A Polícia Judiciária não foi ativada, mas o Ministério Público já estará a investigar a morte em circunstâncias ainda pouco claras de um bebé de apenas 14 meses que terá ocorrido no ano de 2022 no seio de uma seita que vive em Oliveira do Hospital, perto de Coimbra. O Reino do Pienal, como se chama esta comunidade, está instalado nuns terrenos que são propriedade do avançado internacional dinamarquês Pione Sisto, que ainda no ano passado defrontou o Benfica para a pré-eliminatória da Champions e marcou um golo no Estádio da Luz. Nesta seita, da qual fazem parte perto de 40 pessoas, muitas delas crianças, vive-se em regime de poligamia e o líder é pai de diferentes filhos que foi tendo com diferentes mulheres. O bebé que morreu era, também, filho do líder da seita.

Um dos aspetos que levou o Ministério Público a iniciar diligências no sentido de apurar o que se passou com a morte do bebé tem que ver com o facto de não terem sido prestados quaisquer cuidados médicos à criança, revela o "Correio da Manhã" desta quarta-feira, 19 de julho. O bebé chamava-se Samsara, nasceu a 11 de fevereiro de 2021 e terá morrido em março de 2022, supostamente por problemas de saúde. O seu corpo foi depois queimado pela comunidade e as cinzas espalhadas pelos terrenos onde a seita vive. Apesar de doente, a criança nunca foi levada a um hospital ou vista por um médico, o que indicia que poderá haver risco de morte para outras crianças da comunidade, o que poderá levar a uma intervenção da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ). Ainda de acordo com o "CM", o bebé que morreu nunca foi registado mas era filho de Água Akhabl Pinheiro, o líder da seita, e era fruto de uma relação com outra mulher da comunidade, a polaca Shakti.

Embora a quase totalidade dos membros do seita sejam estrangeiros, vive na comunidade uma mulher portuguesa que tem já uma filha de 7 meses, também ela nascida de uma relação com o líder Água Pinheiro. Os avós da criança, pais da mulher que vive na comunidade, já terão mesmo alertado as autoridades para os perigos em que a neta vive e solicitado uma intervenção urgente, já que dentro da seita não há acesso a escola ou cuidados de saúde. A Câmara Municipal de Oliveira do Hospital também já terá solicitado a intervenção da CPCJ, bem como do SEF, no sentido de investigarem o que se passa nesta comunidade, diz ainda o "CM".

De acordo com um artigo da "Visão" na passada semana, o objetivo desta seita é criar "um estado soberano, autossuficiente e ecológico”.

A carta aos portugueses

Esta terça-feira, 18, a comunidade enviou uma carta a várias redações do país em que começa por "agradecer ao povo de Portugal" pela forma como foi acolhida. Na mesma carta, a seita garante que "exerce legalmente" os seus direitos e que está protegida "pela constituição" portuguesa. "Gostaríamos de deixar claro que não somos um movimento político, somos nómadas viajantes com uma vocação espiritual, atualmente a viver na embaixada na soberana República Portuguesa. A nossa intenção não é de perturbar a paz, ou causar confusão e divisão. Estamos aqui a viver em paz, cuidando respeitosamente da terra que atualmente habitamos".

O Reino do Pienal diz que não é "uma ameaça para a República de Portugal, nem para o modo de vida de ninguém", já que não procura "impor" as suas crenças "aos outros". "O modo de vida que escolhemos tem como objetivo restaurar, proteger e preservar os modos de vida orgânicos, naturais, espirituais, culturais e indígenas".