Catarina + Filipe = Gui, Manuel, Vasco. São estas as contas da família por detrás dos Allaboardfamily, viajantes portugueses que, caso tenha feito as contas, andam quase sempre em número impar correspondente aos dois pais e três filhos. E não. Ter filhos não é um impeditivo para viajar e explorar o mundo com eles não tem de ser um drama. Quem o diz é Catarina Almeida.

"É claro que às vezes é mais desafiante. Não é simples, mas é possível. A nossa palavra de ordem é que é preciso descomplicar. Há tanta gente que está em Lisboa e viaja para o Algarve e é igual. Só que em vez de ir de carro, vai-se de avião. E depois faz-se a vida toda normal", refere Catarina.

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É precisamente para descomplicar que Catarina e Filipe, ambos com 33 anos, acabam de lançar o curso Viajar com Crianças. É online e não implica estar em frente a um ecrã a uma determinada hora, basta descarregar os 15 módulos que integram o curso.

"Vamos falar de várias coisas. Por exemplo, como fazer e o que levar nas malas, o que é que comem as crianças em viagem, como marcar voos, como decidir o primeiro destino, seguros de viagem, como entreter as crianças. Comtemplámos tudo o que aborda a viagem. Basicamente, compilámos neste curso três anos de mensagens, conhecimentos e viagens com crianças", explica Catarina.

A formação Viajar com Crianças conta ainda com materiais de apoio, como checklists para não se esquecer de nada antes de viajar, e dicas de uma pediatra que "fez uma lista de medicação importante para levar em viagem, não obstante da consulta do viajante".

A base do curso, além da experiência do casal que pretende oferecer informação simples e de fácil acesso, é desmistificar alguns medos. "Mostrar que não é preciso ter medo, mesmo que as rotinas não sejam iguais durante o tempo da viagem. É normal. Se nós não temos rotinas, porque é que eles têm de ter as rotinas todas certas?", reflete a mãe de Guilherme, com 4 anos, Manuel, 1 ano, e Vasco, com 7 meses.

Só pela idade de Vasco, percebe-se também que não há uma idade certa para as crianças começarem a viajar. "Uma das coisas que falamos muito no curso é: observem os vossos filhos. Porque quando eles estiverem bem e vocês confiantes com eles, então é a altura certa para viajar", remata Catarina, deixando claro que "não existe uma idade exata".

Como aceder ao curso?

O curso Viajar com Crianças foi lançado esta quinta-feira, 24 de março, e já está disponível no site dos Allaboardfamily na secção "curso". Após a inscrição, terá nas suas mãos os 15 módulos que podem ser feitos quando e onde quiser até março de 2023. "Por isso, quanto mais cedo se inscreverem, mais tempo vão conseguir aceder ao curso", refere Catarina.

"É importante que as pessoas percebam que vão ter liberdade de escolha de tempo, não vão estar obrigadas a ter de estar numa determinada hora ou dia a fazer o curso. Podem fazer em viagens, nas férias, podem comprar agora e começar só daqui a uma semana", frisa a Catarina.

Só faz sentido que assim seja dado que o público são famílias com filhos e nem sempre com disponibilidade para assistir a uma aula vários dias por semana. Os módulos até podem ser completados após os miúdos irem para a cama e antes de começar verdadeiramente a sonhar com uma viagem em família.

Os dez primeiros alunos a fazer a inscrição recebem de oferta uma reunião de uma hora com o casal da Allaboardfamily, Catarina e Filipe, para esclarecimento de dúvidas.

O curso custa 159€ e pode inscrever-se aqui.

Viajar com crianças ou fazer hemodiálise nem chega a ser um desafio para esta família

Antes de serem Allaboardfamily, Catarina e Filipe trabalhavam noutras áreas: ela era team leader numa multinacional e ele tinha uma empresa de tuktuks. Mantiveram as profissões durante largos anos até que a saúde veio desafiar a rotina e questionar a realização profissional.

"A determinada altura, o Filipe, que já era insuficiente renal, descobre que tem de começar a fazer tratamentos de hemodiálise e o que nós sentíamos é que a hemodiálise lhe estava a dar vida e que nós não estávamos a aproveitar", conta à MAGG. Catarina trabalhava por turnos e muitas vezes não conseguia sequer estar com o filho Guilherme, que nasceu dez dias antes de Filipe iniciar a hemodiálise, feita de noite.

"Sentíamos que não estávamos a aproveitar a família e a vida que estávamos a conseguir ter através dos tratamentos", refere Catarina. E porque não mudar essa vida? Foi isso que optaram por fazer e de forma radical. Decidiram ir dar a volta ao mundo.

"Era um desejo que tínhamos já há algum tempo, porque sempre adorámos viajar e já o fazíamos como casal e o Guilherme também já viajava connosco. Após o Filipe descobrir que tinha de fazer hemodiálise, estivemos oito meses até perceber que era possível viajar para fora e fizemos uma viagem quando o Guilherme tinha oito meses", continua. A partir daí não pararam e a hemodiálise nunca foi impedimento.

Basta seguir alguns passos: primeiro, pensar no destino, depois saber se tem diálise e perguntar se recebem o Filipe. "A partir daí podemos começar a marcar a viagem como as pessoas normais fazem: decidir e ir", refere.

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A viagem ao mundo (25 países em 8 meses) transformou-se num projeto, o Allaboardfamily, e para cada canto que visitaram e ainda descobrem, levam também três missões: "A minha é a missão de correr atrás dos sonhos"; "a missão do Filipe é ter mais pessoa e menos doença. A doença não é uma sentença de morte, não é o fim de nada, mas pode ser o início de tudo"; e "a missão do Guilherme é mostrar a outros pais que é possível viajar com crianças e é incrível percorrer o mundo ou ir de fim de semana com os nossos filhos, porque eles aprendem, são esponjas e são personalidades que se formam".

Aos três missionários juntaram-se entretanto mais dois, Manel e Vasco, para continuar a explorar todos os continentes.

A próxima viagem em vista — após dois anos que são "como se não tivessem existido" para Catarina devido à COVID-19, com algumas agravantes para doentes com insuficiência renal — será Marrocos, dentro de uma lista interminável de viagens ainda por fazer.