Há alguns dias que a Netlix me andava a chatear. Aqui me confesso: desde que o serviço de streaming chegou a Portugal, em outubro de 2015, despedi-me solenemente dos sites onde cada toque no rato implica uma nova janela de publicidade e promulguei o fim da televisão lá em casa. Passei a perder 9,99€ por mês (agora já são 10,99€), ganhei qualidade de vida. E tornei-me numa daquelas pessoas que, a cada conversa sobre uma nova série, lança a pergunta determinante: “Isso está na Netflix?”. Pois, é que se não está, lamento, não vou ver.
Só que, repito, há alguns dias que a Netflix me andava a chatear. A pobrezinha não tem culpa nenhuma (ou quase nenhuma culpa, vá), mas a verdade é que, mais de três anos depois, já tinha visto tudo o que me interessava. E na saga de novidades não havia nada em particular que me despertasse interesse — “Boneca Russa” fez-me adormecer no primeiro episódio, não estava no mood para ver a segunda temporada de “Big Mouth” e “Sex Education” não me cativou.
Felizmente, esta segunda-feira, 11 de fevereiro, chegava a Portugal um admirável mundo novo de filmes e séries. Falo da HBO Portugal, claro, que trazia um catálogo fresquinho, cheio de coisas para ver e rever. Depois da inscrição rápida — toda a gente tem um mês grátis para testar, o que é ótimo —, atirei-me de cabeça. HBO Portugal, sê bem-vinda à minha vida.
O bom, o mau e o a sério que vocês não repararam nisto?
Quando era miúda, um dos meus sonhos recorrentes era ficar fechada num supermercado vazio. Eu sei que isto pode parecer um pouco estranho, mas imaginem o que era ficarem esquecidos num armazém gigante cheio de brinquedos e comida. Finalmente podiam perder horas nos corredores que os vossos pais nunca vos deixavam visitar e, melhor ainda, escolher tudo o que quisessem. A minha noite (imaginava sempre que isto acontecia de noite) seria passada a devorar chocolates e bolos, enquanto abria todas as caixas de brinquedos que conseguisse.
Abrir o novo catálogo da HBO Portugal foi mais ou menos a mesma coisa. De repente, foi como se tivesse ficado fechada num supermercado cheio de coisas boas que, bónus, não engordam nem implicam ser posteriormente detida pelas autoridades e pagar uma multa avultada. Coisas más de crescer: ainda hoje gostava de passar uma noite no supermercado, infelizmente a maturidade obriga-me a pensar em todas as consequências.
Adiante. Não demorei muito a ficar rendida às novidades — mal posso esperar para ver “Sharp Objects”, perder-me na nova temporada de “True Detective”, rever “Sopranos”, perceber finalmente o porquê de toda a gente recordar “The Wire” como uma das melhores séries de sempre. Caramba, acho que as minhas mãos até tremiam quando fazia scroll pelo catálogo, anotando mentalmente todas as coisas que queria ver. Caramba, “Killing Eve”. “Barry”? Esta sinopse parece-me boa. “The Leftovers”? Temos encontro marcado este fim de semana.
Em termos técnicos, a HBO Portugal apresenta algumas melhorias em relação à Netflix. Em primeiro lugar, finalmente podemos ver a nota do IMDb — uma falha significativa no primeiro serviço de streaming, que me obriga a perder tempo a mexer no telemóvel sempre que quero experimentar algo novo. Também gostei da organização, em particular do facto de termos logo uma linha para escolher conteúdos por géneros — comédia, drama, documentários. E muito obrigada por separarem os filmes das séries. São dois mundos opostos, Netflix. Devias fazer o mesmo.
Num primeiro olhar, parecia tudo perfeito. Só que já era tarde e eu não me sentia capaz de começar uma série nova. “Calma, novo amor, temos muito tempo pela frente”, disse-lhe enquanto fazia festinhas ao ecrã do computador. “Vamos começar com um date soft na 11.ª temporada de “The Big Bang Theory” [na Netflix terminou na 9.ª].”
De repente, o choque. A imagem não estava coberta de pixels, mas também não estava boa. Na verdade, parecia-me tão fraca que tirei os óculos para os limpar, achando que podiam estar sujos ou embaciados. Não, não é dos meus óculos. É mesmo da qualidade da imagem. Eu sei que estou a usufruir de um pacote gratuito, mas é suposto isto ser assim?
Não fiquei deslumbrada. Recordo-me perfeitamente da primeira vez que abri a Netflix, e da qualidade bem simpática que inundou o meu ecrã. Não sei se ainda estamos em fase de testes, é provável que sim. E de certeza que vai acabar por melhorar. Ainda assim, nota negativa para a qualidade da imagem: as primeiras impressões são importantes e, neste campo, foi uma desilusão. É caso para dizer: "Mas ninguém reparou nisto?".
A segunda coisa que me chateou foi não conseguir saltar o genérico. Já discutimos este tópico na redação, e houve quem jurasse que também não é possível fazê-lo quando vemos pela primeira vez um conteúdo na Netflix. Fui fazer o teste esta manhã e coloquei um novo episódio de “The Big Bang Theory” — se é assim, agora tem de dar.
Não deu.
“Mas na Netflix também não dá, tens de ver um episódio a seguir ao outro”. Fui testar novamente — também não deu. Conclusão: metam um botão para passar o genérico, por favor. Nós agradecemos. E neste teste do “dá ou não dá para saltar os genéricos”, detetei mais uma coisa que a Netflix tem e a HBO Portugal podia ter: a possibilidade de passar por cima da barra do tempo do episódio e ver uma imagem de pré-visualização.
Mas claramente que a HBO Portugal ganha na organização — se já falei da disposição do catálogo, refiro agora a possibilidade de vermos imediatamente a lista de episódios. Na Netflix era preciso andar a mexer nos botões e quase sempre acabava a fazer asneira. Assim é bem mais prático.
HBO Portugal Vs. Netflix. Quem ganha?
É demasiado cedo para responder a esta pergunta. Ambos os serviços têm muito para oferecer, e confesso que não me imagino a substituir um pelo outro. Durante os próximos 30 dias, quero que se complementem como bons irmãos, que se deem bem e sejam simpáticos um com o outro.
Mas tenho de admitir uma coisa: a HBO Portugal tem muito para oferecer. Quando a Netflix foi lançada, uma das maiores críticas foi ao tamanho reduzido do catálogo. Rapidamente começávamos a ver conteúdos repetidos, e era inevitável ficar com a sensação de que não iríamos ter assim tanta coisa para ver. É verdade que rapidamente ele começou a crescer e essa sensação, bem, não digo que passou, mas melhorou.
Na HBO Portugal não senti isso. Fico com a sensação de que há milhares de coisas para ver, e que 30 dias não serão certamente suficientes para chegar a todo o lado. Tal como se ficasse fechada num supermercado à noite: os corredores nunca mais acabariam e as possibilidades seriam infinitas. Só quero mesmo que melhorem a imagem — não há nada melhor do que chocolates à borla, mas ninguém quer comer doces que terminam em dor de barriga.