O meu amor a casamentos foi ficando diluido a cada copo de champanhe que me obrigam a beber sob fogo de artifício e música do James Blunt.

Em criança, lembro de ficar escandalizada quando vi fotografias do casamento dos meus pais. O meu pai de fato, nada de novo numa pessoa que foi bancária, e a minha mãe de vestido roxo. Não havia rendas brancas, maquilhagem, nem sequer igreja e pessoas a chorar. Casaram em casa dos meus avós e apenas com a família mais próxima. O meu cérebro moldado a Yasmins em tapetes voadores não foi capaz de processar tal informação. Lancei aquilo para os confins do meu cérebro e continuei na minha: eu, quando casar, vai ser de véu e grinalda com uma igreja cheia de gente a olhar para mim.

Não fosse eu a pessoa que critica quem diz vocaliza a expressão LOL, diria LOL bem alto neste momento. Não só agora sou filha de pais divorciados, como só de pensar em rendas e folhos fico já com comichões em zonas que não fica bem dizer num texto sobre casamentos.

A minha fé na igreja acabou na hóstia que engoli na primeira comunhão e a minha paciência para organizar eventos fica-se pelas festas de aniversário que marco no restaurante mais barato onde consigo enfiar os meus amigos.

Entretanto, os trinta (e alguns) anos implicam que já tenha alguns casamentos no bucho. Primos e amigos casam, é inevitável, e lá vamos nós a mais uma ronda de música romântica na chegada da noiva, sogra que chora, criança que corre na igreja, rissóis e croquetes, follow the leader leader leader, caldo verde às três da manhã e pronto, está feita uma festa de seis horas e que custou mais do que qualquer um dos meus planos de ano sabático a viajar.

Amor, lágrimas e um vestido de noiva em forma de fato de banho. Assim foi o primeiro "O Noivo é que Sabe"
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Mas não olhem para mim como um Grinch dos casamentos. Já fui muito feliz nessas festas, naquele lusco fusco entre uma Macarena e uma cascata de camarão.

E, por isso, decidi arriscar passar o meu último domingo de agosto a ver um programa que põe o noivo a organizar todo um casamento. Chama-se "O Noivo é que sabe" e é a mais recente aposta da SIC, que — esperta — põe a Cláudia Vieira a dar a cara. É que, porra, ela é mesmo gira. E tem aquele ar de que podia mesmo ser nossa amiga. Não lhe consigo desligar a televisão na cara.

Ai meu Deus que vai ser o homem a organizar tudo

Começamos por aí. Ora portanto, os homens podem ganhar mais 16,3% do que as mulheres em Portugal e ocupar a grande percentagem de cargos de chefia, mas na hora de organizar uma festa chamem os bombeiros, a polícia, lancem foguetes e todos os alertas que eles vão fazer porcaria na certa.

Não ponho as minhas mãos no fogo pelo meu e acredito que na festa pudesse haver um ou outro pormenor que me fizesse tremer o sobrolho (se estás a ler isto, risca qualquer tentativa de porco no espeto, U2 e corte de bolo com fogo de artifício por trás). Mas não acredito que seria um desastre ou que isso desse tema para um programa de televisão. Se bem que desde que vi o "Sex Sent Me to the ER" ("Fiz sexo e acabei nas urgências", em tradução (muito) livre) no TLC, acredito em tudo. E a verdade é que a versão britânica de "O Noivo é que sabe" vai já na 14ª temporada. Alguma coisa há-de ter. E tem.

Tem lágrimas, folhos e homens em pânico, a receita perfeita para um domingo à noite de cérebro desligado.

Ao contrário do que acontece na versão original, que apresenta um casamento por programa, na SIC a cada domingo são conhecidos vários casais e o programa desenrola-se durante a semana, quase que numa espécie de reality show.

Ainda assim, há sempre um casal em destaque e o desta primeira edição foi Maria e Lourenço, pais de Benedita e Vicente. Lemos estes quatro nomes em voz alta e "Beto Alert". Mas vamos pôr os preconceitos de lado e dar uma segunda chance a este casal que compra o vestido na Pureza de Mello Breyner e vivem na lezíria. Desculpem, já paramos.

É que este casal tem pormenores interessantes. Primeiro, vivem numa casa pré-fabricada montada em frente a um lago e garantem que a primeira filha foi feita em Ibiza pouco tempo depois de se conhecerem. Tu queres ver que afinal temos aqui pessoal do transe?

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Não, calma. Lourenço e Maria vivem ao numa casa pré-fabricada, mas numa propriedade de oito hectares que até tem um lago privado. E depois, na hora de se despedirem da vida de solteiro, caem nos maiores dos clichés. Lourenço chama os amigos, veste-se de mulher e bebe umas cervejas enquanto dança de forma atabalhoada. Já Maria, de flores na cabeça, anda a cavalo na praia, responde a perguntas da treta sobre "qual a coisa mais romântica bla bla bla" e ia apostar que aqueles copos que as amigas têm na mão tinha — na loucura — uma Somersby.

O noivo tem apenas 12.500€, o que pelos vistos é pouco, mas Lourenço tem uma boa rede de contactos. Consegue com isso comprar um vestido da Pureza de Mello Breyner, uma das mais conceituadas designer de vestidos de noiva em Portugal e um bolo da conhecida Joana Reymão Nogueira.

Aproveita o lago como cenário para a cerimónia e leva a noiva num barco, que há que aproveitar os recursos que a mãe (Natureza?) dá.

Para dar um toque de suspense ao casal mais aborrecido deste programa, o primeiro episódio acaba com a mãe de Lourenço a levantar a mão assim que é lançada a pergunta "Conhecem algum impedimento à celebração deste casamento?". Provavelmente a senhora só precisa de ir à casa de banho, mas vamos ter que esperar uma semana para ter a certeza.

Susana, até eu me casava contigo

Bem disposta e com um sotaque daqueles que só pode trazer coisa boa, Susana está no meu coração. Se Octávio, o noivo, não conseguir organizar a boda, eu assumo o compromisso de fazer um Tinder a esta mulher e arranjar-lhe um noivo que lhe dê a festa que ela deseja. E essa, acredito, terá muitos folhos e fogo de artifício.

Conheceu o noivo nas redes sociais e fica toda a contente quando sabe que vai ficar dez dias separada de Octávio — o tempo que tem para organizar a festa. "Ai assim vou ter mais tempo para estar no Facebook", diz. E aposto que com muitos gifs de Snoopys e corações.

Octávio e Susana,
Octávio e Susana

Quando decide contar às amigas que está noiva, dá a volta à história. "Ganhei o EuroMilhões", grita de tal forma entusiasmada que até eu em casa pensei que, de repente, esse fosse um twist da história mesmo a la Hollywood. "Estava a brincar", diz perante o ar desiludido das amigas. "Mas vou casar", arremata. Uma chora, a outra grita e uma faz aquele ar de desaprovação misturado com crítica subliminar. "Ainda agora saiu de um, não imaginava que se fosse já meter noutro", diz.

Mas nada abala a alegria de Susana, que só tem medo que Octávio erre no tamanho do vestido. Como é que ele vai saber as minhas medidas para o vestido? Pede um 5XL e eu ponho umas molinhas, só se for", brinca. Aliás, com estes dois é impossível não rir.

Mandem os cuspidores de fogo, por favor

Ana e Fábio conhecem-se há treze anos e estão noivos desde 2015. Em comum têm um filho e, aparentemente, pouco mais.

Ela tem um ar mais pacato e ponderado, ele só pensa em cuspidores de fogo e malabaristas a dar o mote ao casamento. Ela quer uma coisa elegante, ele "uma coisa assim bombástica", ele quer porco no espeto, ela acha essa ideia "horrorosa". Mas vá-se lá saber como, lá se encontram no meio de tanta diferença.

Ana e Fábio,
Ana e Fábio

Saber que em treze anos de relação não passaram sequer um dia separados deu-me já para hiperventilar. Como assim? Isso é pior que ir correr de máscara, tal a sensação de sufoco. Mas cada um sabe de si e, para o bem deste casal sem grande entusiasmo, só espero que Fábio consiga convencer alguém a trazer falcões e trapezistas medievais. É isso ou dar protagonismo ao padrinho e melhor amigo, o Marco. Aquela camisa aberta e a calça justa gritam potencial.

Os próximos episódios contam o desfecho destas histórias, às quais se se acrescentam outras tantas. "Quero um casamento como nos desenhos animados", ouvimos uma das futuras noiva dizer. Been there amiga, mas depois fiz 12 anos e a coisa mudou. Nada contra a festa, venham daí esses mojitos. Mas se, aparentemente, até aqui o trabalho de organizar a festa era da noiva, só vos digo, o noivo é que a sabe toda.