Narges Mohammadi, ativista e vice-presidente do Centro de Defensores dos Direitos Humanos, uma organização não governamental fundada por Shirin Ebadi, foi destacada pelo Comité Nobel Norueguês "pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e pela sua luta para promover os direitos humanos e da liberdade para todos". A jornalista ganhou o Nobel da Paz esta sexta-feira, 6 de outubro, que foi introduzido com o seu slogan.
“Mulher, Vida, Liberdade” mobilizou milhares de manifestantes no Irão após a morte da jovem curda Mahsa Amini, sob custódia policial, por utilização incorreta do véu islâmico. “Ao distingui-la, o comité Nobel deseja homenageá-la pela luta corajosa pelos direitos humanos, liberdade e democracia”, vincou Berit Reiss-Andersen, a presidente do comité Nobel, citada no “Observador”.
Narges Mohammadi, de 51 anos, é uma ativista iraniana que se juntou à pequena lista de mulheres a serem distinguidas com o Prémio Nobel da Paz, e está presa atualmente. Com a entrega do prémio, apela-se à libertação desta. "Nós e outros parceiros do sistema de direitos humanos da ONU temos apelado repetidamente à sua libertação", disse o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos à "Reuters". Desconhecida por muitos, conheça algumas curiosidades sobre a vida da ativista.
1. Narges Mohammadi está presa
A ativista e defensora dos Direitos Humanos encontra-se na prisão de Evin, em Teerão, mesmo enquanto foi anunciada como a vencedora do prémio. No total, o regime do Irão já deteve Narges Mohammadi 12 vezes no passado, sendo esta a 13º. Condenada por cinco vezes e sentenciada a um total de 31 anos e 154 chicotadas, está neste momento a cumprir várias penas que dão um total de 12 anos e não tem direito a visitas, revela o "g1".
A jornalista de 51 anos é acusada de difusão de propaganda contra o Estado, e foi condenada pela sua campanha incansável contra a pena de morte e a defesa dos direitos humanos no país. Como também era contra o confinamento solitário, o regime fê-la passar por isso durante semanas.
Como se encontra presa, a questão por muitos levantada é como é que a ativista receberá o prémio no dia 10 de dezembro, dia estipulado a homenagear o dia da morte de Alfred Nobel. Berit Reiss-Andersen esclareceu que espera que Narges seja libertada pelo regime iraniano, mas, se isso não acontecer, o comité disse apenas que tem “uns meses para planear” a maneira como é que vai entregar o galardão.
2. Estudou Física, mas acabou por ser jornalista
Narges Mohammadi estudou Física na Universidade de Qazvin, no Irão, e envolveu-se em vários movimentos estudantis, tendo fundado o grupo político juvenil Tashakkol Daaneshjooei Roshangaraan e sido detida em duas reuniões de um grupo político de estudantes. Tornou-se engenheira, mas perdeu esse poder em 2009, na sequência de uma sentença de prisão, segundo o "Mint".
Simultaneamente começou a fazer jornalismo, trabalhando para jornais reformistas. A mulher publicava artigos de opinião na imprensa e fez campanha a favor da abolição da pena de morte, dos direitos das mulheres e do direito de protesto.
A ativista foi jornalista na revista iraniana Payam-e Haajarkm, que mais tarde foi proíbida, sendo esta uma publicação histórica que analisou e debateu os direitos das mulheres, a igualdade e o papel destas na Revolução Islâmica.
3. Para além de jornalista, é escritora
Os seus feitos e as suas batalhas no mundo do ativismo ajudaram Narges Mohammadi a explorar o mundo da escrita. A ativista escreveu o livro “White Torture”, onde Narges denuncia as condições de vida dos prisioneiros, principalmente os que vivem em isolamento, e fala sobre os abusos que ela própria diz ter sofrido e conta a experiência de 12 outras reclusas.
"White Torture: Interviews with Iranian Women Prisoners" ganhou um prémio de reportagem no Festival Internacional de Cinema e no Fórum dos Direitos Humanos.
Ao longo dos anos, escreveu também muitos artigos em defesa das reformas sociais no Irão e publicou o livro com os seus ensaios políticos "The Reforms, the Strategy, and the Tactics".
4. Narges não vê o marido e os filhos há 8 anos
Narges não vê os filhos gémeos, Kiana e Ali, de 17 anos, e o marido, Taghi Rahmani, há mais de oito anos. “Não vejo Kiana e Ali há mais de oito anos, e há mais de um ano e meio que nem sequer ouço a voz deles. É uma dor insuportável e indescritível”, afirmou à "AFP" em setembro deste ano.
Os filhos e o marido moram atualmente em Paris, França. “Em 24 anos de casamento, tivemos apenas cinco ou seis de vida comum”, contou Taghi Rahmani à "AFP", recentemente. Contudo, o marido considera-a “a pessoa mais determinada” que conhece, já que “nunca se entregou” e “não conseguem quebrá-la”, conforme escreve o “Exame”.
Narges Mohammadi e Taghi Rahmani, também ativista, casaram-se em 1999, pouco antes deste ter sido detido pela primeira vez. O homem mudou-se para outro país após 14 anos de prisão no Irão, enquanto a mulher permaneceu no país para continuar o seu trabalho.
5. Ativista é vice-presidente de uma organização já premiada
Narges juntou-se ao Centro de Defensores dos Direitos Humanos, uma organização não governamental fundada por Shirin Ebadi, a primeira mulher do mundo islâmico e advogada a receber o prémio Nobel da Paz, em 2003, tornando-se vice-presidente da mesma.
O grupo é membro da Federação Internacional dos Direitos Humanos e foi galardoado com o Prémio dos Direitos Humanos 2003 da Comissão Nacional dos Direitos Humanos francesa.
Em 2010, quando Shirin Ebadi ganhou o prémio Felix Ermacora Human Rights Award, dedicou-o a Narges. "Esta mulher corajosa merece esta prémio mais do que eu", disse.
6. Narges é a 19ª mulher a ganhar o Nobel da Paz
Nerges Mohammadi é a 19ª mulher a ganhar o Prémio Nobel da Paz e, também, a segunda mulher iraniana a conquistá-lo, depois da ativista dos direitos humanos Shirin Ebadi, em 2003.
Além disso, é a quinta vez nos 122 anos de história que o prémio Nobel da Paz é atribuído a alguém que se encontra na prisão ou em prisão domiciliária.
7. Já foi considerada uma das 100 mulheres mais inspiradoras do mundo
Em 2022, Narges Mohammadi foi integrada na lista das 100 mulheres mais inspiradoras do mundo pela BBC. A lista foi publicada a 6 de dezembro desse ano e incluía outras mulheres como a cantora Billie Eilish, a atriz Priyanka Chopra Jonas, a primeira-dama ucraniana Olena Zelenska, a desportista Elnaz Rekabi, a defensora dos recursos humanos Lina Abu Akleh ou a atriz Selma Blair.
"Embora se tenham registado enormes progressos em matéria de direitos das mulheres - desde o número de líderes femininas até ao movimento MeToo - para as mulheres de muitos cantos do mundo ainda há um longo caminho a percorrer. A lista também reflete o papel das mulheres no centro dos conflitos em todo o mundo em 2022 - desde as manifestantes que corajosamente exigem mudanças no Irão, até aos rostos femininos do conflito e da resistência na Ucrânia e na Rússia", escreveram ao anunciar as mulheres que pertenciam à lista do ano passado.
8. Narges já recebeu vários prémios ao longo da carreira
A ativista recebeu vários prémios ao longo dos anos. Em 2009, recebeu o Alexander Langer Award, com um valor de 10 mil euros, em 2011 venceu o Per Anger Prize, o prémio internacional do governo sueco para os direitos humanos, em 2016 ganhou o Weimar Human Rights Award e, dois anos depois, o Andrei Sakharov Prize da Sociedade Americana de Física.
Este ano, Narges já conta com várias distinções também. Venceu o Olof Palme Prize da Fundação Sueca Olof Palme, em conjunto com Marta Chumalo e Eren Keskin, o PEN/Barbey Freedom to Write Award da PEN America e o Prémio Mundial da Liberdade de Imprensa UNESCO/Guillermo Cano. Agora, junta a esta lista o Nobel da Paz.