Os automóveis híbridos plug-in (também conhecidos como PHEV, na sigla inglesa) emitem tanto ou mais dióxido de carbono que os carros convencionais. O alerta vem da ZERO — Associação Sistema Terrestre Sustentável, que divulgou esta segunda-feira, 23 de novembro, em comunicado de imprensa, resultados de um novo estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E), que comprova que os híbridos são PHEV "de fachada".
A venda destes automóveis, vistos como amigos do ambiente, tem vindo a crescer em Portugal, canibalizando as vendas dos carros elétricos. De acordo com dados do mês de outubro deste ano, os PHEV representaram 70% do mercado português de elétricos. "Os fabricantes precisam de vender automóveis com baixas emissões de CO2 para cumprir os limites que entraram em vigor na União Europeia (UE) no início de 2020", salienta a ZERO em comunicado enviado às redações.
Para comprovar as baixas emissões de dióxido de carbono destas viaturas, o estudo referido pela associação testou, "em condições reais de utilização, três dos PHEV mais vendidos em 2019 na Europa". Falamos do BMW X5 (o PHEV disponível no mercado com maior autonomia), um Volvo XC60 e um Mitsubishi Outlander.
Depois de analisados os resultados, a investigação da Federação Europeia de Transportes e Ambiente concluiu que, mesmo quando os veículos são utilizados da forma mais moderada possível e com as baterias totalmente carregadas — condições ótimas —, as emissões de CO2 são 28% a 89% superiores às contabilizadas nos testes.
"Se forem utilizados em modo convencional, ou seja, usando exclusivamente o motor a combustão, estes carros emitem três a oito vezes mais CO2 que aquilo que os testes indicam. Se adicionalmente o motor a combustão for utilizado para carregar as baterias – algo frequente antes de os condutores entrarem em zonas urbanas de emissões reduzidas – as emissões, de CO2 e em geral de poluentes com efeitos nocivos diretos na saúde, vão até 12 vezes acima das anunciadas oficialmente", revelam os resultados do estudo.
Já no caso da autonomia em modo 100% elétrico com a bateria completamente carregada no início da viagem, "o que com frequência não acontece", e com utilização de autoestradas, acelerações maiores, e transporte de passageiros, "esta é até 75% inferior ao publicitado". Ou seja, no caso mais baixo, a autonomia corresponde apenas a 11 quilómetros.
Durante a realização do estudo, os investigadores verificaram que, na prática, o recurso ao motor a combustão é constante. "Estes automóveis só cumprem o anunciado nos catálogos em viagens muito curtas; por exemplo, numa viagem de 100 quilómetros, emitem até cerca de duas vezes mais do que o valor oficial", revelam os resultados, anunciados pela ZERO.
"Na maior parte dos casos, as emissões oficiais dos PHEV são inferiores a 50 gCO2/km, o valor que permite aos fabricantes tirar partido do mecanismo europeu dos super-créditos com estes automóveis, o qual lhes dá atualmente um peso duplo para efeito de apuramento da média da frota. O problema na regulamentação dos testes está na suposição excessivamente otimista da parcela de utilização em modo elétrico, ou seja, o fator de utilização elétrica, resultando em valores de CO2 irrealisticamente baixos. Se os testes previssem um fator de utilização elétrica real, tanto de utilização privada como empresarial, estes veículos apresentariam valores oficiais 50-230% superiores aos atualmente em vigor", pode ler-se no comunicado.
Apesar de serem amigos do ambiente apenas no "papel", estes veículos têm benefícios fiscais
Vistos pelos governos como “amigos do ambiente”, os compradores deste tipo de veículos beneficiam de largos incentivos fiscais, quer no Imposto Sobre Veículos (ISV), quer no Imposto Único de Circulação (IUC), quer no IVA e tributação autónoma (no caso de empresas).
De acordo com dados da ZERO, em Portugal, é possível que os PHEV estejam a ser "indevidamente apoiados com subsídios que deverão ascender em 2020 a mais de 43 milhões de euros". "Trata-se de um valor que está a ser desbaratado no apoio a uma tecnologia poluente e que por isso, recomenda a ZERO, deve ser canalizado sem demora para tecnologias verdadeiramente verdes", salienta a associação.
Face a estes novos dados, a ZERO apela a que os benefícios estatais atribuídos aos PHEV sob a forma de ajudas fiscais sejam progressivamente eliminados, "reservando-os para automóveis 100% elétricos". Na fase transitória, a associação ambientalista recomenda que sejam comprovadas um conjunto de condições para estes automóveis acederem a subsídios.
"Uma autonomia em modo elétrico mínima de 60 km; acesso comprovado a pontos de carregamento, ou em casa ou no trabalho", são algumas das condições. Ao mesmo tempo, a ZERO entende que "o apoio a estes carros deve diminuir: atualmente beneficiam de um desconto de 75% no ISV, que deverá baixar para os 25%; as empresas só deverão poder rebater metade do IVA, ao invés da totalidade".
"Os PHEV só serão uma tecnologia compatível com os desígnios ambientais da Europa e de Portugal em matéria de emissões de CO2 quando proporcionarem uma real autonomia em modo elétrico muito superior à atual, e quando a sua utilização em modo elétrico exclusivo, sem recurso ao motor de combustão, se possa fazer em reais condições de utilização", alerta a associação.