A Macro Viagens é a agência das refeições vegetarianas e viagens transformadoras. Na Leva-me pode viajar com o ex-ator e blogger de viagens João Cajuda. Já na ImpacTrip o desafio é dedicar uma parte das férias a praticar mergulho ao mesmo tempo que limpa o Oceano Atlântico. Ou resgata animais abandonados. Ou planta uma árvore e ajuda a salvar o planeta.
As agências de viagem já não são o que eram. Pelo menos é o que podemos concluir depois de descobrirmos estas portuguesas que fogem a tudo o que é convencional. Autocarros turísticos a abarrotar de pessoas? Nem pensar — ninguém conhece a cultura de um destino através de um vidro. Resorts sem identidade? Eles preferem pô-lo a dormir numa tenda no meio do deserto. Um guia turístico que parece um gravador a desbobinar informação? Talvez seja mais agradável se viajar com alguém que no final se torna num amigo para a vida.
Viajar para um destino surpresa na Europa, participar numa tour onde todas as refeições são vegetarianas ou conhecer uma região com um wanderluster, também conhecido por “aquele” amigo que conhece os melhores sítios a visitar. Mostramos-lhe 6 agências de viagens portuguesas que são tudo menos tradicionais.
Leva-me, a agência onde pode viajar com João Cajuda
João Cajuda dispensa apresentações. Considerado pela Rise como o 15.º blogger de viagens mais influente do mundo (João Cajuda), tem mais de meio milhão de seguidores no Facebook e vídeos que se tornam virais em 24 horas — foi o caso de um sobre as Filipinas, que foi visto 2,6 milhões de vezes num único dia.
Em agosto de 2016, o ex-ator e viajante juntou-se à amiga Mariana Vaz para abrir a Leva-me, uma agência de viagens direcionada exclusivamente para tours.
“A Leva-me surgiu com o intuito de poder levar os meus seguidores a conhecer os lugares que mais me fascinam no mundo”, conta à MAGG João Cajuda. “Achei que faria sentido abrir a minha própria agência e acompanhar as pessoas que diariamente me diziam ‘leva-me’.”
Em cada viagem tudo é pensado ao pormenor, desde os sítios onde dormir até aos pratos típicos de cada região. As tours são acompanhadas por um líder de viagem, que tanto pode ser João Cajuda como Mariana Vaz. Não há propostas demasiado turísticas — tanto pode dormir numa tenda no meio do deserto como num quarto luxuoso.
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Os roteiros são preparados pela dupla de amigos. “Primeiro que tudo exploramos o país para perceber o que de mais bonito e interessante tem para oferecer aos visitantes. Fazemos depois um itinerário que compile a cultura, as paisagens e as atividades. Tentamos sempre dar a conhecer um pouco de tudo, por vezes num registo mais backpacker, por vezes em locais mais requintados.”
A maioria das pessoas que viaja com a Leva-me tem entre 20 e 45 anos. “Mas já tivemos pessoas de 76 anos a saltar do tejadilho dos jeeps”, ri-se João Cajuda. “A idade é apenas um número.” Também há muitas pessoas que viajam sozinhas, mas que “regressam sempre com 20 novos amigos.”
Neste momento a Leva-me tem propostas para Marrocos (nove dias, 890€); Tailândia (15 dias, 1.970€); Tanzânia (dez dias, 2.390€); Filipinas (14 dias, 2.260€); e Indonésia (14 dias, 2.290€).
“Apenas damos a conhecer destinos que conhecemos bem. Em 2018 teremos Marrocos, Tailândia, Tanzânia, Indonésia e Filipinas, em 2019 iremos provavelmente eliminar um destino e acrescentar um novo.”
The Wanderlust, a agência que quer ser aquele amigo que conhece os melhores sítios
Com um mestrado em Medicina Legal, Miriam Augusto estava há mais de um ano à procura de uma bolsa de investigação para avançar para doutoramento. “Não estava a conseguir”, conta à MAGG a jovem de 34 anos, natural de Aveiro. “Nessa altura um colega meu viu como é que eu planeava as minha viagens — era muito organizada, punha tudo em folhas Excel — e sugeriu-me criar esta agência.”
No início Miriam Augusto achou a ideia um pouco estranha. Seria uma empresa pensada para backpackers, e os backpackers geralmente não recorrem a agências. Mas a ideia ficou. Em 2012 fez uma viagem de três semanas para o Vietname, já com o intuito de fazer prospecção e desenhar um percurso. “Quando regressei a Portugal fizemos uma parceria com uma agência convencional de Coimbra para perceber se existia público para este tipo de empresa. Correu muito bem — fizemos a viagem para o Vietname e o feedback foi muito positivo.”
Em outubro de 2014, nasceu oficialmente a The Wanderlust, a agência que foge a tudo o que é demasiado turístico e que se põe no papel daquele amigo que conhece os melhores sítios dentro de um destino. Neste momento têm 17 itinerários, cada um com um líder de viagens específico — são os chamados wanderlusters.
“São viagens de autor, muito próprias de quem as faz. Estas pessoas têm experiência no terreno, e acima de tudo sentem prazer em partilhar com os outros o que conhecem.”
E porque é que são diferentes das agências tradicionais? “Os nossos grupos são pequenos [máximo 11 viajantes], o que faz com que seja mais fácil as pessoas criarem relações entre elas. Somos uma espécie de grupo de amigos que vai de férias.”
Além disso, em vez de resorts luxuosos ou hotéis de quatro e cinco estrelas só recorrem a alojamento local, recorrem aos transportes públicos sempre que possível e vão aos restaurantes preferidos dos locais.
“Tentamos mergulhar ao máximo na cultura dos nossos destinos. Nas agências tradicionais às vezes não é assim, as pessoas ficam um pouco alienadas da realidade do sítio que estão a visitar.”
As viagens mais acessíveis são para Marrocos e rondam os 900€. A mais cara é para os EUA e chega aos 3.300€. Em média, os pacotes custam 1.500€. O programa só não inclui o voo internacional, algumas refeições e o visto.
Macro Viagens, a agência das refeições vegetarianas e viagens transformadoras
Depois de dez anos a trabalhar numa agência de comunicação, Diana Chiu Baptista sentiu que estava na altura de mudar de vida. Incitado por essa mudança, o marido, Igor Chiu Baptista, fez o mesmo — depois de também uma década a trabalhar na área de engenharia, apresentou a carta de demissão. Foi assim que nasceu a Macro Viagens.
“Eu tenho um blogue há alguns anos chamado I Love Bio, onde partilho o meu estilo de vida, ligado à macrobiótica, e coisas mais pessoais, como as viagens que faço”, conta à MAGG Diana Chiu Baptista, 37 anos. “Comecei a reparar que sempre que partilhava coisas sobre viagens, sobretudo para destinos como a Tailândia ou o Vietname, os leitores enviavam-me imensas mensagens.”
“Devias era organizar uma viagem para os leitores do blogue”, chegaram mesmo a dizer-lhe. Lentamente, a ideia começou a entranhar-se: depois de uma visita à Índia, a portuense começou a pensar que faria todo o sentido partilhar aquele roteiro com outras pessoas. Em abril, estabeleceu uma parceria com uma agência de viagens e lançou um pacote para esse destino, a realizar-se em novembro. Estava dado o primeiro passo.
Um dia depois foi para o Vietname com uma amiga. “Só pensava: ‘Será que vou conseguir arranjar pessoas? Agora meti-me nisto. E se ninguém se quiser juntar?’.” A viagem durou três semanas — que foi exatamente o tempo necessário para esgotar o programa. Só que as mensagens não pararam. Agora, toda a gente queria saber qual seria a próxima data.
Em agosto, Diana e Igor Chiu Baptista lançaram oficialmente a Macro Viagens, com roteiros para a Índia e para a Tailândia. Os programas têm várias datas, são pensados para grupos com um máximo de 14 pessoas e são diferentes dos pacotes convencionais. Como? Só incluem refeições vegetarianas, têm sempre uma forte componente espiritual (em todas as viagens há duas ou três noites num mosteiro) e procuram uma imersão total no país.
“Não vamos ver a cultura atrás do vidro de uma carrinha. Vamos fazer parte da comunidade, sair da zona de conforto.”
Fazer uma caminhada pela selva, dormir com uma tribo na montanha, jantar em casa de uma família local ou ser um convidado num casamento hindu. O programa para a Índia custa 1.990€ e para a Tailândia 2.990€. Os valores incluem todas as refeições, voos, alojamento, transportes locais, atividades e seguro de viagem. Os viajantes só têm de se preocupar com o visto.
Chocolate Box, a agência onde o destino é sempre surpresa
Depois de vários anos a trabalhar na área das viagens, Inácio Rozeira percebeu que estava na altura de fazer algo diferente. “Há 20 anos os meus pais foram a Londres pela primeira vez, e aquilo teve contornos de uma grande epopeia”, recorda à MAGG o portuense de 39 anos. “Hoje está à distância de três cliques.”
Viajar está cada vez mais fácil. Fazer uma escapadinha de fim de semana numa qualquer cidade europeia é perfeitamente normal, tanto como pegar na mochila e passar três semanas no Sudoeste Asiático. Quereria isso dizer que já estava tudo feito? Nem por isso. A lógica de Inácio Rozeira foi subtrair em vez de acrescentar.
“Uma pessoa quando viaja sabe sempre para onde vai, durante quanto tempo e quanto é que vai gastar. Nós tirámos o ‘para onde é que vai’ da equação.”
Foi assim que nasceu, a 31 de outubro de 2016 a Chocolate Box, uma agência de viagens em que o destino é surpresa — só vai descobrir para aonde vai um dia antes de embarcar no avião. “Até ao dia da viagem, eles estão a viver aquele imaginário de não saberem para onde vão. É o lado mais puro da emoção.”
“My momma always said: ‘Life was like a box of chocolates. You never know what you’re gonna get’.” Esta é uma das frases mais emblemáticas de Tom Hanks no filme “Forrest Gump”, e foi ela que inspirou Inácio Rozeira na escolha do nome para a agência. De facto, aqui nunca sabe o que lhe pode calhar.
Então e como é que pode comprar uma viagem surpresa? No site da Chocolate Box, os viajantes escolhem de onde querem partir, em que data e quais são os seus interesses. Também podem excluir três destinos que não queiram conhecer. Depois é só fazer o pagamento, que inclui o voo e alojamento. As viagens têm sempre a duração de três dias, para destinos onde não é necessário fazer prevenção de doenças ou tirar visto. Em relação ao que levar vestido, eles avisam-no se tiver de ter cuidados especiais.
Há dois pacotes disponíveis: a Tablete (495€ por pessoa) e o Quadrado (175€). O primeiro inclui duas noites num hotel de quatro ou cinco estrelas, 14 dicas personalizadas e uma máquina fotográfica com um rolo. O segundo, low cost, troca o alojamento num hotel por um hostel, não dá direito a máquina de fotográfica e junta apenas três dicas de viagem em vez de 14.
Nomad, a agência que o leva a conhecer o mundo com um líder de viagens
Tiago Costa e Pedro Gonçalves. São estes os nomes dos fundadores da Nomad, uma agência de viagens que abriu pela primeira vez em setembro de 2007. Depois de trabalharem juntos no meio da montanha como guias, ou em lojas de outdoor que hoje já não existem, os dois viajantes decidiram criar um projeto completamente diferente do que existia na altura em Portugal.
“Há dez anos, as agências de aventura operavam com programas normais em destinos pouco convencionais. Para um programa na Índia, por exemplo, a empresa comprava um pacote a um operador indiano e punha lá os portugueses”, explica à MAGG Tiago Costa, 35 anos. “A nossa mais-valia foi acabar com isto e criar os nossos próprios itinerários.”
E é tudo pensado ao pormenor. Desde o alojamento até às viagens de comboio ou de autocarro entre cidades, sem esquecer a visita ao mercado local ou o tempo para um piquenique. Eles pensam em tudo ao pormenor: “Demoramos cerca de dois anos a montar uma viagem. Nós decidimos que vamos para a cidade A, e que aí ficamos no alojamento B, e que vamos no comboio C. É um esquema muito ancorado em transportes locais, alojamentos de pequena dimensão e no contacto com a cultura local.”
Com propostas para um total de 30 destinos diferentes, que vão desde um roteiro na Birmânia até a um programa de trekking na Patagónia, a Nomad tem ainda a particularidade de organizar viagens com grupos relativamente pequenos, entre dez a 12 pessoas, que vão sempre acompanhados por um guia. É o chamado líder de viagens, português, claro, e sempre disponível para ajudar.
Nunca ninguém se vai sentir perdido, portanto. Além disso, é ele que vai incentivá-lo a misturar-se com os locais e a experenciar de facto o destino: “Fazemos tudo para que não tenhamos uma visão de turista mas uma visão de viajante.”
Neste momento a Nomad tem uma média de 600 viajantes por ano. Os preços médios por pessoa rondam os 1.300€.
ImpacTrip, a agência onde pode ir de férias e mudar o mundo (a começar por Portugal)
Praticar mergulho e ao mesmo tempo limpar o Oceano Atlântico. Fazer um passeio guiado por Lisboa com um ex sem-abrigo, ajudar a resgatar animais abandonados, plantar árvores e combater a fome e o desperdício alimentar fazendo recolhas de excedentes e entregando-os a quem precisa. Estas são apenas algumas das propostas da ImpacTrip, a primeira agência portuguesa dedicada exclusivamente ao turismo solidário.
Rita Marques e Diogo Areosa. Ela tem 27 anos, ele 37. Ela é natural de Azeitão, ele de Lisboa. Ela trabalhava na área de consultoria de gestão, ele estava ligado à aviação. À partida não tinham muitas coisas em comum, mas depois de um contacto no LinkedIn tudo mudou. E nasceu a ImpacTrip.
“A ideia surgiu de uma viagem que a Rita fez pela Ásia dentro deste conceito, e em que percebeu que não havia nada deste género em Portugal”, conta à MAGG Diogo Areosa. A viagem aconteceu em 2013, e assim que regressou a casa a jovem começou a pesquisar mais sobre o assunto.
“Costumo dizer na brincadeira que conheci a Rita quando fizemos um cruzeiro na mesma altura, cada um com a sua família — só que na altura ela tinha 12 anos”, ri-se. Na realidade foi o LinkedIn que os juntou. “Montámos uma reunião, falámos sobre o projeto e decidimos avançar.”
Foi assim que tudo começou. Neste momento têm mais de 20 itinerários um pouco por todo o País, trabalham com mais de 250 parceiros e transformam um programa de férias numa experiência transformadora.
“Mais do que conhecer a cidade que visita, os viajantes dedicam parte do seu tempo a fazer voluntariado. Procuramos necessidades reais e os nossos voluntários dedicam parte do seu tempo a ajudar.” No ano passado foram 17 mil horas de voluntariado levadas a cabo por pessoas de 52 nacionalidades — o público-alvo ainda continua a ser maioritariamente estrangeiro.
Então e como é que isto funciona? É fácil. Só tem de tomar três decisões: o tipo de experiência que procura (mergulho; praia; cidade; natureza), a localização (um ou mais locais que pretende conhecer) e a atividade de voluntariado (pode ir desde o combate à pobreza até ao apoio a pessoas com deficiência). O programa de uma semana custa em média 350€ e inclui o alojamento em regime de pensão completa, seguros e toda a coordenação.
Em março, a ImpacTrip vai ter uma novidade: um hostel 100% sustentável em Lisboa. Vai ficar na zona da Estrela e terá um total de 42 camas. Além de oferecer um espaço próprio aos viajantes que já têm, a Impact House — é assim que se vai chamar — vai apresentar-se como uma nova opção de alojamento na cidade dentro do modelo de negócios da ImpacTrip.