O mais recente convidado de "Conta-me", o programa de conversa conduzido por Manuel Luís Goucha, foi o escritor e apresentador da RTP Hélder Reis. Ao longo de pouco mais de meia hora, o apresentador falou abertamente da morte da mãe, em 2020, e das pessoas que lhe faltaram durante o processo de luto. Uma delas foi Manuel Luís Goucha, que se emocionou por diversas vezes durante a conversa.
Sentados à conversa em Serralves, no Porto, Hélder Reis começa por fazer o retrospetiva sobre a sua vida e as pessoas que foi perdendo ao longo do caminho. "A vida e as pessoas tiraram-me sonhos e expectativas, mas acrescentei alguma razão". Perder algumas expectativas, conta, foi o melhor que podia ter feito já que "sofria muito com essa ideia" pensar se as pessoas podiam gostar ou não de si.
"Pensava muito nisso e, quando percebia que elas não gostavam, ficava triste. Sofria muito." Hoje, diz, está mais confiante de si. E mais forte. A vida, sabemos agora, obrigou-o a isso.
"A morte da minha mãe [em 2020] tornou-me extremamente mais seguro, mas com muita dor. Foi e será para sempre a maior dor da minha vida. Mas, por outro lado, a maior construção humana que alguma vez tive", contou a Manuel Luís Goucha, sempre de lágrimas nos olhos.
"Parte de mim morreu naquele dia, mas nasceu outra. É óbvio que não sou a única pessoa enlutada neste País, especialmente nas condições em que vivemos atualmente [referindo-se ao contexto pandémico], mas crescer e rejuvenescer com o luto é uma atitude muito forte e violenta. É como ires contra uma parede, voltares e teres de refazer-te."
Quando a mãe morreu, Hélder, conta, foi a casa dela e trouxe consigo alguns dos objetos que ela mais usava. "O dedal com que arranjava a minha roupa, os brincos de que mais gostava e os olhos com que ela me via. Fiz pequenos quadros com esses objetos e espalhei-os pela casa. Ainda não sinto que ela esteja ali quando olho para eles, porque ainda não cheguei a essa fase, mas sinto muita saudade", revela.
Quando Manuel Luís Goucha lhe pergunta do que mais sente saudades, os dois emocionam-se. "Sinto saudades dos olhos dela, de os ter a olhar para mim. Porque sentires-te visto por quem te ama, é quase como se te sentisses vestido. Ainda não consegui apagar o número dela do meu telemóvel. Sinto muita falta."
Nesse processo de luto, diz, a vida encarregou-se de lhe ir tirando pessoas da sua vida. "Perdi amigos e colegas, pessoas que estavam comigo há muitos anos, mas que não me acrescentavam. Com 45 anos, hoje posso dizer que certas pessoas não me acrescentam."
Naquele que foi um dos momentos mais emocionantes da conversa, Manuel Luís Goucha pergunta-lhe se lhe faltaram pessoas. E antes que Hélder Reis pudesse responder, Goucha é assertivo. "Faltei eu. Desiludi-te", diz, em lágrimas. "Fizeste-me muita falta porque tu sempre assumiste um papel muito paternal na minha vida. Estiveste presente em todos os grandes momentos. E no momento em que a minha mãe morre, a pessoa que era a figura paternal da minha vida não esteve. Fizeste-me falta."
À pergunta "desculpaste-me?", Reis garante que nunca se zangou. Num gesto que Goucha diz ter sido "imperdoável", recorda que, no momento em que o amigo passou pela morte da mãe, esteve ausente em vez de o apoiar.
"Não alimento raivas nem pensamentos negativos. Disse-te que me tinhas feito falta porque era importante saberes isso. Não estiveste lá, mas hoje estás e a vida avança. No fundo, é isso que conta", garantiu Hélder Reis.