Beyonce, Rihanna e Nicki Minaj são algumas das estrelas que inspiram pessoas de todo o mundo, incluindo mulheres de pele escura (sobretudo negras e indianas) que têm recorrido a cosméticos branqueadores de pele para aproximarem-se dos "ideais de beleza" dos europeus. O problema, além do estigma, é que alguns produtos contêm substâncias perigosas e estão a ser vendidos em Lisboa.

Martim Moniz, Avenida Almirante Reis, Intendente e Anjos foram algumas das zonas que duas antropólogas, Chiara Pussetti e Isabel Pires, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) de Lisboa, encontraram cosméticos com substâncias como a hidroquinona, que aumenta o risco de cancro, à boleia de uma investigação no âmbito do projeto Excel, que analisa a busca pela excelência corporal, em vários aspetos, avança a CNN Portugal.

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Os produtos encontrados estão proibidos pela legislação europeia de regulamentação de cosméticos devido às altas concentrações de substâncias tóxicas, pelo que são vendidos de forma ilegal.

Mas porque é que mesmo assim várias mulheres vão em busca dos mesmos? "Procuram agradar e refletir uma nova imagem de si próprias e uma representação ideal da beleza que não existe", explicou Catherine Tetteh, fundadora da organização Melanin Foundation, citada pelo canal. Esta não é estanque razão e leva a outra: oportunidades de emprego.

"As pessoas são muito pressionadas perante um ideal de beleza que é branco. E sabem que disso depende melhores condições de trabalho, melhores propostas salariais", disse ativista Paula Carvalho, fundadora do projeto Afrolink, à agência Lusa, citada pela "Sábado". De acordo com a mesma, a situação não é nova, mas "preocupante" pelos riscos e pela falta de ação.

"Não considero que o sistema entenda que é preocupante. Se considerasse, já teríamos uma mudança em relação a um problema que não é de agora. Se ele se mantém, é porque não há interesse em defender a saúde das pessoas, essa população, na maioria negra", afirmou.

O risco dos cosméticos branqueadores

Cancro é palavra que surge associada aos cosméticos branqueadores (que se encontram na forma de creme, sabonete e tónico) e que preocupa a Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV) pelo facto de, entre outras substâncias tóxicas, alguns conterem hidroquinona (proibida pelo Regulamento Cosmético Europeu), componente que despigmenta a pele através da diminuição da formação de melanina.

A substância é usada, sim, mas de forma regulada em produtos prescritos por médicos e vendidos em farmácias, com objetivo de minimizar as marcas do acne ou manchas localizadas.

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“Precisamente por ser uma substância eficaz, passou a ser utilizado para branquear a pele, por africanas e asiáticas, que a começaram a utilizar em grande quantidade, em grande área de superfície cutânea”, disse Leonor Girão, responsável pelo grupo português de dermatologia cosmética da SPDV, que desconhecia o uso de cremes branqueadores como cosméticos, citada pelo "Observador".

Ciente de que isso acontece, a dermatologista alerta não só para o potencial cancerígeno, como para a possibilidade de irritação, despigmentação em confete (bolinhas) ou o aparecimento de mais pigmentação.

Apesar de tudo, para Leonor Girão, as autoridades têm feito “um bom trabalho” no controlo da qualidade dos cosméticos, como confirma o Infarmed. “Em colaboração com a Autoridade Tributária e Aduaneira, para cosméticos importados, estes produtos ocasionalmente são detetados em encomendas postais e na bagagem pessoal”, disse em declarações à agência Lusa, citado pela CNN Portugal.