A Too Good to Go é uma marca de combate ao desperdício alimentar que se tem tornado cada vez mais conhecida, tendo já ultrapassado os 200 milhões de surprise bags (caixas surpresa) salvas. É um facto que, especialmente em tempos de crise, as medidas para o combate ao desperdício alimentar estão em voga, mas esta empresa conseguiu atingir números de sucesso surpreendentes, chegando a cada vez mais pessoas. Falámos com a diretora de marketing da empresa, Mariana Banazol, de modo a perceber como se deu este crescimento, e também para dar a conhecer a marca a quem não a conhece, que tem como principal missão "a educação sobre aquilo que pressupõe o desperdício de alimentos".
Estamos a falar de uma empresa dinamarquesa, fundada em 2016, que atualmente se encontra presente em 17 países, e a sua lógica é bastante simples. "O nosso negócio é uma aplicação, onde juntamos restaurantes, ou empresas que têm produtos alimentares, ou retalhistas", no fundo, "qualquer estabelecimento que tenha comida", afirma Mariana Banazol. "Juntamos este tipo de estabelecimentos ao utilizador final permitindo que os primeiros vendam comida que vai ser desperdiçada, mas que está em bom estado para consumo, a um preço reduzido ao utilizador final".
"Se olharmos para números atuais da Too Good To Go em geral, já temos 135 mil estabelecimentos no mundo inteiro, nos 17 países, 75 milhões de utilizadores, e já salvámos mais de 200 milhões de surprise bags de serem desperdiçadas. Este é um quadro geral do nosso crescimento neste últimos anos, desde 2016", explica.
No caso de Portugal, a empresa iniciou operações em outubro de 2019. "Vamos fazer quatro anos este ano e já salvámos mais de dois milhões e meio de surprise bags de serem desperdiçadas, temos mais de 3700 estabelecimentos connosco na aplicação em todo o país, e já contamos com mais de um milhão e meio de utilizadores registados na nossa aplicação. Obviamente que isto, em menos de quatro anos, são conquistas das quais nos orgulhamos muito", realça a diretora de marketing.
Para quem não conhece, como funciona a aplicação?
A aplicação da Too Good To Go encontra-se disponível para download gratuito na AppStore, PlayStore ou no Google Play, e basta registar-se para ver os estabelecimentos aderentes, por proximidade, que têm comida por ser salva. "Compra-se na aplicação aquilo que chamamos a surprise bag, uma caixa surpresa. (...) Paga através da aplicação e depois dirige-se ao estabelecimento para a recolher. Os horários de recolha são ditados pelos nossos parceiros, consoante as suas operações, para gerirem o seu desperdício em loja".
Mariana explica que é necessário que as caixas para venda sejam surpresa, de modo a manter a essência da marca. "Não podemos pedir aos nossos parceiros para saberem a priori o que vai sobrar ao final do dia, seria muito complexo e faria com que estivessem menos motivados a lutar contra o desperdício alimentar", explica. "O utilizador compra esta caixa, não sabe o que vai ter, mas se vai comprar a partir de um restaurante italiano, por exemplo, pode assumir que vai receber uma massa ou uma pizza".
No que diz respeito à qualidade e segurança alimentar, a diretora de marketing explica que "10% do desperdício alimentar da Europa vem da falta de conhecimento entre aquilo que são os rótulos 'consumir até', e 'consumir de preferência antes de'".
"Estes rótulos têm significados distintos. (...) Todos os produtos que têm o rótulo 'consumir de preferência antes de' podem ser consumidos depois da data de validade ser ultrapassada se se mantiverem algumas características. Estas podem ser avaliadas através do aspeto do produto, se provarmos, e se cheirarmos. Se este tipo de características se mantiverem, e se o produto tiver sido bem armazenado pela pessoa, poderá ser consumido", refere.
"10% do desperdício alimentar da Europa vem da falta de conhecimento entre aquilo que são os rótulos 'consumir até', e 'consumir de preferência antes de'", explica a diretora de marketing da Too Good To Go
A diretora de marketing da empresa na península ibérica, que trabalha com marcas como a Danone, a Nestlé, ou a Bimbo, refere que até nos produtos destas empresas a Too Good To Go coloca "um pictograma nas suas embalagens, de 'consumir de preferência antes de', onde pedimos às pessoas para observar, cheirar, provar, antes de deitar fora o alimento".
Basicamente, a ideia é: "usar os sentidos, antes de tomar a decisão final, um bocadinho para evitar aquele comportamento que por vezes temos em casa, de olhar para um produto que passou a data de validade e deitar fora". "Pedimos às pessoas para, efetivamente, observarem, cheirarem e provarem antes de tomarem uma decisão".
Crescimento da Too Good to Go em Portugal
Mariana, que está na empresa desde o primeiro dia, confessa que o crescimento foi "um bocadinho atípico", dado que foi lançada em 2019, "e passado cinco meses tivemos a pandemia". Porém, explica que se reuniram várias condições que permitiram fazer com que a marca crescesse até ao momento atual, mesmo numa altura complicada para muitos negócios.
- Foram os primeiros no mercado: "obviamente hoje em dia já existem mais soluções com as quais nos comparamos, mas o facto de termos sido a primeira com mais visibilidade ajudou, foi um facto";
- Contexto económico: "evidentemente encaixamos numa necessidade de mercado que é a procura de preços mais reduzidos, sobretudo quando falamos de alimentação, que é uma necessidade";
- Preocupação crescente das empresas perante o desperdício alimentar: "desde grandes retalhistas, ao mercado da restauração, ou empresas de distribuição, entre outros, olham para este tipo de problema, porque a verdade é que existem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável", da Agenda de 2030, cujos princípios passam, nomeadamente, por reduzir "os números de desperdício alimentar para 50%". "Como isto está na agenda política dos países, faz com que os mesmos levantem esta necessidade perante empresas-chaves, como retalhistas, porque existe um objetivo comum enquanto sociedade, e a Too Good To Go encaixa perfeitamente numa estratégia deste tipo de empresas".
Perante o atual cenário de crise e inflação, Mariana Banazol confessa que já existe um crescimento da empresa, que oferece opções mais baratas aos consumidores. "Se olharmos para números entre 2021 e 2022, sendo este último ano o período em que se iniciou uma crise mais acentuada, vemos que houve um crescimento de 42% de número de utilizadores em 2022 versus 2021. (...) São crescimentos anuais muito altos, que nós efetivamente assumimos que tem a ver com o contexto económico", afirma.
"Precisamos de fazer eco à nossa missão"
Qualquer comerciante que tenha um estabelecimento pode associar-se com a marca, desde que "tenha comida por ser salva", explica Mariana Banazol. Basta "ter desperdício alimentar". "Temos ambições bastante elevadas. Queremos, até 2025, salvar um mil milhões de surprise bags no mundo inteiro. (...) Por isso, tentamos fazer as coisas de forma o mais simples possível, ou seja, permitir que qualquer estabelecimento que tenha desperdício alimentar em loja venda na nossa aplicação. Obviamente que depois fazemos um acompanhamento das operações deste estabelecimento e de como funciona connosco, para garantir que percebem a nossa missão, que conseguem entregar surprise bags comestíveis. Fazemos este acompanhamento de educação com eles, com uma equipa específica".
A diretora de marketing da Too Good To Go deixa ainda uma nota quanto ao futuro da marca. "Queremos que esta nossa missão chegue a toda a gente, e que seja uma solução escalável, tanto para os nossos parceiros como para os nossos utilizadores. (...) Mas sabemos que também muito da nossa missão está relacionada com a educação que as marcas, empresas e entidades públicas fazem sobre o problema do desperdício de alimentos", confessa.
"Sabemos que isto é uma luta de vários tipos de intervenientes, e sabemos que somos só mais um deles. Precisamos de colaborações, e precisamos de fazer eco à nossa missão, para conseguir chegar a mais e mais pessoas, mais e mais parceiros, e tornar isto uma solução que seja fácil para todos", conclui a diretora de marketing da Too Good To Go.