Cães e gatos podem ficar infetados com COVID-19 ao estar em contacto com um humano que tenha o vírus e ambos reagem de formas diferentes, de acordo com um estudo português publicado esta quarta-feira, 2 de fevereiro, na revista "Microorganisms".
O estudo contou com um total de 217 animais de estimação (148 cães e 67 gatos) de cinco distritos portugueses — Lisboa, Porto, Braga, Aveiro e Coimbra — e através desta análise foi possível perceber não só que o vírus é transmissível para os animais, como que os gatos são mais vulneráveis ao vírus, enquanto os cães conseguem transmitir cargas mais altas do SARS-CoV-2.
"Todos os outros estudos mostraram que a carga viral era baixa, nós mostramos que é alta”, disse Isabel Fidalgo-Carvalho, uma das autoras do estudo e investigadora no Centro Investigação Vasco da Gama, da Escola Universitária Vasco da Gama, em Coimbra, à CNN Portugal.
Contudo, a investigadora alerta que "o foco aqui é proteger os animais" e os donos não devem ficar assustados ou abandoná-los, porque nós somos o verdadeiro risco. O passo seguinte é perceber como é que atua o vírus e se pode criar novas variantes nos animais.
Uma das principais conclusões do estudo é que a COVID-19 é agora uma zoonose reversa, ou seja, começou em animais e passou para humanos e agora passa de pessoas para animais, em particular os domésticos analisados no estudo. "Com o contacto que temos próximo com os animais, há o risco de os infetar", alerta a investigadora e acrescenta que o contrário não está provado.
Sobre a necessidade de isolar os animais em caso de o dono estar infetado, a especialista defende que este não deve ser o procedimento a adotar porque “pode causar stresse” e, no caso dos gatos, até piorar o desenvolvimento da doença. A solução é então "usar as medidas como se usa com as pessoas, como a máscara”, o distanciamento (ainda que reconheça que não seja fácil quando se trata de animais domésticos) e testar — método que o estudo revelou ser de extrema importância.
“A testagem de cães e gatos pode ser importante não só para garantir a saúde do animal e prevenir a evolução/adaptação viral nos animais de estimação, mas também para avaliar melhor os fatores de risco do potencial estabelecimento de reservatórios animais e/ou potencial contaminação ambiental com SARS-CoV-2", pode ler-se no estudo.
O trabalho cientifico português — com autoria de Ricardo Barroso, Alexandre Vieira-Pires, Agostinho Antunes e Isabel Fidalgo-Carvalho — não vai ficar por aqui e um dos próximos fatores a analisar é "a carga viral dos animais com a Ómicron”.