Declaração prévia. Eu sou do tempo da primeira "Casa dos Segredos". Ok, toda a gente adulta é. Mas eu sou do tempo jornalístico da primeira edição de "Secret Story". O Facebook estava apenas a florescer e era usado para brincar aos agricultores no Farmville, o site do programa era uma brincadeira e as notícias eram propriedade exclusiva das revistas, jornais e respetivos sites. Estávamos em 2010.
13 anos depois, tudo mudou, e uma pessoa até fica meia zonza só de entrar no X (antigo Twitter), no Instagram ou, pior, no TikTok, e levar com a quantidade avassaladora de conteúdos, vídeos, informação.
Apesar das diferenças, há coisas que não mudam num formato como "Casa dos Segredos". Casais, ex-casais, segredos bizarros como "sofro de michaelfobia" (quem nunca?) e concorrentes de norte, sul e ilhas em busca de serem ou famosos, ou influenciadores digitais, ou ambos. Se antes o grande objetivo era ser apresentador da televisão, agora é ultrapassar os 100k nas redes sociais. São outros tempos.
O que também não muda é a atenção ao detalhe, em particular à cor eleita pela apresentadora para a estreia do programa. Em 2010, Júlia Pinheiro escolheu vermelho. Entre 2011 e 2016, Teresa Guilherme variou entre o branco, o azul e o vermelho. Em 2017, Manuel Luís Goucha foi para o azul e, em 2024, Cristina Ferreira manteve-se nesta cor.
Na rede social X, os utilizadores foram rápidos a apontar semelhanças.
"Secret Story" é, até mais do que "Big Brother", um formato de conforto e nostalgia para uma geração que já cresceu online. Nós olhamos para aquele estúdio, muito mais pequeno e com menos público do que nas primeiras edições, e só nos lembramos das célebres peixeiradas, com personagens que guardamos no nosso coração: o senhor Fernando, o pai do Cláudio Viana, o eterno Dioguinho, namorado que depressa se tornou ex-namorado de Fanny, quando Teresa Guilherme mandou Susana Fialho abandonar porque a concorrente de "Casa dos Segredos 2" não queria falar... Ah, saudades desses tempos, tempos mais simples.
Mas também tempos em que as agressões verbais e o uso de linguagem imprópria eram aceites, não havia punições para esse tipo de comportamentos e tempos ainda em que a atividade do edrenoning (leia-se, atos de amor físico debaixo do edredão) tinha direito a tempo de antena. Com o regresso do "Big Brother", em 2020, aumentou o escrutínio, muito graças às redes sociais, e o público deixou também de ver imagens de atividade sexual dos concorrentes. Como será nesta "Casa dos Segredos"? É esperar para ver.
Da Emily in Paris da Temu ao desconforto de Renata
Mas vamos ao que interessa, os concorrentes. Patrícia, a Emily in Paris da Temu, veio da capital francesa para a Venda do Pinheiro e foi logo eleita cúmplice da Voz. Já estamos habituados a segredos meio metidos a martelo, mas o do da família que ganhou o Euromilhões deixou-nos perplexos: quem é que tem milhões e vai para a "Casa dos Segredos"?
João Ricardo, de 34 anos, apesar de ser o mais velho, encabeça um grupinho de concorrentes masculinos que afirma orgulhosamente ser menino da mamã e que a progenitora ainda lhes trata da roupa. Uff, que partido, vou já para a fila. Claro que o João, à semelhança de 99,99% dos concorrentes, é "frontal e direto", ou não fosse preciso preencher as VT com as clássicas frase cliché dos reality shows:
- sou verdadeiro
- tenho mau feito
- vim aqui para ganhar
- detesto mentiras
- sou muito arrumado e detesto confusão
- tenho o coração partido
- não tempo tempo para o amor
Juliana, a próxima Cátia Palhinha, promete fazer rir os telespectadores. Mas já temos algumas dúvidas sobre a necessidade de comentadores em estúdio. Flávio Furtado e Bruna Gomes são muito queridos, sim senhor, estavam amorosos de cor de rosa. Mas, sinceramente, e se calhar até vamos arranjar problemas aqui no local de trabalho por dizermos isto, se não é comentário com Ana Garcia Martins, então não queremos.
Leomarte, vem de Angola, é apresentador de tv e influencer e é, até ao momento, o concorrente com quem fomos menos à bola. Flávio Furtado levantou logo a lebre, dizendo que o angolano está muito mais exuberante do que quando o conheceu e, a nós, pareceu-nos demasiado show off para o que parece ter para dar. E demasiada colagem a um boneco estilo José Castelo Branco.
E se temos concorrentes com mommy issues, também temos daddy issues. Rita, que "é muito desconfiada", diz que nunca perdoou o pai por ter saído de casa. Apostamos 500 escudos que a Rita vai ser a primeira a pingonhar por um moço. E não é que acertámos? E o moço é o "falecido", Rúben, também concorrente de "SS8". O rapaz, que é futebolista e trabalha num restaurante, tem tudo para ser o quebra-corações da casa e não damos uma semana até Rita ou andar a chorar pelos cantos, ou andar em modo edredoning ou a pegar-se com outras concorrentes por causa do "falecido". Esperamos estar enganados.
Foi preciso chegarmos a 2024 para uma concorrente plus size entrar num reality show da TVI. Finalmente aconteceu, aleluia. Flávia, ou Nufla, tem a autoestima lá em cima, e entrou na casa a cantar. Apesar de apreciarmos a confiança, já temos algumas dúvidas em relação aos dotes vocais de Nufla, que nos parece algo aparentado a Cláudia Nayara. #réplicaoriginal.
Rafael e Liliana deram-nos logo vibes de planta, ao contrário do Heitor da Póvoa de Varzim. Há ali um factor X no rapaz que nos diz que tem potencial de vencedor. Além de nos termos identificado pela vontade de fazer xixi. "Eu faço no jardim". Rei do desenrasque. Amamos.
Quem também está no nosso coração é o Maycon da Nazaré. Além de ser o primeiro concorrente com rastas a entrar num reality show, o que é de louvar, é também o tipo de concorrente que vai gozar o prato, com a maior das calmas, enquanto os outros estiverem a entrar em parafuso. Além de ser mega fofo.
Nesta "Casa dos Segredos 8" há uma Renata mas, ao contrário da que entrou na última edição do "Big Brother", não foi estagiária no nosso estabelecimento. Também não pode ser sempre, não é. Maria é a Ana Catharina deste "SS8". Alternativa, zen, fora da caixa, viajada, culta e calma. Vai-se passar ao fim de uma semana com os surtos funkeiros do resto da malta.
Maycon e Renata partilham o segredo "somos um casal falso". Ainda no confessionário, foram incentivados por Teresa Guilherme, ai desculpem, por Cristina Ferreira, a darem um beijinho. E se o jovem skater da Nazaré está numa boa e disposto a tudo, Renata nem por isso. O incómodo foi palpável e, depois, já dentro da casa, perante a desconfiança dos colegas, Maycon voltou a repetir o beijo, obtendo como reação ainda mais desconforto e quase repulsa por parte da jovem.
https://x.com/BordiaHuindi/status/1835471611048181865
Não queremos começar aqui já com policiamento de comportamentos nem que nos acusem de wokismo, mas há uma linha ténue entre guardar um segredo ou cumprir uma missão e aceitar comportamentos não consentidos em prol do jogo. Foi incómodo de ver.
Diogo Alexandre de Massamá é claramente um geek da bitcoin e tem o potencial para chegar à final, irritando todos os heterotop que se lhe atravessarem no caminho. 31 anos e já divorciado? Ficámos com a pulga atrás da orelha com isto. Margarida e Gonçalo são a versão 2024 de Rúben e Tatiana Boa Nova, e vão ter de fingir que não são um casal. Marcelo podia ser gémeo falso de Gonçalo. Mas não é. É só um jovem de coração partido, tão partido que, quando a Emily in Paris da Shein se abeira dele, estende-lhe a mão ao invés de lhe dar dois beijinhos. Tadinho.
O lote de concorrentes não podia estar completo sem uma ex-peixeira, Jéssica de Matosinhos, e mais uma planta, o Afonso paraquedista.
Depois de joguinhos e jogatanas para ganhar imunidades e afins (partes nas quais ou mudamos de canal ou adormecemos), chegamos às primeiras nomeações desta edição. Há, novamente, os clichés do costume:
- é a primeira nomeação e tem que se nomear alguém
- nomeei-te, desculpa lá
- não teve tempo de falar com o X
Mas há também explicações que, pronto, vamos lá ter um bocado de calma. "Eu nomeei o Diogo Afonso porque tentei trocar uma impressão e senti uma rejeição. O nosso cérebro reage a rejeição como se fosse uma agressão física", diz Leomarte, cujo nome do meio deve ser "exagero". E com isto apercebemo-nos que nos esquecemos por completo do madeirense Diogo Afonso. Pronto, já está.
