é dar acesso à informação: os profissionais têm vídeos de apresentação, têm informações acerca das suas especialidades e eu acho que isso ajuda bastante as pessoas a escolher", continua.
A terapia de crise
Carolina Birr acredita que o online não é a única, mas é uma das grandes mais-valias desta plataforma "por causa da terapia de apoio na crise". "Uma pessoa que está a ter uma crise de ansiedade ou que está num momento de crise que é no ‘aqui’ e no ‘agora’ pode, com um simples clique, aceder a um profissional, porque há sempre profissionais que estão online, ou marcar uma consulta com alguém que esteja disponível", afirma explicando que, quando este tipo de crises acontece, a pessoa não pode esperar dois dias por uma consulta.
Em Portugal ainda acontece poucas vezes, comparando com o Brasil, onde têm mais de 600 profissionais ativos a vários horários do dia, cá são apenas 50. No entanto, José Miguel explica que "se o profissional estiver online consegue fazer o atendimento na hora".
As consultas e os profissionais
Ter uma consulta através da plataforma é bastante fácil: basta entrar no site, e lá existe "uma funcionalidade que o ajuda a escolher um profissional, ao responder a algumas questões, como uma espécie de questionário, que depois lhe dá algumas recomendações". Caso contrário, pode pesquisar por aquilo que procura: preço, género, especialidade ou mesmo o problema ou situação por que está a passar. Depois tem a lista dos profissionais à disposição e respetivos horários: "Ao clicar num horário é direcionado para um ecrã de pagamento, insere os dados do cartão (também temos outras opções, de pagamento). No dia da sessão é só aparecer no computador ou no telemóvel, porque temos uma aplicação, e está lá o profissional à espera, à hora marcada". As consultas podem custar entre os 25 e os 60 euros, tudo depende do psicólogo ou coach que escolher.
Todos os especialistas da plataforma estão devidamente apresentados: consegue saber que curso tirou, onde, quando e se tem outros diplomas. José Miguel afirma que " 90% dos especialistas são psicólogos", embora alguns desses prefiram atuar na área do coaching. Foi só este ano, em 2018, que abriram outras especialidades, isto porque, para além de trabalharem com pessoas independentes, também trabalham com empresas e, "algumas delas, falavam da necessidade de ter programas de coaching para os seus funcionários".
Todo o processo de recruta é acompanhado de perto por Rui Brandão, médico e sócio de José Miguel, e também por um psicólogo da equipa: "Inicialmente fizemos uma procura no mercado, ou seja, vimos quem é que eram os profissionais de referência e falámos com alguns. Depois avaliámos o currículo, entrevistámos e testámos a capacidade de trabalhar com online (porque é muito importante)."
O negócio tem crescido sobretudo com a informação a circular no boca-a-boca: "Um profissional recomenda a outro profissional ou encontram artigos sobre nós na internet. Vêm ter connosco e nós fazemos uma análise: se fizer sentido fica, se não, damos as nossas soluções técnicas para que eles possam atender os próprios clientes e, quando vemos que já fez 10 ou 15 atendimentos com clientes em que tem um rating de avaliações positivas, convidamo-los para que façam parte da homepage, onde podem ser encontrados pelos nossos clientes".
Para Carolina Birr esta é uma plataforma que "tem um nível de excelência de profissionais, que abrangem várias áreas e todas as necessidades no âmbito da psicologia. É uma plataforma que, para além disso, está a respeitar o mercado, o que é muito importante."
E ter profissionais competentes faz parte da excelência: "Está-se a posicionar, aos poucos, com profissionais que têm as valências necessárias, porque fazem parte da Ordem Portuguesa dos Psicólogos e porque são pessoas formadas e com uma vasta experiência. Portanto, para mim, considero, não só pela sua facilidade de acesso e imediatez que o Zenklub proporciona, mas porque realmente tudo o que é necessário para que este tipo de ferramenta funcione o Zenklub tem".