Para cada grande produção como “A Guerra dos Tronos”, há cinco ou mais séries que passam despercebidas e que não são conhecidas ao ponto de se tornarem assunto de conversa em jantares de amigos. “The Americans”, terminado em 2018 e considerado pela crítica como um dos melhores (e mais desconhecidos) títulos dos últimos anos, é só um exemplo.

Todas as semanas, a MAGG traz-lhe uma sugestão imperdível na nova rubrica “A série que ninguém está a ver”, com o objetivo de dar a conhecer algumas das produções com menos visibilidade — mas que merecem tantos ou mais elogios como outras populares.

Depois de "The Boys", a nova sugestão é "Hinterland", a série galesa que acompanha os esforços de um detetive especial da polícia que tenta, a todo o custo, resolver casos complexos e macabros. E a aposta na série foi tal que, a compra dos direitos pela BBC implicou que tivesse de ser filmada uma segunda vez e totalmente em inglês.

E esse esforço é capaz de transparecer no rosto do protagonista, Richard Harrington, que só teve direito a um dia de folga durante os 124 dias de gravações. A sua personagem, como qualquer polícia da ficção moderna, é sofrida, enigmática, errante e com um passado difícil com o qual precisa de se reconciliar. E isso faz dele um agente perspicaz, brilhante e pouco impressionável quando os cenários de crime que encontra são sangrentos e violentos.

Tal como "Broadchurch" ou "Luther", "Hinterland" distingue-se por ter personagens complexas, uma história mais negra do que o costume e uma densidade pouco habitual quando o tema é o típico dilema de polícias em busca de criminosos. Com três temporadas, todas elas disponíveis na Netflix, a série procura ser o mais próxima possível da realidade no que toca à forma de se investigar um crime.

E isso deve-se muito ao trabalho de atores que, antes das gravações, passaram vários dias com agentes reais para perceber como se desenrolava uma investigação.

Mali Harries, uma das protagonistas, revelou ao jornal britânico "The Guardian" que o maior ensinamento que recebeu foi a importância de ser capaz de chegar à verdade por detrás do crime.

"Os agentes da polícia com quem aprendi disseram-me que o aspeto fundamental de resolver um caso era tentar chegar à verdade. Em qualquer história que protagonizámos, tentámos diferenciar a verdade da mentira", explica. Só que a verdade pode ser inconveniente e transformar, de forma drástica, os protagonistas que, a cada episódio, têm um novo crime para resolver e que muitas vezes os obriga a olhar para eles próprios.

E é aí que está a beleza da série que nunca se limita a resolver um caso por episódio e seguir a história como se nada tivesse acontecido. As personagens são afetadas, física e psicologicamente, por aquilo com que têm de lidar. E os espectadores não têm outra opção que não ser meras testemunhas dos horrores que vão aparecer no ecrã.

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Mas mais do que o formato de investigação criminal, que já vimos replicados em tantas outras séries, são as paisagens do País de Gales que servem para dar um ambiente mais negro e misterioso à ação — e que é, em tudo, diferente da energia cosmopolita e urbana das histórias passadas nas grandes cidades globalizadas.

Em "Hinterland", a narrativa está constantemente de mão dada com a natureza naquele que parece ser um dos pontos mais simbólicos da série: que tal como os criminosos, também os agentes têm de ceder ao lado primário e selvagem. Só assim são capazes de pensar como os assassinos que perseguem e entender como terão sido capazes dos crimes que cometeram.

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