Ninguém percebeu muito bem porque é que Cristiano Ronaldo havia ficado de fora da convocatória para o jogo de domingo, 13 de novembro, entre o United e o Fulham, mas quando à noite foi anunciada uma entrevista explosiva do internacional português a Piers Morgan foi fácil ligar os dois pontos: o clube já estaria na posse da informação de que CR7 iria dar, nessa noite, a entrevista em que arrasava por completo o clube, treinador, dirigentes, ex-treinadores. Depois do que Ronaldo disse a porta à sua continuidade em Manchester fechou-se. Provavelmente para se abrirem as de Alvalade, e já em janeiro.
Toda a verdade
A razão para ter falado agora é, para Ronaldo, só uma. "Os adeptos devem saber a verdade", explicou. "Quero o melhor para o clube. Foi por isso que vim para o Manchester United". Mas o regresso foi um choque, porque encontrou um clube parado no tempo. "Temos algumas coisas dentro do clube que não nos deixam atingir um nível alto como têm hoje o City, Liverpool e agora até o Arsenal", criticou Ronaldo. "Um clube com esta dimensão deveria estar no topo, e não está, infelizmente".
A solução, diz Ronaldo, é "destruir para reconstruir". "Como Picasso uma vez disse, é preciso destruir para reconstruir". Isto, porque os adeptos merecem. "Amo o Manchester United e os adeptos, que estiveram sempre do meu lado. Mas se eles querem algo de diferente para o clube têm de saber que é preciso mudar muitas, muitas coisas".
O apoio de Alex Ferguson
CR7 garante que esta não é apenas a sua opinião, mas também a de Sir Alex Ferguson. "Ele sabe melhor do que ninguém que o clube não está no caminho em que deveria estar. Sabe ele e sabe toda a gente". Foi o primeiro treinador que Ronaldo teve no United que acabou por ser decisivo na sua decisão de regressar e de não assinar pelo rival City. "Ele disse-me: 'É impossível que vás para o Manchester City'. E eu disse: 'OK, boss'". Para Ronaldo, "desde que Sir Alex Ferguson deixou o clube" não existe "qualquer tipo de evolução" e "a progressão foi zero". "Nada mudou, a piscina, o jacuzzi, nem sequer o ginásio. E em termos tecnológicos também não mudou nada". As críticas vão até setores do clube como a cozinha. "Até o chefs, de que eu realmente gosto e aprecio, pararam no tempo e isso surpreende-me". Ronaldo não esperava encontrar este cenário. "Isso tudo apanhou-me de surpresa, porque esperava ver coisas diferentes, sobretudo em termos de infraestruturas, em termos tecnológicos. Mas infelizmente continuo a ver coisas que eu já via quando tinha 23, 24 anos".
Falta de respeito pelo treinador
Um dos principais visados por Cristiano foi o atual treinador, Erik Ten Hag. "Não tenho respeito por ele porque ele não me respeita. E se ele não tem respeito por mim, eu nunca irei ter respeito por ele". Para Ronaldo, o objetivo deste comportamento do treinador é só um: "Estão a tentar mandar-me embora. Não só o treinador, mas também dois ou três diretores. Não sei se estão a querer ver-se livres de mim, mas sinto-me traído e sinto que não me querem aqui desde o ano passado". Mas já no ano passado as coisas correram mal, depois de o clube ter contratado um treinador, Ralf Rangnick, que Ronaldo diz que "não é um treinador" e ele "nem sabia quem era". "Como é que um clube como o Manchester United teve de demitir Ole [Solskjaer] e depois traz um diretor desportivo, o Ralf Rangnick? Ninguém consegue compreender. Esse senhor não é sequer um treinador".
A morte do bebé
Um dos períodos mais duros da vida de Ronaldo aconteceu o ano passado, quando um seus dos bebés gémeos acabou por morrer no parto. E nem aí o jogador sentiu apoio do clube, ao contrário do que aconteceu com os adeptos. Inclusive dos adversários. No jogo seguinte a esta tragédia pessoal, os adeptos do Liverpool, o principal rival do United, levantaram-se e aplaudiram Ronaldo de pé ao minuto 7 do jogo. "Nunca esperei ver isso", garantiu Ronaldo.
"Foi o período mais difícil da minha carreira, tanto pessoal como profissionalmente". Ronaldo e Georgina receberam na altura uma mensagem de condolências da Família Real, o que emocionou o jogador. Do clube, sentiu apenas "falta de empatia" pelo momento. E essa falta de empatia manifestou-se uns meses depois, quando a filha bebé ficou doente e teve de ser hospitalizada, quando tinha apenas três meses. Ronaldo faltou aos treinos da pré-época para estar com a bebé mas o jogador sente que o clube desconfiou dele e não acreditaram que essa fosse a razão pela qual CR7 não ia treinar. Ronaldo garante que isso o fez sentir-se "mal" e "muito magoado"
O Mundial, Rooney e os adeptos
As últimas críticas ficaram para o ex-colega de equipa Wayne Rooney, também ele uma estrela do United, que constantemente critica Cristiano. "Não sei por que é que ele me critica tanto. Talvez porque ele já acabou a carreira dele e eu continuo a jogar a um nível alto. Mas não vou dizer que sou mais bonito do que ele, o que até seria verdade".
Sem falar sobre o futuro e como poderá resolver-se a situação no United, Ronaldo tem apenas a cabeça na seleção. O objetivo é "ser campeão mundial com Portugal". E depois logo verá o que fazer.
As últimas palavras de Ronaldo são para os adeptos. "Eles são o mais importantes no futebol. Joga-se por eles. E eu sinto que eles estão sempre do meu lado. Sinto que sempre que saio, quando ando nas ruas, os adeptos vêm ter comigo e apreciam o que eu faço pelo futebol. Os adeptos para mim são tudo. Foi por isso que dei esta entrevista, porque penso que é a altura certa para dizer o que penso".