Quando se pensa em arte africana, é quase impossível fugir às centenas de estátuas de elefantes, tartarugas e hipopótamos de madeira que vemos em feiras por este país fora. E quem viu uma dessas tendas, parece ter visto todas.
É redutor pensar nestas peças como um espelho do que de melhor se faz em arte em África, claro. Quer na forma quer nos materiais usados. Desde 2006 que o queniano Davis Ndungu prova isso através das obras que lhe saem das mãos.
Com uma matéria prima fora do comum — chinelos velhos — faz máscaras, esculturas de animais ou porta-chaves, com a vantagem de serem peças extremamente leves e coloridas.
Na verdade, Davis começou pela boa e clássica madeira, aos 14 anos, para a criação das primeiras esculturas, mas foi rápido a perceber que a tradição não era para si. Inspirou-se num grupo de mulheres que viu a fazer jóias com chinelos velhos e decidiu que essa seria também a base para as suas criações.
Caso de sucesso
Se inicialmente Davis tinha até vergonha de mostrar as suas peças e de admitir que fazia arte a partir de lixo, a forma como as suas peças iam sendo elogiadas obrigaram-no a mudar o mindset. De tal forma que, em 2010, acabou por sair do Quénia rumo a Joanesburgo, na África do Sul e, três anos depois assumiu um dos mais cobiçados lugares do mercado da Cidade do Cabo.
Os elefantes e as girafas de tamanho médio são as peças mais populares, mas Davis não se fecha a novos desafios. Houve até um cliente alemão que pagou dois mil euros por uma girafa de 1,80 metros que demorou sete semanas a estar acabada e exigiu a inserção de arames para que se mantivesse de pé.
Davis quer também dar resposta ao mercado local — e não só aos turistas — e por isso está a desenvolver agora peças mais úteis como porta-canetas, vasos e até móveis para crianças.
Transformar chinelos em arte
Se está a pensar na questão da higiene, saiba que ela está salvaguardada: os chinelos são sempre limpos com vinagre e lixívia. Depois desse processo, seleciona as cores — lamenta que haja sempre demasiado preto — e mistura as diferentes qualidades. Aqui admite que os chinelos da marca Havaianas são, de facto, os melhores para trabalhar. De seguida corta as partes curvas, une as diferentes peças e começa a dar-lhes forma com a faca à qual é fiel desde o início.
Demora cerca de uma hora para esculpir um elefante pequeno e mais uns vinte minutos a suavizar as arestas.
Com todo este minucioso trabalho, não é fácil encontrar Davis na sua banca de 8 metros quadrados. Passa cinco dias por semana no seu estúdio e apenas dois a vender. Não admira que tenha já um inventário de 350 peças disponíveis.