Um estudo realizado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica concluiu que os portugueses continuam a sair quase exclusivamente para compras e trabalho, bem como a evitar transportes públicos e as idas aos hospitais e centros de saúde, avança o jornal "Público".
O estudo teve como base as respostas de 898 portugueses recolhidas entre os dias 6 e 11 de maio, e analisou vários parâmetros, desde o estado mental dos portugueses, à probabilidade de fazer férias fora de residência atual e ainda o que é que consideram que lhes possa vir a acontecer em consequência da pandemia — desde a possibilidade de perder rendimentos até ao divórcio.
O que é facto é que em vários dos fatores verificados, o medo é uma palavra presente. “As pessoas continuam com muito medo da doença e a duvidar que o Serviço Nacional de Saúde consiga tratar todos”, interpreta o director do Cesop, Ricardo Reis, citado pelo mesmo jornal.
Um dos dados analisados indica que, numa escala de zero (nada provável) a 10 (muito provável), os inquiridos atribuem uma probabilidade de infecção na ordem dos 4,6. Já quanto ao medo de perder rendimentos fica nos 3.7, enquanto o receio de perder o emprego fica nos 2,5. De 0 a 10, consideram ainda que a possibilidade de perder um familiar próximo está nos 3,4 e ao risco de divórcio foi atribuído apenas 1.
No que diz respeito ao dia-a-dia, tarefas essenciais, como as compras (63%) e o trabalho (25%), continuam a ser os principais motivos de idas à rua. Outro dos mais fortes é atribuído às idas à farmácia (13%) e o valor mais baixo ficou para a alternativa "levar as crianças a correr" (0,9%).
“É curioso que, quando perguntámos aos inquiridos, onde sentiram mais receio de ir, os transportes públicos, o hospital, o centro de saúde e os supermercados apresentaram os valores mais altos. E o local onde as pessoas disseram sentir-se mais confortáveis foi a farmácia”, revela Ricardo Reis.
Contudo, seja em que sítio for, os inquiridos mostraram que o medo anda com eles, razão pela qual 27% afirmou usar sempre a máscara mesmo quando andam na rua — ainda que estas só sejam de uso obrigatório em transportes públicos ou em espaços fechados, conforme as medidas anunciadas pelo Governo.
E a analise não fica por aqui. O verão está a aproximar-se, bem como a época balnear que começa a 6 de junho, e algumas das questões levantadas na investigação estão relacionadas com a intenção dos portugueses em fazer férias. Dos inquiridos, metade disse que não pretende fazer férias fora de casa, mesmo que isso seja possível, e outros 17% responderam “provavelmente não”.
Já quanto aos que habitualmente passam férias fora da residência habitual (32%) responderam que este ano não o farão, ao passo que apenas 13% deu a certeza de que iria para fora.
"Estávamos habituados a viver a cidade como algo muito expandido e agora as pessoas tenderão a reverter a sua vida para o interior do seu bairro”, diz o o director do Cesop.
No meio de todo este cenário, que dura já há quase três meses desde que o estado de emergência foi implementado em Portugal, a saúde mental dos portugueses parece refletir as consequências do confinamento. Isto porque 28% dos inquiridos dizem sentir-se pior mentalmente do que estavam há um mês, ainda que a maioria (63%) diga que se sente igual.
Um resultado mais otimista é revelado quando na pergunta "durante o mês de abril sentiu-se deprimido de tal modo que nada o conseguiu animar", 51% dos inquiridos disseram "nunca" e apenas uma fatia de 2% respondeu "sempre".