Há já vários meses que um pequeno país à beira da Europa implorava por sol e bom tempo. O universo escutou, só que exagerou. A coisa é mesmo séria e nem o cair da noite tem dado tréguas. Os termómetros estão a rebentar, com temperaturas a excederem os 40 graus em várias cidades portuguesas.
De acordo com a Direcção Geral de Saúde, “a exposição a períodos de calor intenso, durante vários dias consecutivos – ondas de calor – constitui uma agressão para o organismo, podendo conduzir à desidratação, ao agravamento de doenças crónicas, a um esgotamento ou a um golpe de calor, situação muito grave e que pode provocar danos irreversíveis na saúde, ou inclusive levar à morte.”
Crianças nos primeiros anos de vida, idosos, pessoas com doenças crónicas, obesos e indivíduos com más condições de habitação estão entre os grupos de risco, assim como os trabalhadores expostos ao sol e ao calor. Mas e os desportistas que fazem da rua o seu ginásio? Devem continuar a treinar ou devem interromper os treinos?
“Se estivermos perante situações de temperaturas excessivamente elevadas como as que temos tido, sim, o treino é desaconselhado”, diz José Carvalho Rodrigues, médico de medicina desportiva. Segundo o especialista, nos dias como os que têm marcado esta vaga de calor, nenhuma hora — nem de manhã, nem à noite — será aconselhada para praticar desporto, pelo elevado risco de desidratação, condição que tem como sintomas cãibras, náuseas e cansaço exagerado, durante ou após o treino, momento a que se acrescentam as dores de cabeça.
A insolação também poderá ser uma das consequências, pelo que fazer desporto ao sol, nas horas de maior calor no verão, não deverá ser uma prática a adotar, nem agora, nem nunca.
“Se proibimos os atletas de alto rendimento de treinar nestas condições, porque é que o resto da população também não o deverá fazer?”, pergunta. “O ano tem 365 dias, portanto alguns dias sem treinar não serão impeditivos para um corpo tonificado e saudável.”
Para os mais teimosos, se não querem mesmo prescindir, ao menos que treinem no ginásio, uma vez que “a temperatura é regulada”, como indica o personal trainer Nuno Martins.
E quando tivermos temperaturas de verão normais?
As horas de muito sol e muito calor devem, genericamente e em qualquer contexto, ser evitadas por quem treina ao ar livre. Os treinos devem, por isso, acontecer de manhã, cedo, ou ao final da tarde, início de noite.
“O objetivo deverá passar por evitar as horas de maior calor, que geralmente se encontram entre as 11h e as 16h, embora possa variar significativamente de acordo com o dia”, explica o PT.
O mesmo especialista chama a atenção para a hidratação: “Com as temperaturas altas, existe uma necessidade aumentada de hidratação tendo em conta que as taxas de suor aumentam”, explica. "Contudo, a perda pelo suor não passa apenas pela redução do nível de água, mas também do nível de sais minerais, pelo que é importante garantir que não só existe um consumo adequado de água, como também de sais minerais de modo a repor as perdas induzidas pelo exercício.”
Para colmatar esta perda, o PT sugere bebidas energéticas ou certos alimentos, “dependendo da pessoa, tipo de treino, duração.”
Caso a pessoa treine ao ar livre, “deve sem dúvida ter em conta a exposição solar: não só deverá evitar as horas de maior calor, como garantir que existe uma adequada proteção da pele através de cremes de proteção solar. Pode também ser uma mais valia a utilização de óculos de sol e um chapéu de modo a aumentar os níveis de proteção face à exposição solar.”