É preciso muito mais do que amor, predisposição e paciência para avançar com a decisão de adotar um cão. Pensamos na raça, aparência, nome ou até nos brinquedos e esquecemo-nos de verificar se temos as condições necessárias para incluir um animal de estimação no nosso quotidiano. Para que não lhe falte nada, a MAGG fez-lhe o trabalho de casa e reuniu tudo aquilo que precisa de saber antes e depois de adotar um cão.

Do cabeleireiro ao hotel, 5 sítios em Lisboa (e não só) onde o seu cão será sempre bem recebido
Do cabeleireiro ao hotel, 5 sítios em Lisboa (e não só) onde o seu cão será sempre bem recebido
Ver artigo

De qual a melhor ração às consequências de uma alimentação nutricionalmente errada, passando pelo dinheiro que pode contar gostar com o seu cão ao longo de um ano (e não só), o veterinário André Santos, especialista em medicina interna, no Hospital Veterinário do Restelo, passa a explicar.

"É um bocado utópico pensar em raças, quando decidimos adotar um cão"

André Santos conta que procurar um cão de raça pura para adoção é um erro comum e, muitas vezes, pouco ponderado. “É um bocado utópico pensar em raças, quando decidimos adotar um cão. Há muita gente que me liga a dizer, 'Quero adotar um Labrador’ ou ‘Quero adotar um Jack Russel’ e é muito difícil encontrar um cão de raça pura para adotar – a não ser, claro, que tenha sofrido maus tratos, por exemplo", diz.

"Por isso, geralmente, quando encontramos cães de raça para adoção, apercebemo-nos de que têm algum tipo de transtorno comportamental. É sempre complexo. Quando decidimos adotar, mais do que tentar optar por uma raça em concreto, é preferível pensarmos se queremos um cão de porte pequeno, médio ou grande. E, claro, se queremos um cão bebé, um cão já com um ou dois meses, ou, se por outro lado, queremos um animal mais velho. Estes são os pressupostos mais importantes quando adotamos”, completa.

André Santos defende que a educação prevalece sempre, mas admite que não podemos descartar a tendência de algumas raças a ter um ascendente comportamental diferente de outras – que têm que ver "com hiperatividade, necessidade de gasto de energia". O especialista avança que, apesar de ser possível especular e tentar antecipar a tendência comportamental de um cão, como base na raça e descendência, nunca é um processo certo.

Há vários factores que podem influenciar o comportamento de um animal, sendo que traumas prévias e educação são duas premissas cruciais.

Primeira consulta (e não só)

Um dos maiores erros que vários donos "caloiros" tendem a cometer passa por levar o cão ao veterinário no próprio dia em que o adotam, avança o especialista. Se o animal estiver relativamente bem, sem vómitos ou diarreia, os donos só devem consultar um veterinário uma semana depois do dia da adoção – isto para o cão cumprir o "período de quarentena", esclarece André Santos.

O médico veterinário é o melhor amigo (da saúde) do cão
O médico veterinário é o melhor amigo (da saúde) do cão
Ver artigo

"Só posso vacinar um cão de que não conheço o historial, uma semana depois da saída do canil e/ou associação e, por isso, uma semana depois de estar com os donos, de forma a que seja possível detetar se há algum tipo de anomalia no comportamento do cão, como os tais vómitos ou diarreia", justifica.

Depois de terminado o período de quarentena, geralmente uma semana depois, dá-se então início ao processo de vacinação e desparasitação. O especialista explica que a conversa "o meu cão não tem boletim, porque foi adotado", na verdade, "não interessa". André Santos esclarece que, quando o cão ainda não tem um boletim de vacinas, basta criar um novo, fazer a vacina da raiva e as restantes vacinas base e, claro, a desparasitação. A partir daí, está resolvido.

No que a períodos de tempo diz respeito, o veterinário explica que, se estivermos a falar de um cão adulto, no espaço de três semanas "fica tudo tratado" – porque três semanas depois da primeira vacinação, o animal faz o reforço de uma das vacinas e fica despachado. Relativamente a cães bebés, o período pode variar, dependendo essencialmente da idade mínima para receber certas vacinas.

André Santos, especialista em medicina interna, no Hospital Veterinário do Restelo
André Santos, especialista em medicina interna, no Hospital Veterinário do Restelo créditos: Instagram

“De quanto dinheiro preciso para adotar e cuidar de um cão?”

Segundo o veterinário André Santos, depende essencialmente do tipo de ração que come, do porte e, ainda, da idade do animal. Sem esquecer, claro, as visitas recomendadas ao veterinário e o tipo de serviços que serão administrados. Os valores que se seguem são meras especulações, que variam de caso para caso, e que têm por base apenas as vacinais básicas (que variam entre 100 e 150 euros). Partindo, ainda, do pressuposto de que os donos vão seguir os conselhos de André Santos no que à ração ideal diz respeito.

De acordo com o especialista, um cão pequeno – até aos 10 quilos, mais ou menos – personifica despesas que rondam, em média, 400 a 600 euros por ano. Sem contar com o processo de castração ou esterilização, que acresce entre 250 a 400 euros ao valor base, dependendo do sexo do animal. Mas já lá vamos.

Por outro lado, um cão de porte médio deve personificar uma despesa anual de cerca de 700 a 900 euros. Isto porque os desparasitantes variam consoante o peso do animal. E, por isso, um cão de maior porte torna-se automaticamente mais dispendioso. Sem falar, claro, da quantidade de ração que consome.

“A ração acaba por encarecer. Neste caso, se uma saca de 20 quilos de ração custar 60 euros, um cão de 20 quilos come uma saca dessas em cerca de três meses, por exemplo. Portanto, dá mais ou menos 250 euros de ração”, avança.

Rebel Café. Há um novo spot em Lisboa para comer e trabalhar — e é pet friendly
Rebel Café. Há um novo spot em Lisboa para comer e trabalhar — e é pet friendly
Ver artigo

As melhores e piores marcas –  e a importância da ração

Com a ressalva de que a ração personifica uma grande fatia das despesas geradas pelo seu cão, o veterinário salienta a importância de uma alimentação de qualidade, "que não passa por uma pedigree, por exemplo, e muito menos aquelas de marca branca, que encontramos nos supermercados" – acrescentando que essas rações "muito baratas" influenciam a saúde e, a longo prazo, "os animais tendencialmente acabam por revelar problemas de saúde”.

Em termos de alimentação, o ideal seria que o animal contasse com comida cozinhada por nós, mas temos de ter noção de que 95% das pessoas não tem tempo para o fazer, explica André Santos. “E, nestes casos, é importante perceber que esta comida ‘de tacho’ não é igual à comida dos donos – porque leva condimentos e isso, sim, faz mal ao animal”.

Se tem tempo e quer cozinhar para o seu cão, o ideal é marcar uma consulta de nutrição [que geralmente ronda os 30€ e não padece de visitas regulares]. "Não podemos alimentar o nosso cão com arroz e frango para o resto da vida, porque a falta de nutrientes seria prejudicial", completa.

Neste sentido, são recomendados alimentos como batata doce, carne de pato, massa ou arroz, que, quando conjugados de forma correta, permitem fornecer ao animal a dose certa de macro e micronutrientes.

“Se já para nós é complicado arranjar tempo para cozinhar, sabemos que fazer um tacho à parte para o nosso cão pode não ser viável e não faz mal. As rações de veterinário, por exemplo, são estudadas ao pormenor. Os granulados destas rações de qualidade têm tudo aquilo de que os cães precisam, em termos de nutrientes. E, claro, há rações adaptadas às necessidades dos cães – como prevenir problemas renais, por exemplo.

Não, não faz (assim tão) mal comer o mesmo todos os dias

“Se comerem sempre a ração, estão constantemente a comer o mesmo”. André Santos explica que o palato dos cães não é como o nosso. Nós priorizamos muito o sabor, mas os cães não. Para estes animais, o que importa é a textura e o cheiro. Claro que podem enjoar a comida, mas não da mesma forma do que os donos, por isso é muito mais fácil comerem o mesmo todos os dias, sendo que "não lhes causa grande transtorno”.

"Gosto muito de ração seca de veterinário, nomeadamente a Purina ou Real Canin. Estou a falar, portanto, de uma ração seca de qualidade – que não passa por uma pedigree, por exemplo, e muito menos daquelas de marca branca, que encontramos nos supermercados. Essas rações muito baratas influenciam a saúde e esses animais tendencialmente acabam por revelar problemas de saúde.”

"O que é que posso fazer para prevenir doenças no meu animal?”

“Doutor, já fiz as vacinas todas que me aconselhou, o que é que posso fazer para prevenir doenças no meu animal?”. Face a esta questão, André Santos explica que o segredo passa por premissas distintas: ração, desparasitação, vacinação e, claro, conexão com os donos. Sendo que a última premissa é efetivamente importante, embora muitas vezes não tenhamos noção das repercussões que a falta de atenção pode ter num animal.

Neste sentido, o especialista explica que o tempo é crucial e avança quais são os "mínimos olímpicos" para garantir uma vida saudável (e feliz) ao seu animal. Neste caso, estamos a falar de dois passeios por dia, de 15 minutos, na pior das hipóteses. Sendo que, se for de um cão que necessite de gastar mais energia, idealmente precisaria de três ou quatro passeios diários.

Atenção aos valores da castração

Acho pouco ético avançar um valor para a castração, por exemplo, sabendo perfeitamente que tudo o que a operação implica vai encarecer o processo. Não é correto dizer só o preço da cirurgia, se depois o animal precisa de muitas outras coisas”, remata André Santos, acrescentando que, antes de assumir que uma castração ou esterilização é "demasiado cara", é preciso perceber tudo aquilo que esta implica.

De acordo com o especialista, é preciso perceber o que justifica o valor total do procedimento. Uma castração de um cão macho ronda os 250 euros – já com consulta, análises, anestesia, pós-cirúrgico, body e, ainda, medicação. Isto, claro, quando o veterinário cumpre todos os procedimentos corretos que antecedem uma castração.

Se, por outro, estivermos a falar de um processo de esterilização, depende muito do peso da fêmea. Varia dos 200 aos 400 euros, dependendo se é de porte pequeno, médio ou grande. A operação de uma fêmea é sempre mais dispendiosa do que a de um macho, porque o procedimento também é mais complexo. No entanto, André Santos ressalva que, dependendo da idade, há cães que já saem do canil ou da associação de acolhimento com o processo de castração ou esterilização concluído e, por isso, este valor pode não se aplicar a todos os processos de adoção. 

André Santos é especialista em medicina interna, no Hospital Veterinário do Restelo, e pode acompanhar o trabalho que desenvolve, através da sua conta de Instagram ou, ainda, na rede social TikTok, onde já conta com 392 mil seguidores.