Os momentos mais frios e chuvosos de outono pedem sempre ao final do dia o aconchego do sofá e um bom filme ou série a dar na televisão — e temos a série perfeita para este programa.
Com estreia na Apple TV no passado sábado, 11 de outubro, “Disclaimer” promete ser uma série de drama e suspense que não quer deixar ninguém indiferente, com um enredo de fazer qualquer telespectador tremer um pouco das pernas.
Considerado um thriller psicológico com demasiado mistério para ser desvendado, a nova série é baseada no livro homónimo de Renée Knight publicado em 2015, e foi toda ela escrita e produzida por Alfonso Cuarón, produtor mexicano de 62 anos que já conquistou cinco vezes uma estatueta nos Óscares por filmes como “Gravity” e “Roma”.
Aqui, Cate Blanchett, conhecida por fazer parte de produções como “O Senhor dos Anéis” e “Ocean’s 8”, interpreta Catherine Ravenscroft, uma famosa jornalista de investigação que construiu toda a sua carreira à volta de desobediências e crimes por parte de pessoas alheias. No entanto, as coisas mudam de figura quando Catherine recebe em casa um livro suspeito, e é a partir daí que a história se constrói sozinha.
Do elenco também fazem parte nomes como Louis Partridge, namorado de Olivia Rodrigo, Kevin Kline, Sacha Baron Cohen, Leila George D'Onofrio e ainda Jung Ho-yeon. Mas se ainda não ficou convencido, espreite as quatro razões que fazem com que tenha mesmo de ver “Disclaimer”.
A personagem principal é mesmo a personagem principal
Em “Disclaimer”, Catherine Ravenscroft vai encontrar perto da sua mesa de cabeceira um livro intitulado de “The Perfect Stranger”, um romance perturbador com uma história que a faz pensar duas vezes. Isto porque Catherine conhece a história que está a ser contada, exatamente por ser a história dela e por relatar situações que aconteceram há mais de 10 anos.
Além disso, o autor chega mesmo a deixar explícito no início da obra que este é um livro baseado em factos reais, e que qualquer semelhança com pessoas reais, neste caso Catherine, foi propositada. “Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas não é uma coincidência”, escreve.
No livro, o autor desta obra ameaça expor os segredos mais profundos e obscuros de Catherine Ravenscroft, e esta entra numa espiral e começa à procura da pessoa que publicou aquele livro. Mais tarde, fica-se a saber que o livro foi escrito por Nancy (Lesley Manville) e foi publicado por Stephen Brigstocke (Kevin Kline), o seu marido, que decidiu expor o caso depois de perder o filho, Jonathan (Louis Partridge), e de acusar Catherine Ravenscroft pelo sucedido.
A história avança e recua no tempo de forma deliberada
Algo que Alfonso Cuarón não queria fazer era deixar os telespectadores demasiado confusos, e, apesar de no início esse desejo não se realizar, a verdade é que o público fica a conhecer toda a história (e o porquê de Stephen Brigstocke acusar Catherine Ravenscroft da morte do filho) através dos vários flashbacks que são feitos ao longo dos episódios. Assim, o produtor vai preenchendo gradualmente os pormenores que faltam na história, fazendo com que o público fique preso à narrativa.
Em alguns dos flashbacks vê-se, por exemplo, um jovem casal a ter relações sexuais num comboio que viaja pela Europa, mas o telespectador, inicialmente, fica sem saber quem são. É também através desta narrativa que se fica a conhecer Stephen Brigstocke, que vai mostrar ser um professor reformado e ríspido de Londres, e muitos outros acontecimentos que vão envolver Catherine Ravenscroft e o seu passado misterioso.
Não é uma típica série de conforto
Já deve ter percebido que esta não vai ser uma série de comédia ou de um romance mais leve e brincalhão, mas vale mesmo a pena reforçar que “Disclaimer” não é, de todo, a típica série de conforto a que os telespectadores estão habituados. É a série ideal para ver num dia frio e chuvoso de outono, sim, com uma manta por cima do corpo e um balde de pipocas que ficará vazio nos primeiros minutos graças a todo o suspense, mas não conte com muita alegria nas personagens e um mundo cor de rosa com um pôr do sol no fundo - não é isto que a série quer retratar.
Aliás, o facto de, por vezes, o texto ser lido na primeira pessoa faz com que os pelos dos braços se levantem. O que Alfonso Cuarón quis fazer foi colocar Stephen Brigstocke a explicar os seus planos diretamente ao telespectador, tornando a produção ainda mais fria e cheia de intrigas - como se o público, de alguma maneira, se tornasse cúmplice daquilo que o professor reformado publicou sobre Catherine Ravenscroft.
No entanto, não é a única voz que aparece, uma vez que Indira Varma narra os pensamentos de Catherine, como se fosse uma segunda pessoa no seu corpo que lhe dissesse as mais puras das verdades, fazendo com que o público veja tudo o que a personagem principal está realmente a sentir.
Já é considerada uma das melhores séries do ano (mas só por alguns)
Apesar de ter saído em outubro, faltando apenas pouco mais de dois meses para o final do ano, a verdade é que já se passaram mais de nove meses do ano de 2024 e mesmo assim “Disclaimer” está a ser considerada uma das melhores séries do ano, ao lado de produções como “Supacell”, “Heartstopper”, “Baby Reindeer” e “The Penguin”. Até ao momento, a nova série da Apple TV conta já com 81% de aprovação no Rotten Tomatoes.
Uma das críticas que mais bem fala sobre “Disclaimer” é da “USA Today Entertainment”, onde explicam que esta não é uma série de conforto, mas que certamente vai fazer com que os telespectadores aprendam algo sobre si próprios. “A melhor série de televisão do ano não o vai fazer sentir-se bem, mas vai certamente fazê-lo sentir alguma coisa de uma maneira profunda. ‘Disclaimer’ é tão sombria e deprimente como qualquer história pode ser, e vai deixá-lo inconsciente com o poder do seu brilhantismo. A série é uma obra de arte deslumbrante, uma odisseia de emoções e tensão que o vai agarrar, enojar, emocionar e, talvez, ensinar-lhe algo sobre si próprio. Pode não gostar do que vais aprender. Não tem de o fazer. Há muitos outros sítios onde procurar televisão de conforto”, escrevem.
No entanto, há certas publicações que não concordam, nomeadamente a "Variety", que acusa a nova série de ser uma tentativa falhada de um thriller feminista, e o "The Guardian", que confessa que só a atriz Cate Blanchett conseguiria lidar com um "guião tão abominável" como aquele apresentado.