Para cada grande produção como “A Guerra dos Tronos”, há cinco ou mais séries que passam despercebidas e que não são conhecidas ao ponto de se tornarem assunto de conversa em jantares de amigos. “The Americans”, terminado em 2018 e considerado pela crítica como um dos melhores (e mais desconhecidos) títulos dos últimos anos, é só um exemplo.
Todas as semanas, a MAGG traz-lhe uma sugestão imperdível na nova rubrica “A série que ninguém está a ver”, com o objetivo de dar a conhecer algumas das produções com menos visibilidade — mas que merecem tantos ou mais elogios como outras populares.
Depois de "Hinterland", a nova sugestão é "Fariña", a série galega que promete entreter todos aqueles que começaram por gostar de "Narcos", mas que agora já não a podem ver a série à frente com tanta mudança na história. É que depois de Pablo Escobar, interpretado por Wagner Moura, a história que nunca foi incrível (mas que tinha carisma) foi perdendo a força.
"Fariña" é uma produção do grupo Atresmedia, o mesmo responsável por "La Casa de Papel", e passa-se na década de 80. Nesta altura, o setor da pesca sofre drásticas alterações e endivida muitos dos pescadores que dependiam do seu trabalho para garantir que as famílias tinham comida na mesa ao final do dia.
É essa a conjuntura que leva a que, para assegurar a sobrevivência, grande parte dos pescadores recorra ao contrabando de tabaco pelo mar fora — naquele que constitui um pequeno delito punível apenas com uma multa simbólica. E que em nada impede a atividade ilegal.
Só que com o sucesso do negócio e a influência que os pescadores passam a exercer em toda a região, formam uma aliança e tornam-se nos senhores mais poderosos do estuário de Ría de Arousa.
A mudança na história, que surge sempre que é necessário tornar a ação mais tensa e interessante, acontece quando os traficantes de tabaco veem a oportunidade de passar ao tráfico de substâncias pesadas, como cocaína ou haxixe, produzidas e transportadas pelos traficantes colombianas liderados por Pablo Escobar.
E enquanto uns decidem não agarrar a oportunidade, por temer penas de prisão elevadas ou até mesmo a extradição para os Estados Unidos, outros arriscam e tornam-se mais ricos e perigosos.
O resto já sabe como acaba: traições, lutas de poder, morte e sangue. Tudo isto com o objetivo de dominar um império sobre o mar que, a certa altura, chega a envolver Portugal. E se tudo o que leu até agora lhe parece uma boa narrativa de ficção, vai gostar de saber que toda a série é baseada em factos reais.
Tanto o é que algumas das figuras mais importantes da organização galega ficaram incomodadas com a forma como foram representadas na série através das suas personagens.
Por exemplo, o verdadeiro Laureano Oubiña, um dos traficantes, diz que as cenas de sexo serviram como forma de difamação e tiveram como único propósito atacar o seu caráter. Já Manuel Charlin, chefe de uma das organizações mais influentes da região, revelou que não agredia com tanta regularidade os filhos como era mostrado na série.
Mas o mais insólito de tudo isto é que quando Sito Miñanco, a figura central da história, foi preso, em fevereiro, as autoridades reportaram que o traficante se encontrava na posse do argumento original da série.
Ao jornal "El Español", a produtora diz que nenhum membro da equipa terá facultado o documento e que ainda hoje não conseguem perceber como terá tido acesso aos detalhes das gravações.
Mas a verdade é que o tinha. Com que objetivo? Nunca o saberemos, até porque o código de silêncio a que estes mafiosos estão sujeitos os impede de revelar o que quer que seja sobre os seus esquemas. A primeira e única temporada de "Fariña", que conta com dez episódios de cerca de 70 minutos cada, está inteiramente disponível na Netflix.