Tudo é feito sem formalismos e são os próprios funcionários da Santa Casa da Misericórdia que vão levantar as receitas e recolher a medicação. A polémica foi revelada este sábado, 17 de setembro, pela RTP, numa reportagem que levanta suspeitas sobre as decisões da Santa Casa da Misericórdia do Alandroal, no Alentejo, que tem como provedora Dulce Gonçalves, que é também sócia-gerente da Farmácia HD Pharma, que detém o exclusivo das vendas para a instituição. Isto, mesmo havendo outra farmácia na zona.
“Não é de todo uma situação aceitável porque na verdade uma pessoa que ocupa esse cargo, se quisesse mostrar alguma isenção na missão que está a desenvolver enquanto provedora, poderia até não ter e fazer questão que não houvesse qualquer ligação com a sua empresa”, acusa Sílvia Bentes, proprietária da segunda farmácia da região, Farmácia Santiago Maior, em declarações à RTP.
Antes da pandemia, a proprietária da Farmácia Santiago Maior tentou discutir presencialmente com Dulce Gonçalves, e fez um requerimento para que a sua Farmácia pudesse, também, fornecer produtos à Santa Casa. Mas a resposta foi a de que “não viam uma mais-valia em ter outra farmácia porque estavam satisfeitos com a farmácia com qual a trabalhavam — e que é a farmácia da provedora da santa casa”.
São os funcionários da Santa Casa que se deslocam à farmácia, algo que a RTP testemunhou enquanto realizava a reportagem, e tratam de toda a medicação. “Quando é medicação prioritária, tratamos na hora, quando é medicação que é para preparar para a semana, que não é prioritária, fica lá e vamos buscar no dia seguinte”, explica um dos funcionários da Santa Casa, de nome Joaquim, ouvido pela RTP.
Uma vez que os pagamentos são feitos pelos próprios familiares da Santa casa e não pela instituição, não há qualquer acordo formal entre a farmácia e os familiares dos utentes. Segundo o advogado Miguel Nogueira Gomes, em entrevista à RTP, "não havendo qualquer parceria afirmada, não há qualquer vínculo e não há nada que possa ser verificado ou escrutinado”.
Apesar de a farmácia da provedora estar localizada no centro da vila alentejana, a menos de 200 metros da Santa Casa, e de a outra farmácia de Sílvia Bentes estar a 24 quilómetros, esse não parece ser um fator decisivo. Isto porque a Santa Casa também gere um lar que fica muito perto da farmácia de Sílvia Bentes, e os medicamentos são sempre comprados na farmácia de Dulce Gonçalves..
A provedora, que é proprietária da farmácia desde 2009, e provedora desde 2014, recusou-se a falar com a RTP “desvalorizando sempre o assunto e garantindo que não beneficia com o cargo”.