Depois de ter dado vida a Fred Romão, o hilariante espalha-brasas do Colégio da Barra nas três temporadas do reboot de "Morangos com Açúcar", Cláudio de Castro vai mostrar-nos um lado mais sombrio em "A Fazenda". A nova trama da TVI estreia esta segunda-feira, 25 de novembro, e conta com o elenco com maior diversidade da história das novelas portuguesas.

Na história escrita por Maria João Mira, o ator de 24 anos dá vida ao vilão Duarte Barbosa, que vai andar a fazer das suas entre os vários núcleos. A novela, uma coprodução TVI e Prime Video, marca a estreia de Cláudio de Castro neste formato. O ator iniciou a carreira há cerca de uma década, com um percurso maioritariamente no teatro.

Leia a entrevista

Como estão a correr as gravações?
Estão a correr muito bem. Estamos há pouco mais de um mês a gravar, tem sido uma experiência absolutamente inacreditável.

Fale-me da sua personagem.
Duarte Barbosa...está a ser um desafio incrível, juntamente com os "Morangos com Açúcar". [O Fred] era uma personagem muito leve, muito cómica. O Duarte vem trazer outras texturas, outras formas de trabalhar. Temos aqui um pequeno vilão. Deu-me a hipótese de me distanciar do que estava a fazer. Calhou-me a melhor mãe do mundo, a São José Correia, uma atriz de peso que me tem ensinado muito. O Pedro Hossi é o meu pai. Estou neste núcleo da família principal. A Kelly [Bailey], a Magui [Corceiro] e a Inês [Aguiar] são minhas primas, eu sou a ovelha negra da família.

A Fazenda primeiro episódio
A Fazenda primeiro episódio Cláudio de Castro dá vida a Duarte Barbosa, filho de São José Correia (Alba Meireles)

Quão ovelha negra?
Muito ovelha negra. A cada episódio, as pessoas não vão acreditar nas maldades que o Duarte anda a tramar. O Diogo [Infante] e a Dalila [Carmo] são meus tios e, depois, faço par romântico com a Maya Booth, um romance com uma diferença de idades bastante grande. Uma relação um bocado Bonnie and Clyde, que vai trazer muita trama à história. A Madalena Brandão é minha madrasta. O Duarte tem uma coisa muito boa: a maldade dele é transversal a quase todos os núcleos. Ele vai semear um bocadinho de discórdia em todo o lado.

As gravações do reboot de "Morangos com Açúcar" começaram há um ano e meio. Como tem sido este período para si?
Está a ser absolutamente inacreditável. Primeiro, foi muito bom este voto de confiança que a TVI me deu, de me passar a este formato, com uma responsabilidade acrescida, uma maior continuidade, um projeto de maior envergadura. Mas tem sido uma loucura completa. Eu tenho recebido e ainda recebo muito amor por causa dos "Morangos". O Fred foi uma personagem que marcou um bocadinho os jovens e agora estou a tentar chegar ao público mais velho. Espero que eles gostem da mesma maneira.

Tomás Taborda (Harry), Cláudio de Castro (Fred) e Vicente Gil (Miguel)
Tomás Taborda (Harry), Cláudio de Castro (Fred) e Vicente Gil (Miguel) Tomás Taborda (Harry), Cláudio de Castro (Fred) e Vicente Gil (Miguel) créditos: @a_bento

O Cláudio começou da forma mais difícil, pela comédia.
Por acaso, é uma veia que me é natural. Tenho tido um desafio maior neste naturalismo e no drama. Está a ser igualmente bom, mas tem sido um desafio maior.

"Esta possibilidade de chegar a Angola e de Angola chegar a nós, e de o imaginário angolano povoar o imaginário português, é muito importante"

Nota diferença no ritmo de gravações?
Sem dúvida. Nos "Morangos", gravámos 30 episódios no total, o que culminou em três temporadas. Aqui, estamos a gravar 200 episódios que irão passar durante meses. É muito mais trabalho, muitas vezes de 12 horas por dia. Temos que chegar a casa e decorar as cenas para o dia a seguir. Os "Morangos" são um bocadinho mais leves. Mas eu sou completamente um workaholic. Adoro trabalho. Este desafio veio espicaçar ainda mais esta vontade. Sem dúvida.

11 anos depois da novela "A Única Mulher", a TVI volta a apostar num elenco com diversidade. Refiro-me à cor dos atores. É algo que não vemos muito na televisão na generalista e, no momento em que vivemos, de extremismos, ainda mais raro. Considera importante que as pessoas não brancas se vejam representadas na televisão?
Sem dúvida. Gabo à TVI a coragem de o fazer também. É importante que emissoras desta envergadura apostem em projetos como este. Nós temos cerca de 250 mil angolanos a viver em Portugal, cerca de 150 mil portugueses a viver em Angola. São países com uma irmandade de muitos anos. Há muitas histórias entre os dois países para contar. Esta possibilidade de chegar a Angola e de Angola chegar a nós, e de o imaginário angolano povoar o imaginário português, é muito importante. Em relação à representatividade, acho que é um projeto lindíssimo em que, pela primeira vez, desde que faço teatro, o que acontece desde os 14, 15 anos, consigo olhar à minha volta e ver um elenco de atores e atriz negras, que é algo que nos deixa extremamente felizes.

E não é só um ator ou uma atriz.
Sim, é muita gente. É a TVI provar ao panorama do entretenimento em Portugal que estes atores e estas atrizes também estão aqui é algo de muito valor.

Como é que, sendo uma pessoa não branca, viu os acontecimentos do último mês, o que se passou no bairro do Zambujal e as conversas que daí surgiram, os discursos de ódio contra as pessoas não brancas que, muitas vezes, originam do desconhecimento? 
Eu sou filho de uma portuguesa branca e de um carioca do Rio de Janeiro, negro. Só muito mais tarde é que eu vim a perceber o impacto que estas coisas têm na sociedade. Porque dentro de casa eu era o resultado do amor entre essas duas pessoas. Para mim, essa linguagem não existia porque aquelas duas pessoas amavam-se e tiveram-me. Portanto, era completamente impossível conceptualizar o racismo ali. Quando vim para o mundo real, comecei a perceber todas estas adversidades de que falamos.

Eu acho que o que tem acontecido ultimamente é o reflexo do que está a acontecer no mundo inteiro, os extremismos, e acho que a única maneira de o contrariarmos é mesmo com amor, com cada vez mais mistura e o produto dessa mistura à frente de toda a gente. É por isso que eu também acho que esta novela é muito importante. Vai entrar em casa de todos os portugueses e terão de lidar com os corpos brancos e com os corpos negros todos os dias, de segunda-feira a sexta-feira, na vossa sala.

Às vezes, é a melhor forma.
Sem dúvida. Nós estamos aqui todos, em união, como coletivo, a criar algo bonito para toda a gente, e nem sequer pensamos nisso. Não estamos a criar para estas ou para aquelas pessoas. Estamos a criar para toda a gente e a ficção tem esse impacto de unir. Portanto, vejam-nos unidos e unam-se também.