Um grupo de 18 cães participou num estudo cujo objetivo era perceber se os animais conseguem reconhecer diferentes línguas e detetar quando alguém profere um discurso sem nexo. E os resultados foram surpreendentes: uma vez analisada a atividade cerebral, os investigadores perceberam que a atividade no córtex era diferente conforme os estímulos apresentados.

“Esta é a primeira espécie não-primata em que conseguimos demonstrar uma capacidade linguística espontânea — é a primeira vez que conseguimos localizá-la e ver onde esta combinação de duas línguas ocorre no cérebro”, disse a principal responsável pela investigação, Attila Andics, chefe do Departamento de Etologia (que se dedica ao estudo dos animais) da Universidade Eötvös Loránd em Budapeste, Hungria, segundo a CNN.

A ideia surgiu quando outra das investigadoras, a neuroetologista Laura Cuaya, mudou-se com o seu cão, o border collie Kun-kun, do México para Budapeste, na Hungria, e questionou-se se ele perceberia a língua do novo país, o húngaro.

Lei com 30 anos sobre "cães perigosos" está a levar ao abatimento massivo "desnecessariamente"
Lei com 30 anos sobre "cães perigosos" está a levar ao abatimento massivo "desnecessariamente"
Ver artigo

Para proceder ao estudo, no qual participou Kun-kun, assim como outros cães com idades compreendidas entre 3 e 11 anos, foi usada uma máquina de ressonância magnética funcional (fMRI) que andava à volta da cabeça dos animais — que podiam "deixar a máquina a qualquer altura”, frisou Laura Cuaya —, e enquanto os cães estavam deitados iam ouvindo a famosa história d' "O Principezinho" ora em húngaro, ora em espanhol. Por vezes eram ainda introduzidas algumas palavras sem sentido. 

O resultado foi verificado através das imagens da ressonância, que demonstraram que quando os cães eram expostos a diferentes idiomas o córtex auditivo secundário (área completamente diferente e mais complexa do cérebro) iluminava-se, e que quando se tratava de palavras sem sentido era o córtex auditivo primário que registava diferentes padrões de atividade.

Isto significa que "durante a convivência com humanos, os cães aprendem as regularidades da língua a que são expostos”, concluiu o coautor Raúl Hernández-Pérez, investigador em pós-doutoramento no Departamento de Investigação Animal na Universidade Eötvös Loránd. Situação semelhante acontece com as crianças, que de forma inata conseguem detetar diferentes idiomas e estão mais predispostas para aprender.