Em outubro do ano passado, a televisão nacional voltou a encher-se de talento e os nossos serões de domingo passaram a ser mais emocionantes. Falamos da nona edição do "The Voice Portugal", que foi para o ar a 17 de outubro e que, uma vez mais, surpreendeu pela qualidade e diversidade.
Na final, que acontece já no próximo domingo, 23 de janeiro, o programa contará com João Leote (da equipa de Marisa Liz), Mariana Rocha (da equipa de Aurea), Rodrigo Lourenço (da equipa de António Zambujo) e Daniel Fernandes e Edmundo Inácio (da equipa de Diogo Piçarra).
O programa da RTP1, que este ano já completou uma década, tem sido uma caixinha de surpresas ao tornar-se o primeiro grande palco de muitos artistas que hoje esgotam salas inteiras de espetáculos por esse País fora. Se o mesmo vai acontecer com os concorrentes de 2021/2022, ainda não sabemos, mas as expectativas são grandes — tão grandes como o talento indiscutível que cada um tem.
Para a escolha dos quatro primeiros finalistas contou a votação do público e 50% dos votos dos mentores (que nunca poderiam ser divididos de forma igual). Numa primeira fase de votações, a equipa de Marisa Liz despediu-se de João Neves, Aurea deixou de contar com a artista Francisca Oliveira, António Zambujo disse adeus a Maria Inês Graça e Diogo Piçarra despediu-se de Edmundo Inácio (mas foi por pouco tempo).
Depois de escolhidos os quatro finalistas de cada equipa, foi revelada a surpresa da noite: o público tinha mais dez minutos para escolher o quinto finalista. O escolhido pelo público foi então Edmundo Inácio, o concorrente de 22 anos, natural de Portimão, que decidiu levar a palco uma versão da música "Sonhos de Menino", de Tony Carreira.
O talento dos cinco finalistas é inquestionável, mas os jornalistas da MAGG têm um favorito — e explicam porquê.
Bruna Gonçalves — Mariana Rocha
Sozinha, ao piano, Mariana Rocha deixou Portugal de queixo caído e pele arrepiada com o tema “Arcade”, de Duncan Lurence , nas Provas Cegas. Conquistou a malta sem aviso prévio e deixou meio mundo de lágrima no canto do olho.
E depois do brilharete com a “Melodia da Saudade”, “When The Party’s Over” e, claro, “Easy on Me”, este domingo voltou a apelar ao sentimento com “Everybody Hurts” e mostrou, mais uma vez, que não veio replicar versões alheias. Com um sotaque carregado, uma voz que não deixa ninguém indiferente e um estilo único, não há dúvidas de que vai ser a voz de Portugal.
Mariana Carriço — Mariana Rocha
Quando deu a primeira nota no palco do "The Voice", a minha reação foi: "Eu conheço esta voz". Tenho por hábito acompanhar os programas de talentos da televisão nacional e a verdade é que há vozes e artistas que nunca mais nos saem da memória — e a Mariana Rocha foi uma delas.
A voz poderosa e o talento inquestionável apelaram à emoção, programa após programa, e fizeram-me querer recorrer ao Youtube para voltar a ouvir algumas das prestações. Quando tenho vontade de voltar a ouvir algum concorrente e alguma das suas versões só pode ser sinal de que, quando houver um álbum, também o vou querer ouvir. Pela consistência, talento e sentimento que transmite ao cantar, não há dúvida de que a Mariana Rocha merece ser a voz de Portugal.
Rafaela Simões — Edmundo Inácio
A respiração quase fica suspensa, os meus joelhos também querem ir ao chão quando o artista que dá voz a temas portugueses se atira para o palco — e arrisca-se a levar com um "shiu" agressivo quem se atrever a falar durante as atuações do Edmundo Inácio. E quando coisas destas acontecem, sei que está escolhido aquele que para mim deve ser o vencedor.
Em entrevista à MAGG deu a conhecer as suas raízes, Portimão e grande ligação família à pesca, e mesmo depois de ter estado a estudar no Reino Unido quer continuar a preservar através da música. Não lhe falta trabalho até agora, mas vencer o programa era uma ajudinha merecida. Venha ela.
Catarina da Eira Ballestero — Edmundo Inácio
Se houver justiça no mundo, Edmundo Inácio leva o "caneco" para casa. O algarvio de 22 anos é o protagonista daquelas histórias de sonho, superação e filme de domingo à tarde: concorreu em 2015, com apenas 16 anos, e não conseguiu virar nenhuma cadeira nas Provas Cegas. Fast forward para 2021 (sim, que a edição do "The Voice" começou no ano passado), fez uma das Provas Cegas mais emblemáticas de sempre com uma versão arrepiante de "Não vás ao mar, Tonho", e acabou por escolher Marisa Liz como mentora.
Mas, calma, que até chegar à final, o caminho foi turbulento: nas batalhas, Marisa acabou por se decidir por Miguel Dias, mas Edmundo encantou tanto com "Andorinha da Primavera" que se deu ao luxo de poder escolher um novo mentor, depois de ser salvo. Foi parar à equipa de Diogo Piçarra e fez um percurso brilhante até este domingo — e sempre em português.
Na semi-final, e já depois de ter deixado tudo à toa ao fazer o inédito e trazer um tema de Tony Carreira — "Sonhos de Menino" —, ainda houve tempo para mais emoção e para eu estar por um triz a mandar uma caneca à televisão. Diogo Piçarra dividiu as suas percentagens com maior margem para Edmundo (30% contra 20% de Daniel Fernandes), mas a votação do público ditou que fosse Daniel a passar para a final.
Quando já ninguém acreditava que fosse possível (mais ou menos como eu estou em relação às perspectivas de o meu Benfica ser campeão), Edmundo torna-se o quinto finalista numa votação extra do público.
E, meus caros, porque é que Edmundo merece ganhar o "The Voice Portugal"? É verdade que passou por tudo isto. É verdade que tem uma voz do caraças. É verdade que cantou sempre em português, e, de acordo com o próprio mentor, é ele quem pensa todas as versões, melodias, interpretações.
Mas, acima de tudo, Edmundo merece ganhar devido a três palavrinhas: "Comunhão de Bens". Quem faz o que este rapaz fez com este tema de Ágata, que me pôs uma semana em loop a ir ao YouTube ouvir a atuação, merece todos os reconhecimentos e mais alguns. Edmundo Inácio não é só um cantor, é um artista.
Mesmo que tenha cantado com uma tuna. Uma tuna, Edmundo. Pior só escuteiros. Mas vá, eu a ti perdoo-te tudo.