Inestético, pouco higiénico e até prejudicial para a saúde — todas estas definições se aplicam, segundo os especialistas, ao hábito de roer as unhas. No entanto, mais do que um simples vício, podem existir razões mais profundas que levam milhares de pessoas a não resistir a este tique.
De acordo com Júlia Machado, psicóloga no Hospital Lusíadas Porto, roer as unhas está “fortemente relacionado com ansiedade e insegurança, existindo estudos que confirmam a relação entre estas duas condições e a vontade de roer as unhas”.
A especialista refere também que, embora este hábito esteja relacionado com um conjunto diverso de fatores, existem outras investigações que já comprovaram que “quando estamos com fome ou aborrecidos, a passar por um momento de tédio, irritados ou frustrados, podemos ter tendência para roer as unhas”.
A força de vontade pode não ser suficiente
Seja para regressar ao ginásio, para cumprir uma dieta rigorosa ou até para sermos mais organizados com a organização da roupa em casa, a verdade é que recorremos sempre ao cliché da força de vontade para levarmos a cabo essas iniciativas.
Quando estamos com fome ou aborrecidos, a passar por um momento de tédio, irritados ou frustrados, podemos ter tendência para roer as unhas."
No entanto, no que diz respeito a cessar com o hábito de roer as unhas, a psicóloga Júlia Machado explica à MAGG que parar com este vício exige muito mais do que a simples iniciativa e força de vontade. “Roer as unhas torna-se um hábito, e um hábito muito difícil de eliminar. Para alguém conseguir ultrapassar esta condição é recomendado que recorra ao trabalho de equipa multidisciplinar.”
A especialista refere que, nesta equipa, devem constar um dermatologista e um psiquiatra para acompanhar a toma de psicofármacos, dado que, em alguns casos, “o roer das unhas pode estar associado a transtornos mais graves, como a perturbação obsessivo compulsiva. A pessoa tem de chegar à causa e perceber o que é que a faz roer as unhas, identificar situações, se foi desde criança ou não, se adquiriu o hábito mais tarde”. Caso estejamos a falar de uma criança, o apoio do pediatra é indispensável.
Porque é que tem de parar com este vício
A estética das mãos não é a única prejudicada pelo hábito de roer as unhas. Como explica à MAGG Manuela Paçô, dermatologista no Hospital Lusíadas Lisboa, o traumatismo recorrente das unhas (vulgo, roer) pode ter consequências mais graves.
“Roer as unhas nunca é bom. Para começar, é uma questão de higiene. No entanto, existem muitos outros problemas que surgem deste tique, como as infeções bacterianas. A pele fica magoada, sensibilizada e há uma muito maior probabilidade de surgirem panarícios.”
A deformação das unhas também é uma consequência negativa, dado que estas não crescem normais, mas sim com alterações da forma. “Para além disso, roer as unhas pode provocar outro tipo de doenças das unhas que não são infecciosas, mas são doenças na mesma e têm que se tratar”, esclarece Manuela Paçô.
Se para além de roer também ingerir as unhas, esse hábito torna-se ainda mais perigoso e prejudicial para a saúde. “Se as pessoas roem as unhas e as engolem, isso pode causar doenças gástricas. A unha é uma substância dura e, se estas se acumulam no estômago, as consequências gástricas são várias”, relata a especialista.
Quer parar de roer as unhas? Saiba o que o pode ajudar
A força de vontade pode não ser suficiente para acabar com este hábito, sendo possivelmente necessário o recurso a especialistas. No entanto, para além do acompanhamento psicológico e medicação, também existem truques mais simples que podem ajudar quem pretenda parar de roer as unhas de vez.
Unhas de gel
Principalmente para as mulheres (embora os homens possam optar por uma camada transparente e mais discreta), as unhas de gel podem ser uma boa alternativa para dificultar o processo de roer as unhas.
Para além de ser mais difícil roer a camada de gel, Catarina Santos, proprietária da Clous, um centro de unhas de gel, explica à MAGG que “as unhas estarem bonitas e arranjadas ajuda, por vezes, as pessoas a controlarem os seus instintos, dado que não querem estragar as mãos”.
Se esta não for uma alternativa, manter as unhas bem curtas e limadas evita as pontas e pode ajudar a controlar o instinto de as roer.
Bolas anti-stresse
Como explicam os especialistas, roer as unhas é um tique. Assim, tal como em qualquer outro tique nervoso, “tudo o que sejam hábitos que funcionem como distração, funcionam, tais como as bolas anti-stresse”, afirma Manuela Paçô.
A psicóloga Júlia Machado concorda que tudo o que canalize a ansiedade de outra forma, que não o roer as unhas, é uma ótima alternativa. “As bolas anti-stresse ajudam muito a acabar com este vício pois canalizam o foco da atenção na bola e não nas unhas. Seguindo a mesma lógica, a prática de exercício físico também é recomendada”.
Vernizes amargos
A lógica é simples: roer as unhas, para quem o faz frequentemente, está associado ao prazer. Assim, a utilização de vernizes amargos pode transformar este hábito num menos prazeroso e ajudar ao seu término.
Como explica Júlia Machado, “o facto de levar à boca um sabor mais amargo faz com que a pessoa comece a associar aquele gesto a algo agressivo e não de prazer. Pode demorar meses, mas esta associação acaba por se afirmar no cérebro”.
No entanto, a dermatologista Manuela Paçô acredita que os vernizes amargos são mais eficazes nas crianças (e mesmo assim com eficácia relativa), que terão desenvolvido este hábito há menos tempo. “Falando de vernizes, reconheço que os nutritivos podem ser úteis. Ajudam as unhas a tornarem-se resistentes e mais saudáveis. No entanto, estes produtos ajudam apenas a resistir mais à agressão do ato de roer — não ajuda a terminar com o vício.”