Will McCallum é um ativista contra o uso do plástico. Não falamos aqui de levar um saco de pano para ir às compras ou de beber água na garrafa que traz de casa. Falamos sim de alguém que tem dedicado os seus últimos anos a criar no Oceano Antártico aquela que é a maior área protegida do mundo.
Começou a interessar-se por tudo o que era natureza ainda em criança, com os documentários de David Attenborough. A partir daí decidiu que o seu papel não seria só de espectador e pôs-se a caminho.
É o líder da campanha para proteção dos oceanos da Greenpeace, papel que o leva em aventuras como a mais recente: passar um mês num barco na Antártida a investigar até que ponto o plástico está a atingir a região mais remota do planeta. O cenário que encontrou está longe do ideal e, como tal, decidiu escrever o livro "Viver sem plástico", no qual mostra que é possível viver — não dizemos sem — mas, pelo menos, com muito menos plástico e que existem pequenos passos que podem ter consequências positivas em casa, na nossa rua, em Portugal e até nessas terras geladas para onde costuma ir para provar que o impacto de cada um é mesmo global.
Como nos tornámos tão dependentes do plástico?
Não nos foi dada propriamente uma escolha. As empresas criaram uma situação em que é quase impossível passar um único dia sem usar um pedaço de plástico. Durante muitos anos a questão do plástico nos oceanos foi atribuída somente aos consumidores, mas agora as pessoas percebem que todos contribuíram para esse problema, o que significa que todos — incluindo governos e empresas — têm um papel a desempenhar para ajudar a resolvê-lo.
Estamos a falar de anos de preguiça, de falta de interesse ou de falta de informação?
Nenhuma delas. Já toda a gente teve a experiência de ir a um sítio super bonito no meio da natureza, encontrar lá plástico e ficar a pensar que, de facto, está mesmo em todo o lado. Mas a verdade é que, com tantos problemas para ultrapassar e escolhas para fazer no dia a dia, acabamos por ter outras prioridades que não a de diminuir o uso de plástico. Foi exatamente por isso que decidi escrever este livro, pode ajudar a facilitar essas escolhas e servir de guia para quem quer ir na direção certa.
Como é que chegámos ao ponto em que temos verdadeiras ilhas de plástico (há uma no Pacífico que tem 17 vezes o tamanho de Portugal)?
Um camião de lixo de plástico entra no oceano a cada minuto e, uma vez no oceano, pode ser transportado pelas correntes à volta do mundo. A verdade é que nós produzimos mais do que 300 milhões de toneladas de plástico por ano e nenhum sistema de controlo de resíduos está equipado para lidar com este volume. É muito ingénuo da nossa parte pensar que poderíamos criar um produto que é usado apenas uma vez, alguns por apenas poucos minutos, deitá-lo fora e pensar que isso não tem impacto no ambiente.
Qual foi o pior exemplo da poluição que você viu até hoje?
Encontrar plástico no Mar de Weddell, uma das áreas mais remotas da o planeta, é algo que nunca vou esquecer. Circundei um icebergue que era quatro vezes o tamanho do nosso navio, e do outro lado havia pedaços de plástico colorido. Foi devastador ver um cenário daqueles num ambiente tão puro.
Fazer reciclagem deixou de ser suficiente?
A reciclagem não é suficiente para lidar com a quantidade de plástico que produzimos. Tem um papel importante, claro, mas a única solução real para lidar com o problema é reduzir drasticamente a quantidade total que produzimos.
Mas acredito que também haja bons exemplos. Qual foi o melhor que encontrou?
Acho sempre que os melhores exemplos para reduzir o uso de plástico são os mais tradicionais: beber água da torneira, comprar a granel e fazer o almoço para levar quando sai de casa. Estas são soluções fáceis de pôr em prática e teriam, só por si, um impacto enorme.
Quem são as suas maiores influências neste mundo do ativismo ambiental?
Há pessoas em todo o mundo a fazer um trabalho incrível, mas acho que Afroz Shah, na Índia, é uma inspiração absoluta quando se trata de diminuir o uso de plásticos. Ele conseguiu limpar uma praia que durante anos serviu de aterro sanitário, de tal forma que nem se via a areia. Depois de 85 semanas de trabalhos de limpeza e de terem sido retiradas mais de 5,3 toneladas de lixo, a praia está finalmente recuperada.
O que é que começou por fazer no seu dia a dia para reduzir o plástico?
Mudei muita coisa, mas talvez uma das coisas que teve mais impacto foi ter passado a fazer uma lista de compras. É algo que me ajuda organizar o dia a dia, comprar apenas a comida que preciso para os dias seguintes e ir preparado com sacos que me permitem fazer compras sem gastar mais sacos de plástico. É algo reduz não só o uso de plástico, mas também o desperdício alimentar.
Eu tentei viver um dia sem plástico e falhei completamente. É possível, digo, mesmo possível viver sem plástico?
Se estiver mesmo focado nesse objetivo, é possível sim. Há imensa gente que já o faz. Mas percebo que para a maioria essa meta é demasiado utópica. Para esses, recomendo que cada vez que sejam confrontados com plástico usado sem necessidade e que acham que o podem evitar, evitem-no. Nem que para isso se tenha que irritar com alguém, com o gerente da loja onde lhe é dado mais um saco de plástico, por exemplo.
Quem quiser começar agora a reduzir o plástico no seu dia a dia, deve começar por onde?
Comece com aquilo que chamo de "Big Four": usar uma caneca de café reutilizável, um saco reutilizável, uma garrafa de água reutilizável e diga não às palhinhas. Além disso, se for fumador, saiba que as beatas são o item de plástico mais encontrado nas praias. Pode sempre usar isso como mais um motivo para deixar de fumar.