Saímos do ginásio com a leve sensação de que seriamos capazes de levantar um carro com as mãos. Talvez só com um mindinho. As hormonas que se libertam no pós-treino fazem destas malandrices, porque meia hora antes o cenário era bem menos heroico: estávamos num estúdio, a suar, a arrastarmo-nos pelo chão e a implorar aos céus por cinco minutos de descanso. O exercício físico tem destas coisas. O esforço chega a doer (é mesmo como dizem, "no pain, no gain"), mas a energia e a boa disposição aparecem logo a seguir, varrem da memória o sofrimento e fazem-nos querer voltar.
A MAGG fez parte do grupo que estreou a aula de Jungle, uma das novas modalidades de 1Fight, disponível no mapa deste terça-feira, 4 de setembro. Aqui não há luvas, sacos de boxe, murros ou pontapés. Não há sequer ténis ou meias, porque os pés têm de aderir bem ao chão, coberto com um tatami amarelo e preto. Nesta aula recuamos um bom par de milénios e aterramos na pré-história, quando o ser humano — ou primata, a distinção ainda não era muito evidente — ainda não tinha assumido a posição bípede.
Ao contrário dos treinos rápidos e cheios de repetições, aqui os movimentos são feitos de forma mais lenta e quase sempre junto ao chão. Mas não se enganem: devagar não significa mais fácil, tanto que quase conseguimos garantir que os matulões do CrossFit, habituados a cargas altas e movimentos explosivos, não o farão com uma perna às costas.
"Muita gente vai para o ginásio e faz as repetições muito rápido. Se com o mesmo peso lhes pedirmos para fazerem mais devagar, não aguentam tanto. Com é uma modalidade mais lenta, custa-lhes mais, porque se solicita muito mais o músculo”, explicou Margarida Mégre, instrutora da modalidade. "O nosso core são os desportos de combate, artes marciais e CrossFit, mas queremos ter outras aulas que complementem estas mesmas aulas e ajudem a melhorar a performance", disse Carla Natário, diretora do clube.
Aqui somos bailarinas, ginastas e macacos. A aula divide-se em três etapas. Cada uma delas reflete as inspirações na criação da modalidade, desenhada pelo próprio 1Fight. Apesar de haver burpees, do calor se sentir e da transpiração correr, a tonificação muscular e a mobilidade são as duas componentes mais trabalhadas nesta aula.
“Não se trabalha tanto a resistência cardiovascular. É mais vocacionada para a tonificação e aumento de massa muscular. Mas exige muita concentração e muito foco para usar os músculos certos, tanto que os movimentos são mais lentos, com uma cadência mais baixa e mais calma.”
Tudo começa com o aquecimento, que recorre à técnica de barra de chão, “que é como se fosse o treino das bailarinas, mas adaptado: tem muita flexibilidade, muito equilíbrio e força em alguns movimentos”, explica a instrutora. Agachamentos fundos com torções, movimentos do ioga, posições de equilíbrio, semelhantes aos do ballet. “Isto vai ser canja”, pensámos.
O universo riu-se de nós. Dez minutos depois, eis que somos esbofeteados dez vezes seguidas pela realidade. Nada do que se seguiu foi canja. Os músculos queimaram, os membros foram desafiados a executar movimentos que não se veem noutras modalidades e o corpo teve de estar em posições a que não está habituado. Entrámos na segunda etapa, a parte dos movimentos calisténicos: acontecem só com o peso do próprio corpo e “envolvem muita resistência muscular e muita força.”
Em que é que isto consiste? Vamos a exemplos. Durante um minuto, percorremos o estúdio, em fila, para trás e para a frente, em posição de agachamento fundo, de pernas afastadas, a saltar. Melhor: mais 60 segundos para trás e para a frente, tendo como base a posição de agachamento, esticando cada perna para dar os respetivos passos.
Terceira parte. A proximidade do chão aumenta. Somos oficialmente macacos. E a vida não é fácil, exceto para a instrutora que faz tudo sem vestígios de dificuldade, o que nos ilude porque durante um segundo acreditamos que também nós seremos tão harmoniosos. Entrámos na etapa inspirada no animal flow, “que envolve mobilidade, mas que também flexibilidade, força e cardio”, explica a instrutora. "É pensado para sermos funcionais e ativos no dia a dia, para conseguirmos, por exemplo, estar de cócoras sem desconforto.”
Aqui a base de todos os exercícios parte da posição de prancha, só que numa versão muito diferente. Basta pensar na forma como um macaco se move. Estamos sempre de cócoras, seja em quatro ou dois apoios no chão. As mãos no tatami, os joelhos dobrados, a uma distância muito pequena do solo, os pés apoiados apenas nas pontas e abaixo das cristas ilíacas. O abdominal está sempre contraído e é a partir daqui que se executam uma série de movimentos, reinventados, por partirem desta base. O mais difícil são as flexões, em posição estática ou em dinâmica, porque se exige mais força, concentração e consciência corporal.
Se procura definir o corpo, esta modalidade é uma boa opção. E traz um extra: com o tempo, sentir-se-á mais ágil e com mais destreza. “Em geral, esta aula desenvolve todos os músculos. Hoje foi mais tricípite, abdominal e perna. Noutro dia poderá ser mais peito, abdominal e perna. Depende da aula”, explica a PT. “Ainda estamos a conhecer a turma e a testar exercícios diferentes. No futuro estamos a pensar em criar objetivos de duas semanas ou um mês.”
De acordo com a instrutora, que também dá aula de power pilates e de spinning, é urgente fazer este trabalho de mobilidade, flexibilidade e alongamento. “Vemos pessoas a quem já lhes custa levantarem-se do sofá. Passamos muito tempo sentados à secretária, à frente da televisão, dos computadores, ou no telemóvel. Os músculos vão perdendo a função e levantar e sentar passa a ser difícil aos 50 ou 60 anos, quando só devia acontecer aos 80 ou 90”, diz. “É fundamental complementar um treino de resistência ou cardio com a componente mais de mobilidade, flexibilidade e alongamento. “