Talvez tenha amigos a viajar pelo mundo, colegas de trabalho a investir na carreira ou amigos do Facebook que não param de partilhar fotografias do seu último concerto. Enquanto isso, está a trabalhar ou sozinho em casa, a olhar para o telemóvel e a desejar estar a fazer tudo aquilo. Só que não está, e de repente isso deixa-o ansioso. Com medo. O que é que estará a perder? Será que não é verdadeiramente feliz?
O Fear of Missing Out (FOMO), em português "medo de ficar de fora", envolve uma ansiedade de que se possa estar a perder um momento excitante que está a acontecer noutro lugar. É esse medo que faz com que se esteja sempre a atualizar o feed das redes sociais, para saber o que é que os outros estão a fazer. Não se quer sentir excluído. Depois vem a questão: será que se estão a divertir mais do que eu?
Os níveis de FOMO podem variar de pessoa para pessoa. Já é possível fazer o teste: o psicólogo Andrew Przybylski, da Universidade de Essex, no Reino Unido, desenvolveu uma escala de dez perguntas que determinam o quão alto é o seu medo de ficar de fora: só tem de responder classificando-as de 1 a 5. No fim, basta somar todas as classificações e perceber em que nível está.
- Temo que outros tenham experiências mais recompensadoras do que eu.
- Temo que os meus amigos tenham experiências mais recompensadoras do que eu.
- Fico ansioso quando descubro que os meus amigos se estão a divertir sem mim ou que não me convidaram.
- Fico ansioso quando não sei o que meus amigos estão a fazer.
- É importante que eu me sinta integrada no grupo de amigos e entenda as brincadeiras deles.
- Costumo questionar-me se perco muito tempo a ver o que está a acontecer na vida dos meus amigos, nas redes sociais.
- Incomoda-me quando perco uma oportunidade de sair ou de me encontrar com os meus amigos.
- Quando me divirto, é importante partilhar todos os detalhes nas redes sociais.
- Incomoda-me quando falto a uma reunião planeada com os meus amigos.
- Quando vou de férias continuo a acompanhar o que os meus amigos estão a fazer, para ficar a par de tudo o que está a acontecer.
Se pontuar de 0 a 14 provavelmente não sofre deste fenómeno. Entre 15 a 22 está no risco de vir a sofrer. Dos 23 aos 29 sofre de FOMO médio. Se pontuar de 30 para cima, o seu nível de FOMO é severo.
O psicoterapeuta Pedro Martins explica que o FOMO acontece porque não se pode estar em todo o lado ao mesmo tempo. Há que fazer escolhas: "A arte de viver é a arte da renúncia, é preciso renunciar a umas coisas para ter outras. Aqui a renúncia tem o peso de perder qualquer coisa". E nem todos conseguem escolher o que perder, acabando por não ficar satisfeitos com nenhuma decisão: "Eu tenho de escolher a que festa vou mas, se fico a pensar que estou nesta festa e gostava de estar na outra, na verdade, acabo por não estar em nenhuma e dificilmente consigo tirar alguma satisfação. Mas, se estamos com medo do que estamos a perder, dificilmente ganhamos alguma coisa".
Pensamos que está alguma coisa mal connosco quando não conseguimos fazer tudo, e isso é uma atitude autodestrutiva e um objetivo impossível. Nós temos limites e, de alguma forma, não reconhecer isso é uma via aberta para aumentar a ansiedade e a depressão".
O fenómeno, que já existe há vários anos, ganhou maiores proporções por causa das redes sociais — tudo porque agora consegue estar ligado a toda a gente em todos os momentos. Pedro Martins afirma que "o FOMO é sentido independentemente da fonte de onde se obtém a informação do evento ou atividade social. Seja por um amigo ou nas redes sociais, o efeito é o mesmo". No entanto, com as redes sociais é natural que a ansiedade ainda possa ser maior: não há forma de não ver. "O próprio Facebook faz questão de lembrar que os meus amigos têm um evento, e os eventos que vão acontecer perto de mim".
"A satisfação das pessoas começou a ter por base o número de eventos, o número de amigos, o número de festas, o estar em todo o lado e o não perder nada do que acontece. O nosso valor acabou por ter uma base mais quantitativa do que qualitativa".
Para quem tenha este problema, Pedro Martins refere que o importante é perceber que é impossível estar em todo o lado e que há limites: "Pensamos que está alguma coisa mal connosco quando não conseguimos fazer tudo, e isso é uma atitude autodestrutiva e um objetivo impossível. Nós temos limites e, de alguma forma, não reconhecer isso é uma via aberta para aumentar a ansiedade e a depressão".
Por isso experimente pensar, sempre que sentir a ansiedade de estar a perder um momento importante, sobre estas simples perguntas. São essenciais para que consiga perceber se essa ansiedade que está a sentir é real ou não.
É isto algo que eu gostava realmente de estar a fazer?
Este sentimento nem sempre surge de ver alguém fazer algo que a pessoa gostaria de estar a fazer: "O FOMO não está relacionado com o desejo de fazer coisas, mas com o medo de perder, e o sentimento de perda de não conseguir fazer coisas". É importante perceber que o FOMO geralmente não deriva do desejo de ter feito a escolha específica que a outra pessoa fez, mas simplesmente do lembrete de que outras pessoas fizeram escolhas diferentes das suas.
É isso que desencadeia a essência do FOMO: a insegurança nas próprias escolhas. Com tantas opções o pensamento é sempre 'tomei a decisão certa?'. "As consequências do FOMO vão traduzir-se neste aspeto. Se nós tivermos consciência dos nossos limites, de alguma forma lidamos melhor com as escolhas", explica o psicoterapeuta.
Este sentimento está a dizer que preciso de mudar algo?
Pode dar-se o caso de ele apontar para algo mais profundo: que não está feliz com sua vida atual e que há outra coisa que gostaria de estar a fazer. Portanto, o ponto principal é descobrir a origem do FOMO: pode haver uma boa razão para que se sinta inseguro sobre suas decisões.
Isto é uma representação fiel da realidade?
Nem tudo o que se vê nas redes sociais e na televisão é a exata representação da realidade. Na maior parte das vezes ela é alterada, nem que seja porque só mostra a parte boa das pessoas e das situações. A maioria só partilha as fotografias mais bonitas e os lugares mais in. Portanto é essencial ter em mente que as imagens online são preparadas e pensadas ao pormenor e a vida real não é assim tão cor de rosa. Parar de ver constantemente as publicações dos amigos nas redes sociais talvez seja uma boa solução.
Se mesmo assim continuar a sofrer de FOMO, é provável que o caso seja mais grave. Para ultrapassar a questão o melhor é procurar ajuda médica. Pedro Martins explica que, "estas pessoas já tinham certas características que depois se juntaram ao FOMO. Mesmo que a ela pare de ver as redes sociais, isso não melhorará a sua auto-estima ou as dificuldades relacionais". Na essência dos aspetos da auto-estima, o deixar as redes sociais de lado não vai realmente acabar com o problema, no entanto pode fazer com que viva "menos angustiado e com menos ansiedade".
"Eu posso conter-me e tomar atitudes práticas, mas isso tem pouco efeito internamente se já tiver os outros problemas". No entanto há uma boa notícia: "Este fenómeno tem o hábito de diminuir com a idade: de alguma forma perde-se um bocadinho [o querer estar em todo o lado]".